A inepta tentativa de putsch militar, se houve, pareceu mais provocação do que real
ameaça ao poder do cada vez mais homem forte da Turquia, na longa tradição de
seus sanguinários califas e ditadores.
De qualquer forma, Recip Erdogan saltou ávido para a quartelada, dela servindo-se para
acertar suas sanguinárias contas.
O expurgo nos quadros castrenses, e no Judiciário
não se fez esperar, a ponto de suscitar suspicácia de que tudo não fosse uma
armação para que o tirano se servisse do momento para expurgo em ordem dos
quadros da Lei e da Força Armada que, ao parecer, lhe estorvavam o caminho de Poder
a que desagrada as peias do Direito e da Liberdade.
O problema que Recip Tayyp Erdogan há de breve redescobrir é que o cerbero da
repressão e da ditadura - e não importam os diáfanos disfarces a que porventura
recorra - será sempre odiento e odioso, e por isso lhe aborrecem os incômodos
trajes da Democracia.
Erdogan poderá receber quantos
telefonemas os líderes da Comunidade se sintam no dever de fazer-lhe - e, quem
sabe, até encenar compreensão - mas decerto cairão em moucos ouvidos os
apelos/avisos de que candidatos a países
membros da C.E. não têm a pena de morte inscrita nos seus livros
constitucionais.
Porque o ditador - seja qual o nome de
sua vestimenta em Palácio - carece da pena capital na sua legislação? Pela
simples razão de que o regime dito forte é, na verdade, fraco, por temer que os
injustiçados e os reprimidos lhe paguem em dias futuros na mesma moeda. A
cínica injustiça há de gerar, cedo ou tarde, a reação dos perseguidos e a surda
revolta de cidadãos em servos transformados.
Ao responder aos avisos dos líderes da
C.E., com a Chanceler frau Angela Merkel à frente, ele será a expressão do bom
moço ajuizado que deseja atender aos apelos da razão. Mas como poderá fazê-lo,
observa compungido, se raiva e revolta grassam no seu parlamento, e os homens
da lei querem encimar a maquinária legal com o derradeiro recurso de comunidade
que se sente ameaçada?
Nessa postura, entende-se o
desconforto das expressões comunitárias.
Não há negar que, por resistências diversas, o deixaram em Canossa
penitente por tempo demasiado. Agora, em que o acaso geográfico cai em contra
dos interesses comunitários, e cresce a força circunstancial do Turco, não sei
se haverá gente nos corredores de Bruxelas para advertir os europeus das
contradições em pedir auxílio e compreensão ao líder turco.
É exercício árduo e complexo. O
problema dele está na resposta, porque a Recip
Erdogan aborrecem os tortuosos caminhos da democracia.
(Fontes: The New York Times, O
Globo, Folha de S. Paulo )
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