Custou, mas a Lei acabou batendo na porta de Luiz
Inácio Lula da Silva.
O longo processo da Lei foi acionado não
por quem o chefe do PT mais temia, mas por um juiz federal de Brasília, o
magistrado Ricardo Leite, da 10ª
Vara da Justiça Federal do D.F., que aceitou ontem, 29 de julho corrente, denúncia
do Ministério Público Federal contra
Lula da Silva, o ex-senador Delcídio Amaral, o banqueiro André Esteves e
mais quatro pessoas (Diogo Ferreira, Edson Ribeiro, José Carlos Bumlai e
Maurício Bumlai).
Não estava escrito que aquele a quem
Lula da Silva mais temia não firmaria a denúncia-mãe de seu processo.
Qual é a principal acusação contra Lula
da Silva e seu grupo? O Ministério Público
Federal acusa o grupelho encabeçado por Lula da Silva de três crimes: organização
criminosa, exploração de prestígio, e
patrocínio infiel.
Sob o chapéu de tentarem atrapalhar as investigações da Lava-Jato
- que apura, sobretudo, a corrupção na Petrobrás - eles são acusados
notadamente de tentarem comprar o silêncio
do ex-diretor da Petrobrás, Nestor Cerveró, a quem foram oferecidos R$
250 mil para que desistisse da delação premiada. A denúncia em tela se baseia,
sobretudo, em gravação feita pelo filho de Cerveró, e em delação premiada de
Delcídio Amaral, que acusou Lula da Silva de ordenar a operação.
O ex-Senador Delcídio entregou à Justiça
documentação que, segundo ele, é suficiente para comprovar a acusação, como
registros em agendas de diversas conversas por telefone entre Lula da Silva e
ele, assim como de reuniões, a par de extratos bancários. Nesse contexto,
Delcidio relatou aos procuradores que fora chamado por Lula em São Paulo, em
maio de 2015, para discutir a necessidade de evitar que Cerveró celebrasse
acordo de delação premiada.
Em razão da articulação para tentar
barrar a delação, Delcídio foi preso em novembro do ano passado. As conversas em que o ex-Senador tenta
comprar o silêncio de Cerveró foram
gravadas pelo filho deste último, Bernardo Cerveró. O áudio foi entregue ao Ministério Público. Nessa ocasião, foram também presos André
Esteves, Edson Ribeiro, e Diogo Ferreira. Antes de ser solto, em fevereiro de
2016, Delcídio firmou acordo de delação premiada para colaborar com as
investigações.
Tentativa do MPF para transferência do
Processo ao Juiz Moro.
Em junho último, após a cassação do mandato do
Senador Delcídio do Amaral, o
Procurador-Geral da República, Rodrigo
Janot pediu que as investigações fossem transferidas para a 13ª Vara Federal em
Curitiba, onde, como a Nação não desconhece, o Juiz Sérgio Moro conduz os
processos da Lava-Jato.
Vejam,
no entanto, o que ocorreu no caminho desse processo penal (citação ipsis verbis de O Globo): " Mas o ministro Teori
Zavascki, relator da Lava-Jato no STF, ponderou que o caso não tem relação
direta com os desvios da Petrobrás. O Ministro também disse que os supostos crimes teriam ocorrido na
capital federal, daí a remessa dos autos para um juiz de Brasília."
Note-se o anterior fatiamento da
Lava-Jato, também de iniciativa de Zavascki, no que concerne ao envolvimento em
questões nucleares.
Além disso, numa das diligências das
investigações, quando elas ainda estavam
no STF, a Procuradoria Geral da República pediu dados bancários que
comprovassem as movimentações
financeiras dos Bumlai com o escopo de barrar a delação de Nestor Cerveró. As provas nesse sentido, obtidas com a
autorização do Supremo, após o ex-presidente Lula da Silva ter sido denunciado,
confirmaram as acusações e foram incluídas na denúncia.
Lula nega as acusações. A defesa de
Bumlai informou que vai provar que o aludido empresário jamais deu dinheiro a
Cerveró ou a sua família, para obstruir a Justiça.
Também por meio de nota, o advogado
de André Esteves (ex-Executivo do BTG Pactual), que é Sepúlveda Pertence, disse
não haver justa causa para abrir processo penal "em bases tão fracas"
(sic).
Por conseguinte, se Lula da Silva
passa de investigado a réu, contrariando o Ministério Público, mais uma vez o
relator da Lava-Jato no Supremo, Teori Zavascki, toma decisão que afasta do
Juiz Moro a responsabilidade direta da causa contra o alegado principal
responsável das atuações paralelas contra a Lava-Jato, o ex-Presidente Luiz
Inácio Lula da Silva.
Dizia-se na imprensa que o
ex-presidente Lula da Silva (que passa como o principal responsável por tais
maquinações contra a Lava-Jato) uma vez mais não tem, como tem temido, ter a
ver com o Juiz Sérgio Moro, da 13ª
Vara Federal de Curitiba.
Mais uma vez Sua Excelência Teori Zavascki
desvia o processo da Lava-Jato, e não
para o seu magistrado epônimo, como tal reconhecido pela voz do Povo Soberano,
como foi verificado de resto na grande manifestação popular, que precedeu à
declaração do Impeachment da pupila
Dilma Rousseff.
À primeira vista, semelha
deveras estranho que o Juiz Federal responsável pela Lava-Jato, e cuja grande
experiência na matéria receba a aprovação do Povo Soberano, e dos próprios
magistrados do Supremo - a par de suscitar o temor do principal indigitado -
seja afastado, e por mais de uma vez, da intervenção na matéria para o qual
semelha singularmente preparado.
Seria interessante saber o que
motiva esses singulares escanteamentos.
( Fonte: O Globo )
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