terça-feira, 14 de junho de 2016

Lembranças de meu Tio Adolpho (XIII)

                        

        O número do blog, relativo às memórias de seu sobrinho postiço, aponta para o número treze. Ora, todo o brasileiro - e mais ainda o tio Adolpho Bloch, apesar de nascido no Império russo, no tempo do Tsar de todas as Rússias, Nicolau II, o último dos Romanoff,  que, com o pai Joseph Bloch e toda a família para cá viera, e se pode, por muitos títulos, considerá-lo carioca quase da gema, seja como sambista, seja como boêmio - conserva um pouco daquela atitude de que ignora 'si hay brujas, pero que las hay,  las hay!'.
        A verdade, no entanto, é que a minha memória - e já passa um bom tempo que Adolpho nos deixou - teima em não me proporcionar vaza para afirmar que Bloch fosse supersticioso.
         Sem embargo, entre suas alegadas fraquezas, estava o carteado e a roleta, segundo me consta. Recordo-me bem das broncas que levava da esposa por este seu hábito, que o chamava ao pano verde, lá arriscando o que não devia. Dada a natureza da questão, e a respectiva aura de proibido, as crianças só colhiam migalhas de tais suspicácias. Pairavam no ar, e, sobretudo, porque batiam de frente com o próprio jeitão seguro e categórico de Adolfo.
         Foram poucas vezes que tive nebulosa ciência disso. Corria que quando a tentação do carteado ou de alguma roleta clandestina o vencesse, passava uns dias meio encolhido. Tal fenômeno, esse lado da malandragem carioca, por sorte, não lhe era comum. Dado o caráter furtivo do fenômeno, e a tendência dos adultos em torná-lo segredo para o público miúdo, a possibilidade de conhecimento mais amplo nos era, e por óbvias razões, denegada. Aí estaria, decerto, a razão para que intuíssemos essas suas escorregadelas.
          A única coisa que fica seriam as broncas que levava de Lucy, e o seu ar estranhamente encolhido, em se tratando de quem se tratava, com a postura em geral afirmativa e expansiva.
          Nesses curtos intervalos, Adolpho parecia  outra pessoa. De qualquer forma, aquilo surgia para os menores como inexplicável fenômeno. Qualquer indagação a mais velhos, iria produzir a previsível ralhação. Nesses tempos efêmeros, o jeitão do Tio Adolpho mudava, e ele parecia até desejar maior diálogo com os mais jovens.

          Aqueles moods seriam, todavia, coisa de pouca duração. Já num par de dias, ou até na jornada seguinte, voltaria a ser o Bloch de sempre, livre daqueles ares ou demônios que o faziam um tanto carente, e, por conseguinte, ainda mais próximo do público miúdo...   


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