quarta-feira, 20 de julho de 2016

Convenção Republicana

          

         Avaros nos elogios ao candidato Donald Trump, derramados nas críticas a Hillary Clinton, eis o sumário da primeira noite da Convenção em Cleveland, Ohio.
          Nunca tantos delegados votaram em outros candidatos do  que no oficialmente designado, desde o distante 1976, ainda sob a sombra do impeachment de Richard Nixon.  Se unanimidade houve no GOP, ela se refere ao ódio à candidata Hillary, que é considerada uma espécie de nêmesis republicana.
           A má-vontade contra Donald Trump reflete o desconforto dos republicanos em aceitarem quem surgira sem a chancela da alta hierarquia, e de fenômeno havido como passageiro - candidato do verão - foi atropelando no caminho todos os favoritos do Grand Old Party, cuja hierarquia teve, ao final, que tragar o que lhe foi servido, não pelas cozinhas partidárias, mas através da expressão de diversas minorias amalgamadas, em  mistura que não era do agrado da alta chefia.
           Nascida sob o signo da contestação e do preconceito - a inusitada muralha contra a invasão da malta mexicana, a raiva dos trabalhadores braçais brancos e tudo que estrangeiro pareça - a postulação de Trump atropelaria filhos da alta hierarquia, jovens Senadores com pressa, e até um alter-ego afro-americano do detestado Barack Obama - para prevalecer como fato consumado, empurrado goela abaixo dos delegados.
          Não surpreende, portanto, que haja recebido, a par da chancela, tantos sufrágios contrários, reminiscentes da década de setenta, em que o Partido Republicano fora atropelado pela renúncia de Richard Nixon - para escapar do impeachment inexorável - e o dissídio dos tempos de crise.
          A mais autoridade republicana - Paul Ryan, Speaker da Câmara baixa - pautou o seu apoio nominal às elipses de reservas que a hierarquia, mesmo em tais horas, contém com grande dificuldade, por se ver forçada a entronizar quem sente não representar a candidatura partidária ideal.
          Nesse momento conturbado, os republicanos forcejam por encontrar a união no ódio que sentem pela própria nêmesis, que a candidata democrata Hillary Clinton lhes representa à maravilha.
          Em 1984, na obra prima de George Orwell, os delegados do partido despejavam o seu ódio na seção dos Três Minutos, dirigido na verdade a Leon Trotzki.
           Nessa convenção, ofuscaram-se os elogios ao Candidato Escolhido às críticas à Inimiga, encarnada pela terrível   Hillary Clinton, que - vejam só - surgiu nas fileiras democratas como assessora do Speaker da Câmara, o democrata Thomas 'Tip' O'Neill, como a adversária do Partido Republicano, naqueles tempos conturbados pela crise no Governo Richard Nixon, e a consequente derrocada do poder republicano.  


( Fonte:  The New York Times )ilH  m     Hi                 

Nenhum comentário: