Desperta alguma estranheza essa
pesquisa do IBOPE, pretensamente sobre aprovação do governo interino de Michel
Temer. Ela foi solicitada pela Confederação Nacional da Indústria, que é uma
das entidades habitualmente interessadas em encomendá-las.
O governo Temer responde à situação
emergencial, e é temporário, estando sob o cutelo da votação complementar do
Senado Federal.
Administração desse gênero, nascida
sob as sombras de prazo legal, que lhe dá vida constitucional bastante curta -
não é à toa que vem carimbado da interinidade - não pode ensejar à opinião
pública uma apreciação equilibrada e imparcial, eis que o Governo Temer é
temporário, e está submetido tanto aos maus e bons humores dos senhores
senadores, e, por isso, como todo governo dessa natureza ele não oferece nem o tempo, nem a autonomia
de que fazem jus as habituais altas autoridades que são objeto das pesquisas
desses institutos.
Por isso, parece-me algo
despropositada essa consulta. Devemos aguardar que voltem a votar os senhores
senadores, para determinar se se confirma o impeachment de Dilma Rousseff ou se
ela, para surpresa geral, logra reverter
a corrente, e tem assegurados mais dois anos de não-governo.
Creio que impeachment é coisa
séria. Como tal, não há o menor cabimento para rachar esse processo em dois,
como se necessário fora para determinar a competência ou não, ou eventuais
crimes contra a Administração, para rachá-lo dessa maneira.
Não atino porque nós os brasileiros
temos o pendor de complicar tudo. Nos Estados Unidos, o impeachment é decidido em uma única votação do Senado, depois que a
Câmara de Representantes considera válido o processo em tela.
Dentro desse contexto, surpreende que se
venha a pedir ao Povo uma avaliação do governo interino de Michel Temer.
É pôr a carroça
diante dos bois, ir a perguntar o que acha sobre um governo que é
super-interino, e existe por ora nesse limbo da interinidade. Só pode dar no
que deu...
( Fonte: O
Estado de S. Paulo )
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