Haveria um problema central no projeto de lei sobre
abuso de autoridade, que como adiantado por esta coluna, foi retirado da gaveta
pelo Presidente do Senado, Renan Calheiros.
Segundo identificado por equipes de
investigação da Lava-Jato o problema
seria a possibilidade de ações privadas subsidiárias dentro de prazo de quinze
dias. Em outras palavras, teriam
permissão para apresentar ações pessoas
que alegassem ser vítima de abuso de autoridade.
Consoante a
legislação vigente , tal possibilidade ,atualmente, é competência do Ministério
Público. Já, segundo Renan Calheiros, se o MP nada fizer dentro de
prazo de quinze dias, as ações privadas estarão autorizadas a partir dessa
data.
Como Renan Calheiros é investigado
em oito
inquéritos da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal, o Procurador Geral
da República, Rodrigo Janot, chegou a
pedir a prisão preventiva do Presidente
do Senado, sob a justificativa de que ele "atrapalhava as investigações no
exercício do cargo".
O Ministro Teori Zavascki, que é o
encarregado da Lava-Jato no Supremo, denegou esse pedido do PGR Janot. Ou
porque sinta essa espada de Dâmocles sobre a sua cabeça, ou por encontrar suposta abertura
nessa denegação, o sorridente Senador tem dado, desde então, sinais de
confrontação com o PGR Rodrigo Janot. Primo, ameaçou aceitar um pedido de
impeachment do Procurador-Geral. Secondo,
protocolou o projeto que trata de abuso de autoridade, e que dormia há mais de
ano nas gavetas do Senado da República.
Enquanto, por ora, a competência para
propor essa ação de abuso de autoridade é exclusiva do Ministério Público,
segundo o Presidente do Senado ela passaria a ser admissível como ação privada
subsidiária, se o MPF não a intentar em quinze dias. Já essa ação privada subsidiária teria o prazo de seis meses para ser
utilizada.
De acordo com o projeto, a
proposta terá tramitação terminativa na Comissão de Consolidação da Legislação Federal e Regulamentação da
Constituição. Assinale-se que este
colegiado foi criado pelo Presidente Renan e será presidido pelo Senador Romero
Jucá (PMDB-RR), que por coincidência
também é investigado na Lava Jato.
"A ação penal nos casos dos
crimes ora tipificados é pública,
condicionada à representação do
ofendido, sendo que, em caso de não-ajuizamento da ação no prazo devido pela autoridade competente, conceder-se-á prazo para que o ofendido
possa ajuizar a ação penal privada", justifica o Senador Renan Calheiros no projeto em tela. Nesta mesma toada, o Presidente do
Senado lembra ainda "a
possibilidade de o ofendido buscar as devidas reparações também na esfera cível e
administrativa."
Para um investigador da Lava-Jato que atua nos inquéritos no STF, os
políticos querem fazer com o projeto bullying
judicial:
"Esta situação
é muito parecida com o que fizeram na Itália (na Operação Mãos Limpas), em
que se tentou criminalizar os investigadores".
Também a Associação dos
Juízes Federais (AJUFE) sustentou em
nota que o projeto de Renan Calheiros
"parece uma tentativa de intimidação
de juízes, desembargadores e ministros do Judiciário na aplicação da Lei
Penal em processos envolvendo criminosos poderosos (sic)."
Dessarte, o projeto que
tramitou na Câmara até 2009 prevê punição para servidores da administração
pública e integrantes dos Poderes Legislativo, Judiciário e do M.P. Nessa mesma
toada, o texto proíbe: "o uso de
algemas ou outro objeto que tolha a locomoção" quando não houver "resistência
à prisão". O projeto também se propõe a evitar grampos sem autorização
judicial.
O que se favoreceria com esse
esdrúxulo projeto é manietar a Justiça, o que na prática implicaria em brutal
retrocesso. A limitação para a validade dos grampos implicaria noutra volta no
tempo, como se verificava, no passado, em que operações policiais eram invalidadas
- como o foram operações pelo Superior Tribunal de Justiça, pelo fato de os
grampos não terem sido previamente autorizados pela instância judicial.
Os monstrengos que têm
aparecido - e que ora são instrumentalizados por Renan, Jucá et cia. - são caricaturas de situações
pouco explicáveis (se não se desejar rasgar-lhes o diáfano véu das razões de
sua manutenção).
Já ao tomar posse da
presidência do Senado, Renan motivou uma série de protestos, bastantes visíveis
e incômodos, ao ensejo das cerimônias de assunção do alto cargo, que em geral são realizadas em público. Hoje quem se
lembra de que inúmeros manifestantes nelas intervieram - para sublinhar o protesto e a repulsa pela indicação de
Renan Calheiros, com visível desconforto do atual Presidente do Senado?
Porque a sua presença na
curul da presidência senatorial servia aos projetos de Dilma Rousseff,
tratou-se de aceitar-lhe a presidência, embora fosse incompatível com a
instituição. Qual a razão de que, com
tantos processos no Supremo a seu cargo, o Ministro Teori Zavascki denegou o
pedido do MPF no que tange a Renan Calheiros ?
É sempre oportuno
lembrar o dito de um antigo coronel maranhense (Vitorino Freire), a propósito
de alguma situação esdrúxula : "Jabuti não sobe em árvores. Se o encontramos em um galho, alguém
o pôs lá"...
( Fonte: O
Globo )
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