Entre uma das boas tradições da Folha de S. Paulo está o incentivo às entrevistas. Em nossa
história, existe um bom lugar para as entrevistas. Há algumas que foram
determinantes, como a de José Américo de Almeida a Carlos Lacerda, do Correio da Manhã, que na prática pôs
termo à censura de imprensa e ao peso do DIP (Departamento de Imprensa e
Propaganda, no regime de Getúlio Vargas), de que apressou o próprio
desfazimento.
É lógico que no estágio democrático
do Brasil, as entrevistas, se continuam a ser importantes, e se podem
influenciar mutações tópicas, não podem em princípio acarretar grandes
transformações de ordem política, porque, com todas as suas falhas, vivemos em
democracia e regime constitucional.
Na área social e cultural, se há
perspectivas, as possibilidades de mudanças só podem ser vistas como processos
incrementalistas, eis que, com todas as
falhas do sistema, vivemos sempre em democracia. Que essa democracia não é
perfeita - muito ao contrário - demonstra que há muito a ser feito no campo sócio-econômico-antropológico.
Se a corrupção cresceu demais em
nossa terra, as razões são muitas e demasiado conhecidas. A chamada cultura do jeitinho pode ser definida
como a versão light da corrupção. Por
outro lado, em que outro país, um artigo do código penal - o famigerado 171- faz parte da cultura e do ethos nacional? De que maneira esse
artigo apropriado pela linguagem coloquial enquanto exemplo de esperteza que
está ou no limite do comportamento social, ou um pouco além dele - mas sempre
implicando um modo senão aceitável de interação, pelo menos presume atitude de
certo permissivismo, como se fora conotação da nacionalidade?
Nesse contexto, achei muito interessante
a entrevista da 2ª Feira do economista Marcos Lisboa. Abrangente, provocativa e
estimulante, como devem ser as entrevistas. Sobretudo quando têm conteúdo, como
é seu caso. Gostaria de a respeito das declarações de Marcos Lisboa - com que
concordo em grande parte - a Folha,
quem sabe para resolver o problema do título, pinçou das declarações finais o
seguinte parágrafo: "Espero que o que vimos até aqui, durante a
interinidade, não tenha sido o prelúdio do que vamos viver depois de agosto.
Pois o Brasil pode virar um grande Rio
de Janeiro (que decretou estado de
calamidade pública em junho). A diferença entre o risco do Brasil e a situação do governo do Rio é
que o governo federal pode recorrer ao
aumento da inflação. Seria a retomada da inflação crônica. Não a melhor das
escolhas. "
A ênfase do entrevistado está
obviamente na situação do Brasil. A
exemplo da 'calamidade pública', tal motivação se deve à necessidade das
dotações federais para corrigir a crise criada a partir do governo Sérgio
Cabral com a mal-avisada confiança quase-exclusiva nos royalties do petróleo, e a estulta renúncia fiscal quanto aos
impostos das diversas empresas aqui sediadas, na presunção de que provocaria
outros ganhos fiscais que não se materializaram.
Por fim, no que concerne a
sediar as Olimpíadas, falta pouco para determinar o reflexo imediato e mediato
desse mundialmente espetacular certamen para a Cidade Maravilhosa. O Brasil tem sabido reagir favoravelmente às
grandes ocasiões. Esta, decerto, será a maior delas, o que explica muitas
reações. Esperemos que o Rio de Janeiro dê a sua contribuição à valorização da
Cidade e da Nacionalidade. Todos nós poderemos ganhar com isso, e no bom
sentido. Quem sabe se no futuro um eventual sucesso do Rio possa ser
incorporado pela nacionalidade brasileira, com São Paulo, como sempre, à frente?
( Fontes: Folha de S. Paulo; Getúlio Vargas, Lira Neto
- 2° vol.)
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