Terminada a Convenção de Filadelfia, que começara um
tanto mal, sob a tentativa de Putin de jogá-la em águas turvas, com a
incriminação das instâncias do Partido Democrata, como suspeitas de
favorecimento de Hillary Clinton em detrimento de Bernie Sanders, a reação posterior,
veio a pôr a questão em prisma menos deformado.
O próprio Senador Sanders discursou para
a Convenção e apoiou, sem cavilações, a candidata Hillary. Se o grupo que apóia
acolher a sua postura, engrossará a votação da senhora Clinton um número
ponderável de jovens. Essa modificação está na ordem das coisas, eis que
semelha difícil supor que passem para o candidato do GOP, que defende o oposto
de o que desejam os partidários do grande rival de Hillary nas primárias.
Em seu discurso, Hillary enfatizou que o
próximo pleito será uma tomada de contas com a realidade.
Nunca um candidato do GOP se aproximou de
postura tão fascistóide quanto a de Trump.
Além disso, a sua superficialidade
desperta o temor de que sejam induzidos a graves erros de avaliação. Pensar que
alguém como Vladimir V. Putin possa ser amigo dos Estados Unidos é não só um
atestado de cavalar ignorância quanto ao perfil e ideologia do ex-funcionário do KGB, mas também uma
simploriedade no que tange a alguém que não se conforma com a capitis deminutio da atual Federação
Russa, no que concerne aos títulos anteriores da defunta URSS, vitimada pela
singular implosão da revolução provocada involuntariamente por seu último líder
Mikhail Gorbachev.
A postura de Donald Trump - que
aparentemente desdenha a informação dos especialistas - leva a perigosas
simplificações, que podem ser a antítese da visão ponderada da realidade.
Assim, as suas receitas: eu possa dar um jeito nisso (I can fix
it) carregam uma postura que é antônima
do estadista que não pensa dispensar, no estudo das questões, a visão dos
especialistas.
O anti-intelectualismo e a tendência de
arrogar-se o controle (e as decisões) dos diversos temas são dois braços que se
unem, e não necessariamente conduzem a uma visão equilibrada da realidade.
Um candidato tão fraco em termos de
concepção e de atitude (no que tange especialmente à tendência da
simplificação excessiva das questões) não é um bom indício para a democracia
americana.
Contudo, o maior perigo em uma
democracia está em adotar um juízo preconceituoso no que tange ao adversário nas urnas. Pensar que
alguém não apresenta maior perigo pela sua aparente simploriedade, e pela
suposta falta de sofisticação política, seria incorrer em grave erro de
subestimação do adversário.
Não se pode esquecer que Donald Trump -
o suposto candidato do verão - triturou nas primárias os seus adversários no
GOP (Jeb Bush, Marco Rubio, Joe Kasich, e o redivivo Joe MacCarthy, representado através do senador
pelo Texas Ted Cruz).
A sua atuação na próxima eleição vai
se afigurando como verdadeira incógnita. Como todo demagogo, ele está demasiado
próximo do homem comum, e por isso o que
mais pode ajudá-lo será a respectiva subestimação, assim como uma crença
perigosa de que o eleitor vá necessariamente identificar-se com a mais
habilitada. Não se vá esquecer que Hillary é demasiado conhecida tanto pela
imprensa, quanto pelo Povo, e isso pode ser bom ou mau, atendidas as
circunstâncias.
De modo algum a candidata democrata
pode permitir-se subestimar o adversário, e tal subestimação, como não se
desconhece, pode se refletir em muitos aspectos. Nesse contexto, o homem da
rua, o homem comum, e a própria mulher que desconfia da esperta Hillary podem
ser trunfos na mão de um candidato populista e simplista, que está pronto para
ser objeto da auto-identificação do eleitor.
Por isso toda cautela - e caldo de
galinha - é pouco para enfrentar um adversário do imprevisível porte do
demagogo Donald Trump.
( Fonte colateral: The New York Times )
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