Primeira página da Folha
É sobejamente conhecida a
rivalidade entre São Paulo, a megacidade
brasileira, e o Rio de Janeiro, a Cidade
Maravilhosa.
Quem irá negar o charme do Rio? No
entanto, está longe o ano de 1935, data da gentil marchinha de André
Filho, com arranjo de Silva Sobreira, que foi sucesso no carnaval
daquele ano.
O Rio daquele tempo - quantas
pessoas ainda dele se lembrarão? - dizem que era uma bela cidade, sem os
problemas que hoje a acossam, derivados de sua explosão populacional.
De algum modo, graças em boa parte
às suas belezas naturais - aquelas que não conseguiram ou estragar ou desvirtuar - merece
ainda ser chamada pelo doce epíteto de
Cidade Maravilhosa.
E é isto que rói os nossos
vizinhos paulistas. Na verdade, São Paulo faz muito superou o Rio, tanto em
riqueza, quanto em população, mas não poderá lográ-lo quanto ao entorno
natural.
É certo, no entanto, que as
administrações estaduais e municipais cariocas semelham esforçar-se na inglória
empresa de desfazer-se desse encanto que há séculos paira no entorno da Baía de
Guanabara.
Lê-se em cronistas dos séculos XVIII
e XIX da funda impressão que a conformação natural dessa baía dava aos cansados
viajantes que por aqui aportavam, vendo as montanhas, a luxuriante floresta e
as graças do encontro entre mar, montes,
florestas e o casario da muy leal e heróica cidade de São Sebastião do Rio de
Janeiro! Era uma visão dita grandiosa, contemplada por passageiros
escarmentados por longas - e perigosas - travessias marítimas, que mal
acreditavam em tanta beleza natural, em boa parte fornecida grátis por
mãe-natureza.
Com a vindoura e iminente Olimpíada
do Rio de Janeiro, infelizmente os administradores do Rio de Janeiro (Governos
do Estado e Cidade) não aferraram a oportunidade de crescerem junto ao povo
circunstante e aos muitos emboabas que aqui estarão na iminente - e põe
iminente nisso - Olimpíada, despoluindo a Baía (de que a fauna e a flora
agradeceriam penhoradas), para ensejar uma competição sem vexames e com muita
(boa) exposição da que era considerada a mais bela baía do planeta, superior a
outras como a de Nápoles. Prometeram, mas não cumpriram, devendo a
população local sofrer o opróbio de tomadas sobre a imundície presente nessa
baía, que vai matando a restante magra povoação de golfinhos, e aí só tolerando
aquelas espécies animais hediondas que resistem a tudo (ou quase tudo)em termos
de poluição marinha.
Mas voltemos ao assunto principal.
Nem na Lagoa Rodrigo de Freitas, que é um espaço bastante menor àquele da Baía
da Guanabara, se dignou a autoridade local a fazer um esforço de despoluição,
nesse caso bastante menos trabalhoso, porque são conhecidos os esgotos
(ilegais) que vomitam nas águas daquela lagoa as águas negras de habitações que
recorrem a esse meio altamente poluidor para alegadamente compensar a desídia
da autoridade municipal. E é nesse espaço que se realizarão as disputas de remo
e canoagem.
Mas digressões à parte, voltemos
à questão motivante do comentário em apreço.
Ao contrário de O Globo, jornal
do Rio de Janeiro, que comenta o desafio olímpico, ressaltando por vezes as
conquistas alcançadas na sua preparação,
a Folha de S. Paulo não raro mostra em primeira página pontos
questionáveis na preparação do Rio de Janeiro para a Olimpíada.
A edição de hoje da Folha decerto
não me desmente. Sob a legenda CORRIDA
COM OBSTÁCULO, a foto colorida aponta para poste recém-instalado em ciclovia que passa em frente ao Parque
Olímpico.
O tal poste - cuja má-colocação
é evidente e até dispensa explicação - é mais um erro na correria para a
Olimpíada. Tem havido muitos, em verdade, mas a insistência no aspecto negativo
pode transmitir a impressão, de certo errônea, que o esforço olímpico do Rio de
Janeiro é visto com um certo vezo pela imprensa dos nossos co-irmãos paulistas.
