De uns tempos para cá, encontro em
jornal paulista, ou em enquete nacional
- feita pelo Datafolha, ótimo serviço
estatístico (paulista) de aferição das reações de nosso povo, constante que não
pode deixar de perturbar-me.
Que se vá encontrar artigo em The New York Times em que se denigra a
preparação das Olimpíadas no Rio de Janeiro tampouco contraria a assertiva
acima. E por que digo isto? Pela simples
razão de que a matéria - extremamente
negativa no que concerne à participação do Rio de Janeiro, de suas autoridades,
trabalhadores e povo em geral - se foi expressa e distribuída pelo jornalão de New York (dizem até que é o maior do
mundo), esse detalhe entra aí como Pilatos no Credo, eis que quem redigiu o tal
artigo é jornalista brasileira, paulista, que é correspondente do dito Times, e que presumivelmente, por
encomenda sua, escreveu artigo assaz crítico e mesmo negativo em diversos
pontos a respeito do Rio Olímpico.
Tampouco semelha difícil abrir a Folha para que se venha a colher - sem
decerto carecer de muito procurar - pensamentos e opiniões bastante negativos
sobre aspectos vários do evento olímpico no Rio de Janeiro.
Na segunda página da Folha, nas pequenas notas editoriais
assinadas, Bernardo Mello Franco nos fala do 'Desânimo Olímpico'. São
ressaltadas com certo gusto opiniões
extremamente negatívas sobre a Olimpíada no Rio: "Em junho de 2013, um
quarto da população era contra a realização da Olimpíada. Agora o percentual de
insatisfeitos saltou para 50%. Metade dos
entrevistados diz não ter nenhum interesse
pelas competições, e 63% acreditam que o megaevento vai trazer mais
prejuízos do que benefícios para o Brasil."
Mas o jornalão, no seu embalo, já não se cinge
a pontos de vista individuais, e ora acredita
oportuno trazer a questão para o âmbito do Editorial,
que, no espaço nobre da segunda página, é o veículo apropriado para trazer ao
leitor o parecer do diário sobre os problemas do país, do estado e da cidade de
São Paulo. Não quero com isso desmerecer do esforço desse grande órgão
cotidiano, mas não sería preferível para opiniões proferidas em tal nível que
se buscasse dar enfoque menos desequilibrado - o italiano diria sbilanciato - para que não se perca de
vista o objetivo maior, que é o da realização, em ambiente festivo e seguro, de
um grande espetáculo sob o ponto de vista humano? Sabemos de onde vem as
Olimpíadas, e o que elas significam para o Povo helênico.Sua relevância, e quanto os Jogos são mensagem de Paz
naquele microcosmo da Terra e a sacralidade da sua disputa, a ponto de que
viesse a servir como referência, até
mesmo para grandes eventos fora dos jogos. Sua singeleza - reflexo dos limites, mas também da magnitude, desses
eventos, em que a cidade-estado antiga se desvela tanto na própria ínsita
simplicidade, quanto na respectiva grandeza, eis que no âmbito de tais Jogos
sagrados ,no austero espaço de Helas,
abre os braços para os grandes, como Esparta, Atenas, Tebas, senão - e como
poderia deixar de sê-lo, no espírito olímpico de paz - para os poderes menores
do mundo grego. Que maior honra a coroa de louros, por memorável façanha, há de
conferir ao atleta, que representa pequena cidade?
Daí
o empenho, muita vez com magnas exigências para gente de poucos meios, de eternizar
o feito logrado sobre campeões de grandes potestades, através do cinzel, a memória do atleta na simplicidade do número,
mas grandeza no âmbito da Helas, as pequenas cidades se sentiam representadas
por cinzeladas placas evocativas da façanha de conterrâneo seu, mega alegria da
conquista memorável seja nas corridas, nas lutas e em outros poucos certames
que marcam vidas antes ignotas, a que à
coroa de louros se junta um bem mais alto, que é a eternidade do mármore no
contexto de um feito memorável.
Mas tornemos ao que escreve este jornal.
Dentre os aspectos negativos no ítem
segurança, são relacionados: "a única revista do público para a entrada
nas arenas ficou a cargo de uma empresa sem experiência no ramo. Além disso, a
16 dias do início, a seleção de 5000 funcionários ainda está em curso."
