segunda-feira, 11 de julho de 2016

A Folha é jornal preconceituoso?

                    

          Entre uma das boas tradições da Folha de S. Paulo está o incentivo às entrevistas. Em nossa história, existe um bom lugar para as entrevistas. Há algumas que foram determinantes, como a de José Américo de Almeida a Carlos Lacerda, do Correio da Manhã, que na prática pôs termo à censura de imprensa e ao peso do DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda, no regime de Getúlio Vargas), de que apressou o próprio desfazimento.
           É lógico que no estágio democrático do Brasil, as entrevistas, se continuam a ser importantes, e se podem influenciar mutações tópicas, não podem em princípio acarretar grandes transformações de ordem política, porque, com todas as suas falhas, vivemos em democracia e regime constitucional.
            Na área social e cultural, se há perspectivas, as possibilidades de mudanças só podem ser vistas como processos incrementalistas, eis que,  com todas as falhas do sistema, vivemos sempre em democracia. Que essa democracia não é perfeita - muito ao contrário - demonstra que há muito a ser feito no campo sócio-econômico-antropológico.
            Se a corrupção cresceu demais em nossa terra, as razões são muitas e demasiado conhecidas. A chamada cultura do jeitinho pode ser definida como a versão light da corrupção. Por outro lado, em que outro país, um artigo do código penal - o famigerado 171- faz parte da cultura e do ethos nacional? De que maneira esse artigo apropriado pela linguagem coloquial enquanto exemplo de esperteza que está ou no limite do comportamento social, ou um pouco além dele - mas sempre implicando um modo senão aceitável de interação, pelo menos presume atitude de certo permissivismo, como se fora conotação da nacionalidade?
              Nesse contexto, achei muito interessante a entrevista da 2ª Feira do economista Marcos Lisboa. Abrangente, provocativa e estimulante, como devem ser as entrevistas. Sobretudo quando têm conteúdo, como é seu caso. Gostaria de a respeito das declarações de Marcos Lisboa - com que concordo em grande parte - a Folha, quem sabe para resolver o problema do título, pinçou das declarações finais o seguinte parágrafo: "Espero que o que vimos até aqui, durante a interinidade, não tenha sido o prelúdio do que vamos viver depois de agosto. Pois o Brasil pode virar  um grande Rio de Janeiro (que decretou  estado de calamidade pública em junho). A diferença entre o risco  do Brasil e a situação do governo do Rio é que o governo federal pode recorrer  ao aumento da inflação. Seria a retomada da inflação crônica. Não a melhor das escolhas. "
                A ênfase do entrevistado está obviamente na situação do Brasil.  A exemplo da 'calamidade pública', tal motivação se deve à necessidade das dotações federais para corrigir a crise criada a partir do governo Sérgio Cabral com a mal-avisada confiança quase-exclusiva nos royalties do petróleo, e a estulta renúncia fiscal quanto aos impostos das diversas empresas aqui sediadas, na presunção de que provocaria outros ganhos fiscais que não se materializaram.
                 Por fim, no que concerne a sediar as Olimpíadas, falta pouco para determinar o reflexo imediato e mediato desse mundialmente espetacular certamen para a Cidade Maravilhosa.  O Brasil tem sabido reagir favoravelmente às grandes ocasiões. Esta, decerto, será a maior delas, o que explica muitas reações. Esperemos que o Rio de Janeiro dê a sua contribuição à valorização da Cidade e da Nacionalidade. Todos nós poderemos ganhar com isso, e no bom sentido. Quem sabe se no futuro um eventual sucesso do Rio possa ser incorporado pela nacionalidade brasileira, com São Paulo, como sempre,  à frente?



( Fontes: Folha de S. Paulo; Getúlio Vargas, Lira Neto - 2° vol.)

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