O número do blog,
relativo às memórias de seu sobrinho postiço, aponta para o número treze. Ora, todo o brasileiro - e
mais ainda o tio Adolpho Bloch, apesar de nascido no Império russo, no tempo do
Tsar de todas as Rússias, Nicolau II, o último dos Romanoff, que, com o pai Joseph Bloch e toda a família
para cá viera, e se pode, por muitos títulos, considerá-lo carioca quase da
gema, seja como sambista, seja como boêmio - conserva um pouco daquela atitude
de que ignora 'si hay brujas, pero que
las hay, las hay!'.
A verdade, no entanto, é que a minha memória - e já
passa um bom tempo que Adolpho nos deixou - teima em não me proporcionar vaza para afirmar que Bloch fosse
supersticioso.
Sem embargo, entre suas alegadas fraquezas,
estava o carteado e a roleta, segundo me consta. Recordo-me bem das broncas que
levava da esposa por este seu hábito, que o chamava ao pano verde, lá
arriscando o que não devia. Dada a natureza da questão, e a respectiva aura de
proibido, as crianças só colhiam migalhas de tais suspicácias. Pairavam no ar,
e, sobretudo, porque batiam de frente com o próprio jeitão seguro e categórico
de Adolfo.
Foram poucas vezes que tive nebulosa ciência
disso. Corria que quando a tentação do carteado ou de alguma roleta clandestina
o vencesse, passava uns dias meio encolhido. Tal fenômeno, esse lado da
malandragem carioca, por sorte, não lhe era comum. Dado o caráter furtivo do
fenômeno, e a tendência dos adultos em torná-lo segredo para o público miúdo, a
possibilidade de conhecimento mais amplo nos era, e por óbvias razões,
denegada. Aí estaria, decerto, a razão para que intuíssemos essas suas
escorregadelas.
A única coisa que fica seriam as broncas que levava de Lucy, e o seu ar
estranhamente encolhido, em se tratando de quem se tratava, com a postura em
geral afirmativa e expansiva.
Nesses curtos intervalos, Adolpho
parecia outra pessoa. De qualquer forma,
aquilo surgia para os menores como inexplicável fenômeno. Qualquer indagação a
mais velhos, iria produzir a previsível ralhação. Nesses tempos efêmeros, o
jeitão do Tio Adolpho mudava, e ele parecia até desejar maior diálogo com os
mais jovens.
Aqueles moods seriam, todavia, coisa de pouca duração. Já num par de dias,
ou até na jornada seguinte, voltaria a ser o Bloch de sempre, livre daqueles
ares ou demônios que o faziam um tanto carente, e, por conseguinte, ainda mais
próximo do público miúdo...
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