Posso agora, sempre
contando com a paciência do leitor, rematar o capítulo relativo à chamada
ciranda dos bancos.
Os empréstimos, mais do que necessários,
eram indispensáveis para que Adolpho levasse avante o seu projeto de um Bloch
Editores não mais amarrado a pequenas realizações editoriais, mas também a
vetores na área do audio-visual.
A inserção de Bloch Editores também no
campo da televisão não constituía, por conseguinte, mero plano de agregar mais
um veículo às suas organizações. A grandeza dessa iniciativa, se continha algo
do projeto inicial de Irmãos Bloch,
representou salto de qualidade, algo que se pode cotejar com a atividade
anterior, mas que dela difere pelo próprio âmbito, assim como tampouco se
confundem as progressões aritmética e geométrica.
Com efeito, o audio-visual não constituía,
no sentir de Adolpho, mera projeção de vaidade. A ambição de Adolpho Bloch não
se restringia, por conseguinte, a simples adendo, espécie de me-too (eu também), a acrescentar às realizações e empresas de Bloch
Editores.
Para Adolpho, no campo e parâmetros que
atingira, ficar parado equivalia à quase confissão de incapacidade de atingir a
dimensão de seus competidores.
Na verdade, no microcosmo brasileiro,
se nominalmente há muitas empresas televisivas, a par da principal, as demais
constituem redes-sombra que não têm condições de emparelhar-se, em termos de
efetiva concorrência, à organização líder nesse campo.
Em posição não tão favorável quanto à
encontrada pela empresa-líder quando encetara a própria caminhada empresarial, eis
que na prática, se esfacelara, com a partida de Assis Chateaubriand, a rede
Tupy, ainda embrionária. Sem descontar o aporte Time-Life, não há negar que o desafio - no sentido toynbeeano do termo - para a eventual rede Manchete era de enorme
magnitude. Ela, no entanto, não
desencorajaria um empresário do porte e
quilate de Adolpho Bloch.
No
entanto, a instituição da Rede Manchete, se teve o selo do regime imperante - o
general-presidente na época era João Batista Figueiredo, e seu principal
ministro Golbery do Couto e Silva - e há elementos que o confirmem - não há notícias que de longe aproximem o apoio recebido pela incipiente
Rede Globo através do esquema do Time-Life
e do suporte do regime militar (através de financiamentos do BNDES) à concessão
de eventuais facilidades de crédito à embrionária Rede Manchete.
Daí a necessidade da chamada ciranda
bancária. Adolpho e suas empresas careciam da assistência dos principais bancos particulares da época, como o Banco
Nacional, de Magalhães Pinto, o Banco Econômico, de Angelo Calmon de Sá, e outros poucos mais.
A Rede Manchete
lançou sua primeira novela em
julho de 1985, Antonio Maria, escrita e dirigida por Geraldo Vietri. O papel
título coube ao ator português Sinde Filipe, sendo o último capítulo transmitido
a 23 de novembro de 1985. A Rede Globo encontrava, assim, uma concorrente de
peso. A Rede Manchete lançaria nos próximos anos dezenove novelas, sendo
dezesseis ainda em vida de Adolpho
Bloch. Mas tal será objeto dos próximos blogs.
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