quinta-feira, 7 de julho de 2016

Cruéis Dúvidas ?

                                    

Primeira página da Folha


         É sobejamente conhecida a rivalidade entre São Paulo, a megacidade brasileira, e o Rio de Janeiro, a Cidade Maravilhosa.
          Quem irá negar o charme do Rio? No entanto, está longe o ano de 1935, data da gentil marchinha de André Filho, com arranjo de Silva Sobreira, que foi sucesso no carnaval daquele ano.
           O Rio daquele tempo - quantas pessoas ainda dele se lembrarão? - dizem que era uma bela cidade, sem os problemas que hoje a acossam, derivados de sua explosão populacional.
            De algum modo, graças em boa parte às suas belezas naturais - aquelas que  não conseguiram ou estragar ou desvirtuar - merece ainda  ser chamada pelo doce epíteto de Cidade Maravilhosa.
             E é isto que rói os nossos vizinhos paulistas. Na verdade, São Paulo faz muito superou o Rio, tanto em riqueza, quanto em população, mas não poderá lográ-lo quanto ao entorno natural.
           É certo, no entanto, que as administrações estaduais e municipais cariocas semelham esforçar-se na inglória empresa de desfazer-se desse encanto que há séculos paira no entorno da Baía de Guanabara.
           Lê-se em cronistas dos séculos XVIII e XIX da funda impressão que a conformação natural dessa baía dava aos cansados viajantes que por aqui aportavam, vendo as montanhas, a luxuriante floresta e as graças do encontro entre  mar, montes, florestas e o casario da muy leal e heróica cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro! Era uma visão dita grandiosa, contemplada por passageiros escarmentados por longas - e perigosas - travessias marítimas, que mal acreditavam em tanta beleza natural, em boa parte fornecida grátis por mãe-natureza.
            Com a vindoura e iminente Olimpíada do Rio de Janeiro, infelizmente os administradores do Rio de Janeiro (Governos do Estado e Cidade) não aferraram a oportunidade de crescerem junto ao povo circunstante e aos muitos emboabas que aqui estarão na iminente - e põe iminente nisso - Olimpíada, despoluindo a Baía (de que a fauna e a flora agradeceriam penhoradas), para ensejar uma competição sem vexames e com muita (boa) exposição da que era considerada a mais bela baía do planeta, superior a outras como a de  Nápoles.  Prometeram, mas não cumpriram, devendo a população local sofrer o opróbio de tomadas sobre a imundície presente nessa baía, que vai matando a restante magra povoação de golfinhos, e aí só tolerando aquelas espécies animais hediondas que resistem a tudo (ou quase tudo)em termos de poluição marinha.
             Mas voltemos ao assunto principal. Nem na Lagoa Rodrigo de Freitas, que é um espaço bastante menor àquele da Baía da Guanabara, se dignou a autoridade local a fazer um esforço de despoluição, nesse caso bastante menos trabalhoso, porque são conhecidos os esgotos (ilegais) que vomitam nas águas daquela lagoa as águas negras de habitações que recorrem a esse meio altamente poluidor para alegadamente compensar a desídia da autoridade municipal. E é nesse espaço que se realizarão as disputas de remo e canoagem.
              Mas digressões à parte, voltemos à questão motivante do comentário em apreço.
              Ao contrário de O Globo, jornal do Rio de Janeiro, que comenta o desafio olímpico, ressaltando por vezes as conquistas alcançadas na sua preparação,  a Folha de S. Paulo não raro mostra em primeira página pontos questionáveis na preparação do Rio de Janeiro para a Olimpíada.
              A edição de hoje da Folha decerto não me desmente. Sob a legenda  CORRIDA COM OBSTÁCULO, a foto colorida aponta para poste recém-instalado  em ciclovia que passa em frente ao Parque Olímpico.
               O tal poste - cuja má-colocação é evidente e até dispensa explicação - é mais um erro na correria para a Olimpíada. Tem havido muitos, em verdade, mas a insistência no aspecto negativo pode transmitir a impressão, de certo errônea, que o esforço olímpico do Rio de Janeiro é visto com um certo vezo pela imprensa dos nossos co-irmãos paulistas.
                Por vezes, esse quadro chega a exagerar, como  no recente artigo publicado pelo mega-jornal The New York Times, que é assinado por jornalista paulista, que quiçá haja exagerado um tanto na sua avaliação negativa para as colunas do Times.  Acho que, por ocasião de tal magno ensejo, não será patriotada torcer para que, erros à parte (e foram muitos, como os acima referidos), mais uma vez desiludamos os profetas do mau-agouro...



