sábado, 23 de julho de 2016

Dia de Trump?

                                            
        Cercado por ressentidos (o anfitrião ausente, o gov. Joe Kasich, o Senador moleque, Ted Cruz, que aceita servir-se, mas cospe no prato), a festança de Donald Trump não saíu de acordo com o esperado. Mas, como pergunta o New York Times, quem penetra num clube, pode esperar ser bem tratado?
         Aí está talvez o nó da questão. Trump tenderá a ser visto como o intrujão, aquele que no verão passado entrou sem licença na festa republicana, e acabou tornando-se dono dela.
          Fez picadinho dos adversários, e se alguns como Chris Christie estão aí para servi-lo, outros têm idéias diversas. De qualquer forma, a instrumentalização a que se prestou o Senador pelo Texas, não tem eticamente qualquer suporte.  Pelo que se vê, o caráter de Ted Cruz não luziu demasiado na noite em que se valeu da boa vontade do dono da festa, e o tratou de forma não-condizente com qualquer manual de boas maneiras.
          No último dia, a festa foi de Trump, entronizado candidato republicano para alegria de uns tantos e horror de muitos. O seu discurso foi longo, como seria previsível.
           Falou muito, mas terá dito pouco.
           Há certa sensação de vazio em torno dele, por mais ruidosa que seja a sua banda.
           Uma vez virada a outra página - a dos democratas - com a chapa destes afinal completa - Hillary Clinton ladeada pelo ex-governador Tim Kaine - será a hora da Convenção de Filadelfia. Vejamos que papel terá o Senador por Vermont, Bernie Sanders, depois que vazou o tratamento depreciativo que lhe foi dado pelo Comitê dos Democratas, durante as renhidas primárias.
            No entanto, ainda é cedo para fazer prognósticos sobre o embate dos dois candidatos, Trump e Hillary. Se  a diferença de preparo é colossal, como o é igualmente a experiência de governo, a avaliação pelo Povo americano não pode ser adivinhada, malgrado os muitos sinais do grande domínio da matéria por uma parte, e o aventureirismo da outra parte. Se cada qual jogar como sabe e como deve, o resultado da refrega não será difícil de prever, não fora a intervenção de outros fatores - que tendem a ser movidos pelo desespero - que intentarão virar o jogo, por mais dificultoso que constitua tal desígnio.
               Dizer que a vitória do candidato republicano seria desastrosa para os EUA é quase chover no molhado. No entanto, o trágico dessa partida é que o seu resultado não semelha suscetível de ser prejulgado.
               Por conseguinte, com um dos candidatos já tornado oficial, aguardemos a próxima Convenção. Não será de duvidar que o seu libretto será melhor preparado, e os vários atores, tanto os coadjuvantes - aí incluído Tim Kaine, quanto a atriz e diretora Hillary Clinton, hão de desempenhar papéis mais coerentes e, por isso, estruturados dentro de visão  de Estado.
                Será acaso possível cotejá-los com o grupo republicano? Para surpresa de alguns, a resposta será sempre sim!
                Como no filme de Abel Gance sobre a política na Assembléia Nacional revolucionária, a comparação será com as encapeladas ondas de mar enfurecido. Que resultado sairá dessa luta titânica? De um lado, as fileiras desorganizadas da facção oportunista e demagoga; de outro, movendo-se com proficiência nas águas traiçoeiras que cercam gregos e troianos, as  bem-treinadas divisões da provada capitã, com experiência longa nesse duro mister? Chamai, no entanto, xamanes, adivinhos, pitonisas e que-tais, e eles não te dirão uma só palavra sobre como acabará a refrega!
                 E não calarão por covardia ou perversidade. Toda a divindade, por mofina que seja, tem de ser respeitada. Há, portanto, de esperar a hora da deusa ôý÷ç (*), antes que as sortes sejam lançadas.
                 Se a ansiedade é atributo dos humanos, pacientar será respeitar o poder e a ínsita crueldade dos habitantes do Olimpo. Por isso, será sempre o caso de honrar os nossos maiores. O próprio Carlos Drummond de Andrade ensina a respeito: 'minhas filhas, boca presa, vosso pai evém chegando'.

(*) Tuxe, deusa da fortuna

Nenhum comentário: