Cercado por ressentidos (o anfitrião
ausente, o gov. Joe Kasich, o Senador
moleque, Ted Cruz, que aceita
servir-se, mas cospe no prato), a festança de Donald Trump não saíu de acordo com o esperado. Mas, como pergunta
o New York Times, quem penetra num
clube, pode esperar ser bem tratado?
Aí está talvez o nó da questão. Trump
tenderá a ser visto como o intrujão, aquele que no verão passado entrou sem
licença na festa republicana, e acabou tornando-se dono dela.
Fez picadinho dos adversários, e se
alguns como Chris Christie estão aí para servi-lo, outros têm idéias diversas.
De qualquer forma, a instrumentalização a que se prestou o Senador pelo Texas,
não tem eticamente qualquer suporte.
Pelo que se vê, o caráter de Ted Cruz não luziu demasiado na noite em
que se valeu da boa vontade do dono da festa, e o tratou de forma
não-condizente com qualquer manual de boas maneiras.
No último dia, a festa foi de Trump,
entronizado candidato republicano para alegria de uns tantos e horror de
muitos. O seu discurso foi longo, como seria previsível.
Falou muito, mas terá dito pouco.
Há certa sensação de vazio em torno
dele, por mais ruidosa que seja a sua banda.
Uma vez virada a outra página - a
dos democratas - com a chapa destes afinal completa - Hillary Clinton ladeada
pelo ex-governador Tim Kaine - será a hora da Convenção de Filadelfia. Vejamos que
papel terá o Senador por Vermont, Bernie Sanders, depois que vazou o
tratamento depreciativo que lhe foi dado pelo Comitê dos Democratas, durante as
renhidas primárias.
No entanto, ainda é cedo para fazer
prognósticos sobre o embate dos dois candidatos, Trump e Hillary. Se a diferença de preparo é colossal, como o é
igualmente a experiência de governo, a avaliação pelo Povo americano não pode
ser adivinhada, malgrado os muitos sinais do grande domínio da matéria por uma
parte, e o aventureirismo da outra parte. Se cada qual jogar como sabe e como
deve, o resultado da refrega não será difícil de prever, não fora a intervenção
de outros fatores - que tendem a ser movidos pelo desespero - que intentarão
virar o jogo, por mais dificultoso que constitua tal desígnio.
Dizer que a vitória do candidato
republicano seria desastrosa para os EUA é quase chover no molhado. No entanto,
o trágico dessa partida é que o seu resultado não semelha suscetível de ser
prejulgado.
Por conseguinte, com um dos
candidatos já tornado oficial, aguardemos a próxima Convenção. Não será de
duvidar que o seu libretto será
melhor preparado, e os vários atores, tanto os coadjuvantes - aí incluído Tim
Kaine, quanto a atriz e diretora Hillary Clinton, hão de desempenhar papéis
mais coerentes e, por isso, estruturados dentro de visão de Estado.
Será acaso possível cotejá-los
com o grupo republicano? Para surpresa de alguns, a resposta será sempre sim!
Como no filme de Abel
Gance sobre a política na Assembléia Nacional revolucionária, a
comparação será com as encapeladas ondas de mar enfurecido. Que resultado sairá
dessa luta titânica? De um lado, as fileiras desorganizadas da facção
oportunista e demagoga; de outro, movendo-se com proficiência nas águas
traiçoeiras que cercam gregos e troianos, as
bem-treinadas divisões da provada capitã, com experiência longa nesse
duro mister? Chamai, no entanto, xamanes, adivinhos, pitonisas e que-tais, e eles não te dirão uma só
palavra sobre como acabará a refrega!
E não calarão por covardia ou
perversidade. Toda a divindade, por mofina que seja, tem de ser respeitada. Há,
portanto, de esperar a hora da deusa ôý÷ç (*), antes
que as sortes sejam lançadas.
Se a ansiedade é atributo dos
humanos, pacientar será respeitar o poder e a ínsita crueldade dos habitantes
do Olimpo. Por isso, será sempre o caso de honrar os nossos maiores. O próprio
Carlos Drummond de Andrade ensina a respeito: 'minhas filhas, boca presa, vosso
pai evém chegando'.
(*) Tuxe, deusa da fortuna
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