segunda-feira, 20 de junho de 2016

E se Ela escapar ?

                                    

         Parece até brincadeira... mas se for, será uma de muito mais gosto. Já me tinha referido ao sistema disfuncional de impeachment adotado pela legislação brasileira. Decorrência de um atraso de mais de meio século, em que a lei complementar desse processo constitucional date dos anos cinquenta (do século passado!), feita sob outra Constituição, já de muito enterrada por um golpe militar, não há de surpreender que a legislação vigente para o dito processo se assemelhe a um verdadeiro Frankenstein ...
         Em blog já me havia referido a outra idiossincrasia do vigente processo de impeachment, que vigorou para livrar-nos da presidência de Fernando Collor, e que está em aplicação para supostamente determinar o afastamento definitivo da Presidente Dilma Rousseff.
         No entanto, o governo interino do vice-presidente Michel Temer segue aos trancos e barrancos, tendo que livrar-se de uma série de ministros que caíram na engrenagem da Lava-Jato. Não é só o cordão dos puxa-sacos que cada vez aumenta mais. Vários ministros já foram demitidos ou se exoneraram porque havia propinas no seu passado.  O próprio presidente interino se vê no campo de tiro da metralhadora giratória do delator-mór da República, o peemedebista Sérgio Machado. 
          Ele não titubeou em  negar que houvesse pedido propina para a candidatura a prefeito de Chalita, e o fez com a dignidade que costuma vestir as próprias declarações.
           Mas como dizia o personagem de Beaumarchais, que recomendava o desbragado recurso à calúnia: "Sempre fica alguma coisa..." Será? É a pergunta que insiste em colocar-se.
           Por todos esses sacolejos e eventuais tropeços, não surpreende que principiem a surgir dúvidas entre os senhores senadores. Surge um bloco de indecisos... E volta a haver dois polos.
            Em blog anterior reportei-me ao procedimento análogo adotado nos Estados Unidos. Mas convenhamos, na sua brevidade oitocentesca - que, decerto, algumas emendas posteriores vieram engordar um pouquinho - a Constituição americana trata a questão do impeachment de uma maneira assaz mais breve e mais... inteligente.
             Repitamos um processo bastante recente. O GOP queria porque queria derrubar o popular presidente democrata Bill Clinton. Razões foram encontradas, mas o procedimento constitucional nos States difere do nosso. A coisa, por complicada que seja, é tratada de uma forma mais simples do que a nossa: a Câmara dos Representantes vota se o Presidente deve ou não ser julgado pelo Senado. Nesse processo, a maioria se pronuncia favoravelmente ao julgamento. O Senado então julga, e por maioria de votos, o presidente Clinton não sofreu o impeachment. Agora, se a maioria fosse pelo impeachment, o presidente seria afastado de forma definitiva.
                 Em Pindorama, o processo de impeachment pode ser um convite ao que está agora sucedendo. Uma presidenta desmoralizada é afastada por larga maioria de votos, mas ao invés de entrar em funções um novo governo, se instala um presidente interino, sob o pretexto de que o Senado ainda carece de mais tempo para decidir se a presidenta deve ser ou não afastada definitivamente.
                   Não é necessário ser  grande conhecedor  da natureza humana, para ver aí a velha burocracia vigente na península ibérica, e por infeliz herança, entre nós, para de  forma inequívoca tornar a refazer o processo, a pretexto de informar-se mais sobre os erros da presidente afastada.
                     Através desse sistema complicamos o que é simples, e o que é pior, damos oportunidade a quem é vista como uma das mais disfuncionais presidentes, com uma popularidade abissal que rivaliza com a de Collor e a de Sarney, a ter oportunidade de voltar depois de todo o mau governo (inflação nas alturas, largo desemprego e os tombos na ética) - como é que ficaríamos depois, com uma presidenta disfuncional, desprovida de qualquer condição de governar? 
                      Tudo isso pode ocorrer porque um grupo de senadores que se crêem muito espertos farejaram que os tropeços do Governo interino de Michel Temer lhes dão a oportunidade única de leiloar quem deva ser presidente na Terra da Santa Cruz.

                       Não seria comovente? E quem acredita que Dilma Rousseff teria condições de governar ?

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