Supremo pede investigação à Polícia Federal



          A Folha de hoje publicação na sexta página, na seção Poder,   uma notícia que desafia a credulidade do leitor. Sob o título "STF pede para  a PF que investigue bonecos de Lewandowski e Janot".
           Não é que o STF (Supremo Tribunal Federal)  enviou à Polícia Federal um pedido para que seja aberta  investigação para apurar os responsáveis  por levar a uma manifestação na av. Paulista bonecos infláveis - os chamados Pixulecos - que pretenderiam representar o presidente do Tribunal, Ricardo Lewandowski, e o Procurador-Geral Rodrigo Janot.
           Segundo o ofício assinado pelo Secretário de Segurança do STF, os Pixulecos representam "grave ameaça à ordem pública e inaceitável atentado à credibilidade " do Judiciário e ultrapassam a liberdade de expressão.
             O que de fato houve para motivar essa estranha manifestação, que parece vir de outros tempos, com conotações que pouco ou nada têm a ver com a ordem democrática, que desde o Segundo Reinado, D. Pedro II - que sofria na carne tais caricaturas nos jornais da época - nos ensinou a tolerar, como expressão de liberdade de pensamento, jamais permitindo que se perseguisse judicialmente os supostos incriminados.
              O que mostravam os pixulecos da manifestação de dezenove de junho último: parte dos manifestantes do grupo Nas Ruas levaram boneco de terno com estrela vermelha no peito, com a sigla PT. Alcunhado de "Petralovski", fazia alusão ao presidente da Corte, Ricardo Lewandowski.
             O outro pixuleco mostrou a figura do procurador-geral Rodrigo Janot, como a de um arquivo, também com gravata e estrela vermelhas, e a grafia "Petralhas", foi apelidado de "Enganô".
             Mas a parte mais difícil de acreditar vem a seguir. De um lado, a Secretaria de Segurança do STF pede que seja investigado(sic) se o ato caracterizou crime de difamação - o qual tem como punição prevista detenção de três meses a um ano, e multa.
             Ainda na mesma linha, de acordo com o Supremo, foi identificada, como suposta líder da manifestação, Carla Zambelli Salgado. As ditas fontes assinalam que Carla se acorrentara na  Câmara dos Deputados para  defender o impeachment de Dilma Rousseff, a presidente afastada,
            Mas a nota não para aí.  A Secretaria de Segurança (?) do Supremo pede que sejam tomadas medidas "em caráter de urgência", com todos os esforços "no sentido de interromper a nefasta campanha difamatória contra o Chefe do Poder Judiciário, de maneira a que esses contrangimentos não mais se repitam."   
            Por trás dessas aspas ressurge espírito que, estranhamente, ignora o caráter da Constituição Cidadã, segundo a denominou Ulysses Guimarães. Vemos aí repontar, com a sua face diversa, e que não inspira os mesmos sentimentos, um outro espírito que nada tem a ver com a Carta Magna que, quer queiram ou não, eliminou de nossa legislação o vinco da Chamada Gloriosa, afastando com o seu horror à Censura Oficial qualquer conotação do Antigo Regime.
            No final dessa nota, Carla Zambelli Salgado afirma simplesmente que o tribunal deveria tomar as charges como uma crítica construtiva.      
             

( Fontes: Folha de S. Paulo, O Globo, The New York Times; obras de Jaime Cortesão sobre Alexandre de Gusmão e Brasil Colonial)   

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