Avaros nos elogios ao candidato Donald Trump, derramados nas
críticas a Hillary Clinton, eis o sumário da primeira noite da Convenção em Cleveland,
Ohio.
Nunca tantos delegados votaram em
outros candidatos do que no oficialmente
designado, desde o distante 1976, ainda sob a sombra do impeachment de Richard
Nixon. Se unanimidade houve no GOP, ela
se refere ao ódio à candidata Hillary, que é considerada uma espécie de nêmesis
republicana.
A má-vontade contra Donald Trump
reflete o desconforto dos republicanos em aceitarem quem surgira sem a chancela
da alta hierarquia, e de fenômeno havido como passageiro - candidato do verão -
foi atropelando no caminho todos os favoritos do Grand Old Party, cuja
hierarquia teve, ao final, que tragar o que lhe foi servido, não pelas cozinhas
partidárias, mas através da expressão de diversas minorias amalgamadas, em mistura que não era do agrado da alta chefia.
Nascida sob o signo da contestação e
do preconceito - a inusitada muralha contra a invasão da malta mexicana, a
raiva dos trabalhadores braçais brancos e tudo que estrangeiro pareça - a
postulação de Trump atropelaria filhos da alta hierarquia, jovens Senadores com
pressa, e até um alter-ego afro-americano do detestado Barack Obama - para
prevalecer como fato consumado, empurrado goela abaixo dos delegados.
Não surpreende, portanto, que haja
recebido, a par da chancela, tantos sufrágios contrários, reminiscentes da
década de setenta, em que o Partido Republicano fora atropelado pela renúncia
de Richard Nixon - para escapar do impeachment inexorável - e o dissídio dos
tempos de crise.
A mais autoridade republicana - Paul
Ryan, Speaker da Câmara baixa - pautou o seu apoio nominal às elipses de
reservas que a hierarquia, mesmo em tais horas, contém com grande dificuldade,
por se ver forçada a entronizar quem sente não representar a candidatura
partidária ideal.
Nesse momento conturbado, os
republicanos forcejam por encontrar a união no ódio que sentem pela própria
nêmesis, que a candidata democrata Hillary Clinton lhes representa à maravilha.
Em 1984, na obra prima de George
Orwell, os delegados do partido despejavam o seu ódio na seção dos Três
Minutos, dirigido na verdade a Leon Trotzki.
Nessa convenção, ofuscaram-se os
elogios ao Candidato Escolhido às críticas à Inimiga, encarnada pela
terrível Hillary Clinton, que - vejam
só - surgiu nas fileiras democratas como assessora do Speaker da Câmara, o
democrata Thomas 'Tip' O'Neill, como a adversária do Partido Republicano,
naqueles tempos conturbados pela crise no Governo Richard Nixon, e a consequente
derrocada do poder republicano.
( Fonte: The New York Times )
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