domingo, 26 de junho de 2016

Lembranças de meu Tio Adolpho (XIX)

                         

       Posso agora, sempre contando com a paciência do leitor, rematar o capítulo relativo à chamada ciranda dos bancos.
       Os empréstimos, mais do que necessários, eram indispensáveis para que Adolpho levasse avante o seu projeto de um Bloch Editores não mais amarrado a pequenas realizações editoriais, mas também a vetores na área do audio-visual.
        A inserção de Bloch Editores também no campo da televisão não constituía, por conseguinte, mero plano de agregar mais um veículo às suas organizações. A grandeza dessa iniciativa, se continha algo do projeto inicial de Irmãos Bloch, representou salto de qualidade, algo que se pode cotejar com a atividade anterior, mas que dela difere pelo próprio âmbito, assim como tampouco se confundem as progressões aritmética e geométrica.
        Com efeito, o audio-visual não constituía, no sentir de Adolpho, mera projeção de vaidade. A ambição de Adolpho Bloch não se restringia, por conseguinte, a simples adendo, espécie de me-too (eu também), a acrescentar às realizações e empresas de Bloch Editores.
        Para Adolpho, no campo e parâmetros que atingira, ficar parado equivalia à quase confissão de incapacidade de atingir a dimensão de seus competidores.
         Na verdade, no microcosmo brasileiro, se nominalmente há muitas empresas televisivas, a par da principal, as demais constituem redes-sombra que não têm condições de emparelhar-se, em termos de efetiva concorrência, à organização líder nesse campo.
          Em posição não tão favorável quanto à encontrada pela empresa-líder quando encetara a própria caminhada empresarial, eis que na prática, se esfacelara, com a partida de Assis Chateaubriand, a rede Tupy, ainda embrionária. Sem descontar o aporte Time-Life, não há negar que o desafio - no sentido toynbeeano do termo - para a eventual rede Manchete era de enorme magnitude.  Ela, no entanto, não desencorajaria  um empresário do porte e quilate de Adolpho Bloch.                     
            No entanto, a instituição da Rede Manchete, se teve o selo do regime imperante - o general-presidente na época era João Batista Figueiredo, e seu principal ministro Golbery do Couto e Silva - e há elementos que o confirmem -  não há notícias que de longe  aproximem o apoio recebido pela incipiente Rede Globo através do esquema do Time-Life e do suporte do regime militar (através de financiamentos do BNDES) à concessão de eventuais facilidades de crédito à embrionária Rede Manchete.
           Daí a necessidade da chamada ciranda bancária. Adolpho e suas empresas careciam da assistência dos principais  bancos particulares da época, como o Banco Nacional, de Magalhães Pinto, o Banco Econômico, de Angelo Calmon  de Sá, e outros poucos mais.       

          A Rede Manchete  lançou  sua primeira novela em julho de 1985, Antonio Maria, escrita e dirigida por Geraldo Vietri. O papel título coube ao ator português Sinde Filipe, sendo o último capítulo transmitido a 23 de novembro de 1985. A Rede Globo encontrava, assim, uma concorrente de peso. A Rede Manchete lançaria nos próximos anos dezenove novelas, sendo dezesseis ainda em vida  de Adolpho Bloch. Mas tal será objeto dos próximos blogs.             

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