sábado, 9 de julho de 2016

E-mails: GOP ainda insiste

                        

        Não está no DNA do Partido Republicano aceitar que litígios por ele suscitados possam ser resolvidos de forma breve. O GOP prefere a via litigiosa para tentar livrar-se de adversários eleitoralmente fortes e, portanto, perigosos para os planos da hierarquia republicana.
        O Comitê na Câmara dos Representantes - que dominam há quase dez anos, graças ao gerrymander provocado pelo shellacking sofrido pelo novato Obama, que passou o seu primeiro biênio mais em seminários na Casa Branca do que governando e se preparando para a seguinte eleição intermediária, com o resultado da perda da maioria na Casa de Representantes, e apertadíssima vitória no Senado - sequer agradeceu ao diretor do FBI por apresentar-se prontamente ao exame dos senhores representantes.
        Malgrado a pressão que sofreu, Mr James B. Comey recusou-se a admitir que adotara "critério duplo" para poupar a Sra. Clinton de processo criminal. Nesse sentido, frisou que ela não recebera consideração especial pelo FBI, nem gozara de mais leniência da parte dos fiscais que alguém de menor proeminência.
         Os representantes republicanos se mostraram frustrados quando Mr Comey disse que o FBI não examinara as afirmações para o Congresso da Sra. Clinton acerca de seu servidor de e-mails para determinar se ela cometera perjúrio. Segundo um nervoso Mr Comey, isso requeriria uma solicitação formal do Congresso conhecida como 'referral'.
          Diante dessa indicação, o Representante Jason  Chaffetz, republicano de Utah e presidente do Comitê declarou  "O senhor receberá o pedido de 'referral' nas próximas horas".  Mais tarde, o escritório de Mr Chaffetz disse que a emissão do 'referral' ficaria para a sexta-feira, o que asseguraria que o seu exame dos e-mails da Sra. Clinton se estenda além do limite penal do caso.
         A dúbia posição do diretor do FBI ficou também evidente quando Comey insinuou mais de uma vez que alguém no Governo federal que tivesse feito o que fizeram a Sra. Clinton e os seus auxiliares ficaria sujeito a sanções administrativas.
          Questionado se tais sanções incluíam demissão ou perda de autorização de segurança, Mr Comey anuíu.
           A compreensão - e mesmo liberalidade de Mr Comey - em diversas questões, não levaram, contudo, o diretor do FBI a dizer se a Fundação Clinton, fundada pelo ex-presidente Clinton se envolvera na investigação, como algumas notícias o sugeriram. Desta feita, mr Comey  recusou-se por duas vezes a responder à pergunta de Mr Chaffetz.
               Por fim, um deputado republicano, John Mica, disse ao diretor do F.B.I.  que o fim da investigação da Sra. Clinton dava a impressão de ter sido coreografado. Assim, o encontro casual da Procuradora-Geral Loretta Lynch com o ex-presidente Clinton, e depois  entrevista pelo FBI com a Sra. Clinton no sábado, o anúncio de Mr Comey na Terça, e o encontro de campanha da Sra. Clinton com o Presidente Obama horas depois. Mr Mica disse que não sabia o que dizer para os eleitores nas conversas nos cafés da Florida.
               O Diretor Comey ficou vermelho, e levantou a voz à medida que respondia para o congressista: "Eu espero que você diga para a gente no café. Olhe nos meus olhos, e preste atenção no que vou dizer. Eu não coordenei isso com ninguém.  A Casa Branca, o Departamento de Justiça, ninguém fora do pessoal do F.B.I. não fazia idéia do que estava por dizer.  Digo isso sob juramento, e ponho a minha responsabilidade nisto. Não houve coordenação alguma."
                Depois desse entrevero, não ficou claro se os republicanos encontrarão algum meio - como pelo chamado referral[i] - de prorrogar a questão e de algum modo,  manter ainda vivo o assunto.
                 Não há dúvida que se os republicanos lobrigarem alguma possibilidade de manter viva a questão dos e-mails, eles o tentarão. Levantar a questão de eventual perjúrio de parte da candidata Hillary estaria fora de consideração por gente mais responsável, ou mais habituada a lidar com os republicanos.
                  Mais talvez esse pendor em tentar enfraquecer os seus adversários através de todos os recursos de que possa valer-se, se levado ao extremo - como no caso em tela - tenda a produzir resultados inesperados.

( Fonte:  The New York Times )    



[i] O ato de referir uma questão ou matéria  para a instância competente.E

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