Mas não fica só nisso o Editorial da Folha: "(...) não será surpresa se o início das competições
vier a contribuir para desanuviar o mau
humor geral. Afinal, já se espera tão
pouco do evento; bastará,talvez, que
transcorra em paz."
A
propósito de Herr Professor Dr. Sigmund Freud, que anda esquecido
e até mal-falado: lendo ele esses doutos
comentários quem sabe não entreveria, em tanta mordacidade e avaliações tão
menosprezantes (já se espera tão
pouco do evento), quem sabe sentimentos menos nobres, às vezes encobertos por um viés negativo, que é assumido por quem o expressa como se fora algo positivo, quiçá demonstração de nobreza d'alma, já que
os trajes da misericórdia podem servir de inconsciente meio de, sob aspecto
benévolo, espargir maldade que não consegue ou reprimir ou até mesmo dar-se
conta de suas implicações...
Não creio que tantos órgãos
de São Paulo, jornalistas e a gente paulistana em geral, se dariam conta de
suas avaliações, que tão pautadas pelo negativo, podem transmitir a impressão de que o evento conquistado pelo Rio de Janeiro incomoda.
Como todo acontecimento, ele está sujeito à opinião dos espectadores. Já me expressei no que tange às promessas
pelas autoridades partícipes - no caso, Sérgio Cabral e, direta ou
indiretamente, por Eduardo Paes - que são lamentáveis as oportunidades perdidas
na despoluição da baía de Guanabara, e também na da Lagoa Rodrigo de
Freitas.
A maneira cínica e até
mesmo insolente diz muito mal da autoridade brasileira, tanto pelas promessas
com escopo determinado - vale dizer a obtenção do prêmio em jogo - quanto pelo
modo désabusé, quase agressivo em que
se reconhecia o não-cumprimento da promessa, que cinicamente apresentada, valera
para arrebatar o prêmio (a realização dos Jogos).
Em agindo assim, o
Brasil e as autoridades que então o representavam, mostraram falta de seriedade
e até de inteligência, porque a limpeza da baía ganhava um ulterior motivo de
peso (como se não bastasse os ares
mefíticos e tóxicos que nela prevalecem por culpa exclusiva da ignorância e do
desleixo das autoridades municipais que julgam ser mais simples emporcalhar a maravilhosa
Baía, do que despoluí-la). Vejam o proveito que os ingleses tiraram da
despoluição do Tâmisa, antes corrente poluída e espalhadora de ares mefíticos e
líquidos tóxicos.
Porque o falecido Edward
Said, crítico de arte e cultura, fez pouco do Brasil, que comparou à
Nigéria ?
Se para mim tais
realidades são inegáveis, surpreende-me que sejam mui pouco citadas, no
contexto do perigo para os navegadores na grande baía (que pela sua beleza
merece melhor destino, e sobretudo melhores governantes), e até mesmo, como
se aventou, para os riscos aos nadadores na enseada de Copacabana, por força da
poluição da água, e do contágio pelas aguas
malas da baía de Guanabara.
Ao invés de depreciar antes do evento a
realização (tida esta palavra em toda a respectiva acepção semântica) das
Olimpíadas, creio muito mais grave
menoscabar o esforço não-feito para a despoluição da Baía de Guanabara, e outro
menor, de comparativa extrema facilidade, que seria a despoluição da Lagoa
Rodrigo de Freitas, palco de disputa do remo, que poderia ser livrada dos
esgotos clandestinos (que aí existem e muitos), além de estabelecer-se ligação mais robusta com o mar-oceano, o que contribuirá para evitar
os peixes mortos pela sufocação das águas poluídas e também pela sua falta de
oxigenação, que aí está o mar-oceano pronto a colaborar, mediante a honesta
abertura do respectivo canal.
Sem falar da prática
retrógrada dos chamados emissários
submarinos, essa tecnologia dos anos cinquenta, que se gaba de mandar para o
mar próximo - por exemplo, as Cagarras - as águas negras dos esgotos da muy
leal e heróica Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro...
Em muitos aspectos
os administradores do Rio de Janeiro, Cidade dita Maravilhosa, parecem
esquecidos do avanço da ciência moderna e do trato das águas. Se dessem a ela o respeito que merece,
estaríamos livres de grandes vexames e não transformaríamos as lagoas do Rio -
e as da Barra - em paludes, lodaçais, brejos de almas e que-tais...
( Fontes: Folha de S. Paulo, O Globo,
Sigmund Freud, Edward Said )
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