A segunda novela da Rede Manchete seria
grande, em verdade, descomunal êxito. Com efeito, Dona Beja, na interpretação
de Maitê Proença, fez muito sucesso, com a história da cortesã de Araxá. Dada a jovem beleza de Maitê, as cenas de
nudez explícita, como o seu desfile em cavalo branco, sacudiram a modorra da
tevê, e levaram o Ibope às alturas. Teve 89 capítulos, em texto de Wilson
Aguiar e direção de Herval Rossano.
Com a formosura da protagonista,
sintonizar para a Tevê Manchete deixou de ser opção eventual, e o sucesso de
público da novela desbancaria a concorrência.
Nessa primeira década da tevê
Manchete, houve outros êxitos, como Tudo
ou Nada, de Manoel Carlos e direção de Herval Rossano. Essa foi a primeira
novela que chegou à marca de 161 capítulos.
Por sua vez, com Helena, de Mário Prata, surge Luis Fernando Carvalho, na
direção. Ele voltaria na novela
seguinte, Carmen, de Glória Perez, dividindo
a direção da novela com José Wilker, em seus 180 capítulos.
Essa década terminaria com Kananga do Japão, que teve 208
episódios. Com a autoria de Wilson
Aguiar e a direção de Tizuka Yamasaki, a
novela foi inspirada pela vivência boêmia de Adolpho nesse bar da sua mocidade.
A segunda década foi aberta pela
novela Pantanal, com 216 episódios,
escrita por Benedito Ruy Barbosa e dirigida por Jayme Monjardim.
Com o grande, descomunal êxito de Pantanal,
Adolpho vivenciou a realidade de tratar
de igual para igual com a Rede Globo. Pantanal
conquistou nossa gente pela sua telúrica brasilidade, originalidade extrema e
pelo que significava através da ampla penetração em uma terra real, que se tornou
rara, inigualável experiência para o público brasileiro. Por isso, não havia
opção nem possível concorrência com a novela, até que boa, Rainha
da Sucata, na programação da Rede Globo. A diferença era demasiado grande
para que o espectador sequer considerasse ver a produção da Globo, diante do
fenômeno telúrico que foi Pantanal. A
disparidade se afirmou de tal forma que a habitual ambivalência do
telespectador não tinha sequer condições de colocar-se.
Desde fins de março até princípios
de dezembro de 1990 Pantanal encanta o Brasil, e a Rede Manchete, com o ibope nas alturas, fez com que a Rede Globo
se arrastasse nos baixios dos públicos menores.
Também o cast de Pantanal foi montado para corresponder à força do desafio. Cassia Kiss é a grande protagonista, com
o personagem de Maria Marruá, e a sua
filha, Junia Marruá (Cristiana Oliveira) faz o papel de sua
vida. Nos papéis masculinos, na segunda parte da trama, avulta a presença do
ator Paulo Gorgulho, como José Leôncio.
Como esses grandes tableaux cênicos - no qual a simples
presença constitui menção notável de desempenho numa carreira artística - nele
encontramos na primeira e segunda partes José Duarte, Claudio Marzo, Jussara
Freire, Enrique Diaz, Ewerton de Castro Sérgio Britto, Marcos Winter, Marcos
Palmeira, Andrea Richa, Carolina Ferraz, José de Abreu, Oswaldo Loureiro, Itala
Nandi e Nathalia Timberg.
Nos cinco anos que lhe restaram
de vida, Adolpho não viu sucesso equivalente a Pantanal. O fora do comum, o extraordinário convive mal com as
novas produções. Se as novelas seguintes - A
história de Ana Raio e Zé Trovão
- teve 251 capítulos e Amazônia, 162,
tampouco as ulteriores - Guerra sem Fim, e 74.5-Uma onda no Ar - seriam grandes sucessos. Como as grandes
árvores na floresta não convivem em sua cercania com outras que se lhes
comparem em pujança. Assim como o tamanho descomunal, também o grande sucesso
só o será se cercado por realidades que não lhe façam sombra.
Quando Adolpho Bloch falece na
mesa de operação do Hospital da |Beneficência Portuguesa, em São Paulo, em 19
de novembro de 1995, em extrema tentativa da equipe médica de recompor-lhe a
válvula mitral, tem ele oitenta e sete anos,
há pouco completados em oito de outubro.
Um comentário:
Caro Pai, não tinha ideia que você sabia tanto sobre as novelas da Manchete. Confesso que os nomes evocam longínquas recordações para mim, mas sua descrição me fez rever a sala em Brasília, e todos ao redor da mesa mexicana, vendo a novela. Sinto saudades daqueles dias. Hoje olho para Cecília, assistindo TV conosco. Espero que daqui a 30 anos também ela se lembre saudosamente disso...
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