terça-feira, 19 de julho de 2016

Erdogan, o Tirano

                                       
       
       A inepta tentativa de putsch militar, se houve, pareceu mais provocação do que real ameaça ao poder do cada vez mais homem forte da Turquia, na longa tradição de seus sanguinários califas e ditadores.
       De qualquer forma, Recip Erdogan saltou ávido para a quartelada, dela servindo-se para acertar suas sanguinárias contas.
       O expurgo nos quadros castrenses, e no Judiciário não se fez esperar, a ponto de suscitar suspicácia de que tudo não fosse uma armação para que o tirano se servisse do momento para expurgo em ordem dos quadros da Lei e da Força Armada que, ao parecer, lhe estorvavam o caminho de Poder a que desagrada as peias do Direito e da Liberdade.
        O problema que Recip Tayyp Erdogan há de breve redescobrir é que o cerbero da repressão e da ditadura - e não importam os diáfanos disfarces a que porventura recorra - será sempre odiento e odioso, e por isso lhe aborrecem os incômodos trajes da Democracia.
        Erdogan poderá receber quantos telefonemas os líderes da Comunidade se sintam no dever de fazer-lhe - e, quem sabe, até encenar compreensão - mas decerto cairão em moucos ouvidos os apelos/avisos de que candidatos a países membros da C.E. não têm a pena de morte inscrita nos seus livros constitucionais.
         Porque o ditador - seja qual o nome de sua vestimenta em Palácio - carece da pena capital na sua legislação? Pela simples razão de que o regime dito forte é, na verdade, fraco, por temer que os injustiçados e os reprimidos lhe paguem em dias futuros na mesma moeda. A cínica injustiça há de gerar, cedo ou tarde, a reação dos perseguidos e a surda revolta de cidadãos em servos transformados.
         Ao responder aos avisos dos líderes da C.E., com a  Chanceler frau Angela Merkel à frente, ele será a expressão do bom moço ajuizado que deseja atender aos apelos da razão. Mas como poderá fazê-lo, observa compungido, se raiva e revolta grassam no seu parlamento, e os homens da lei querem encimar a maquinária legal com o derradeiro recurso de comunidade que se sente ameaçada?
          Nessa postura, entende-se o desconforto das expressões comunitárias.  Não há negar que, por resistências diversas, o deixaram em Canossa penitente por tempo demasiado. Agora, em que o acaso geográfico cai em contra dos interesses comunitários, e cresce a força circunstancial do Turco, não sei se haverá gente nos corredores de Bruxelas para advertir os europeus das contradições em pedir auxílio e compreensão ao líder turco.
              É exercício árduo e complexo. O problema dele está na resposta, porque a Recip Erdogan aborrecem os tortuosos caminhos da democracia.


(Fontes: The New York Times, O Globo, Folha de S. Paulo )

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