Por vezes, esse quadro chega a
exagerar, como no recente artigo
publicado pelo mega-jornal The New York
Times, que é assinado por jornalista paulista, que quiçá haja exagerado um
tanto na sua avaliação negativa para as colunas do Times. Acho que, por ocasião de tal magno ensejo, não
será patriotada torcer para que, erros à parte (e foram muitos, como os acima
referidos), mais uma vez desiludamos os profetas do mau-agouro...
Supremo pede investigação à Polícia Federal
A Folha de hoje publicação
na sexta página, na seção Poder, uma notícia que desafia a credulidade do
leitor. Sob o título "STF pede
para a PF que investigue bonecos de
Lewandowski e Janot".
Não é que o STF (Supremo Tribunal
Federal) enviou à Polícia Federal um
pedido para que seja aberta investigação
para apurar os responsáveis por levar a
uma manifestação na av. Paulista bonecos infláveis - os chamados Pixulecos - que
pretenderiam representar o presidente do Tribunal, Ricardo Lewandowski, e o
Procurador-Geral Rodrigo Janot.
Segundo o ofício assinado pelo
Secretário de Segurança do STF, os Pixulecos representam "grave ameaça à
ordem pública e inaceitável atentado à credibilidade " do Judiciário e
ultrapassam a liberdade de expressão.
O que de fato houve para motivar
essa estranha manifestação, que parece vir de outros tempos, com conotações que
pouco ou nada têm a ver com a ordem democrática, que desde o Segundo Reinado,
D. Pedro II - que sofria na carne tais caricaturas nos jornais da época - nos
ensinou a tolerar, como expressão de liberdade de pensamento, jamais permitindo
que se perseguisse judicialmente os supostos incriminados.
O que mostravam os pixulecos da manifestação
de dezenove de junho último: parte dos manifestantes do grupo Nas Ruas levaram
boneco de terno com estrela vermelha no peito, com a sigla PT. Alcunhado de "Petralovski",
fazia alusão ao presidente da Corte, Ricardo
Lewandowski.
O outro pixuleco mostrou a figura
do procurador-geral Rodrigo Janot,
como a de um arquivo, também com gravata e estrela vermelhas, e a grafia "Petralhas",
foi apelidado de "Enganô".
Mas a parte mais difícil de
acreditar vem a seguir. De um lado, a Secretaria de Segurança do STF pede que
seja investigado(sic) se o ato caracterizou crime de difamação - o qual tem
como punição prevista detenção de três meses a um ano, e multa.
Ainda na mesma linha, de acordo
com o Supremo, foi identificada, como suposta líder da manifestação, Carla Zambelli Salgado. As ditas fontes
assinalam que Carla se acorrentara na
Câmara dos Deputados para
defender o impeachment de Dilma Rousseff, a presidente afastada,
Mas a nota não para aí. A Secretaria de Segurança (?) do Supremo pede
que sejam tomadas medidas "em caráter de urgência", com todos os
esforços "no sentido de interromper a nefasta campanha difamatória contra
o Chefe do Poder Judiciário, de maneira a que esses contrangimentos não mais se
repitam."
Por trás dessas aspas ressurge espírito
que, estranhamente, ignora o caráter da Constituição
Cidadã, segundo a denominou Ulysses
Guimarães. Vemos aí repontar, com a sua face diversa, e que não inspira os
mesmos sentimentos, um outro espírito que nada tem a ver com a Carta Magna que, quer queiram ou não,
eliminou de nossa legislação o vinco da Chamada Gloriosa, afastando com o seu horror à Censura Oficial qualquer
conotação do Antigo Regime.
No final dessa nota, Carla
Zambelli Salgado afirma
simplesmente que o tribunal deveria tomar as charges como uma crítica
construtiva.
( Fontes: Folha de S. Paulo, O Globo, The New York
Times; obras de Jaime Cortesão sobre
Alexandre de Gusmão e Brasil Colonial)
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