O apoio de Bernie
Sanders a Hillary, às vésperas da Convenção de Filadelfia, é mais um
estágio no processo de reforço da candidatura de Hillary Clinton.
Sorridentes, os dois apareceram juntos
para selar a desistência de Bernie. Com três milhões de votos, é uma adesão
importante, e por isso, na negociação entre ambos, Hillary já colocara na sua
plataforma melhores condições para o ingresso na universidade, que foi um dos
pontos fortes do adversário na sua conquista do sufrágio dos mais jovens.
Não se sabe ainda que concessões terá
feito a líder democrata para ter a seu lado na campanha o senador por Vermont.
Dados os choques e as críticas -
sobretudo do runner-up[1] contra a senhora
Clinton - apertos de mão entre a dupla, mas ainda nada de abraços, eis que
parece demasiado cedo para esquecer os ataques, por vezes virulentos, de adversário
que deu muito trabalho à candidata.
Afastadas as pedras do caminho - a
litigiosa, na famigerada questão do servidor privado de e-mails, e a contestação interna - volta-se a candidata democrata
para a próxima unção na Convenção, e a campanha nacional, incluídos os
prováveis debates com Donald Trump.
Dada a disparidade de conhecimento e
de experiência no mister, mora o perigo para Hillary na incógnita ambulante que
é Mr Donald Trump. Ter-se-á presente que se desfez com demasiada facilidade de
seus múltiplos adversários no Grand Old
Party. Se muitas circunstâncias parecem levar ao otimismo no cotejo e nos
combates - se possível verbais - entre a representante democrata e o campeão
das minorias e dos ressentidos, Hillary Clinton me parece demasiado experiente
e, sobretudo, bastante chamuscada por erros passados nas sendas da política,
para se presumir um passeio nessa campanha futura, em que, com todos os seus
defeitos e muito por causa deles, a profissional e experiente Hillary deve
guardar-se de róseas expectativas de um confronto sem história, quase no modelo
da primeira eleição de Barack Obama contra
John McCain.
Decerto, Hillary tem demasiada
experiência para cair na trampa de que o seu adversário é um prato fácil. Como
na estória do jabuti, se ele está lá, na curva da estrada, a esperá-la, não foi
por desígnio insondável do Olimpo. E a luta pela frente será árdua, porque tampouco foi o acaso, ou a sorte
matreira que lá o colocou, na encruzilhada do futuro.
Ele tem como aliados fiéis o
preconceito, a esperteza e a habilidade de disfarçar os próprios trunfos. Ele é
um fator que aterroriza o Grand Old Party, e a facilidade com que os afastou
do caminho, todos os grandes senhores do Partido Republicano, diz um pouquinho
de quanto possa ser temível.
O excesso de confiança, portanto,
da candidata deve ser evitado a todo custo. Porque esta é a receita encomendada
para o desastre futuro, no cenário de
Donald Trump.
( Fontes: The New York
Times, Rede Globo )
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