quarta-feira, 1 de junho de 2016

Mãe-Corrupção

                                        


         O Governo de Michel Temer, cujo objetivo principal, segundo consta, é o combate à corrupção, perde o seu segundo Ministro, com apenas   dezenove dias em função. O primeiro a cair fora foi Romero Jucá, no Planejamento, por sugerir em áudio um pacto para controlar a Lava-Jato.
         O segundo a tombar foi Fabiano Silveira, antes membro do Conselho Nacional de Justiça, órgão que fiscaliza o Poder Judiciário. A princípio, mesmo sob pressão, o Presidente Temer pretendia mantê-lo. Dada a situação, o próprio Silveira veio optou pela  demissão.
         Os funcionários da Pasta da Transparência - antes CGU - chegaram em protesto a lavar a porta da sala do Ministro, de quem exigiram a exoneração.  Diante do escândalo, e da manifesta impossibilidade política de mantê-lo, Temer acedeu - e com ele, em menos de 20 dias,  viu-se   partir  o segundo Ministro, pela força da Lava-Jato.
         Por ser um sucesso, a Lava-Jato incomoda aos grandes de Brasília. Veem nela mecanismo infernal, com que jamais se lhes deparara antes. Daí os comentários e as indiscrições colhidas pelo sinuoso gravador do ex-presidente da Transpetro.
          A pressão psicológica exercida pela nova situação - sobretudo pela novel circunstância de que depois de tantas palavras, promessas e  ameaças   surge uma operação que  veio surpreender tanto pela simplicidade, quanto pela amplitude do apoio colhido.
           Ao contrário de outras operações, a Lava-Jato foi crescendo aos poucos, e pela respectiva seriedade, colheu de imprevisto o ceticismo e mesmo o cinismo de um mundo político que, com as exceções de praxe, vivera demasiado tempo acreditando-se invulnerável, embalados pela crença de que tais esquemas seriam fogo de palha ou, na melhor das hipóteses, se desfariam quando topassem obstáculos de maior porte.
             Os cínicos, os céticos e a vasta malta dos descrentes em um programa que lograsse continuar contra os grandes personagens do mundo político, todo esse público habituado e mesmo embalado nas cantigas do súbito desmoronar de ambiciosas operações pregressas, que se desfizeram do dia para a noite fulminadas por liminares de tribunais superiores, ou por eventos similares, que lhes testaram a força e os encontraram, de repente, fracos e conformes a expectativa de repórteres calejados, ou de políticos tarimbaddos, toda essa assistência que a travessia até então tornara cínica, constituiria um outro fator que traria uma inesperada ajuda à Lava-Jato.
                Apesar de um antecipado descrédito,  pela suposta  invencivel escrita ,  o entorno da Lava Jato daria  ao grupo de Curitiba o espaço e sobretudo a desatenção que permitiria à Operação continuar no seu caminho, pautado pela probidade, experiência e seriedade na sua preparação e implementação.
                  Junto com a capacidade e a seridedade da magistratura e do Ministério Público, a Polícia Federal se tornaria a ponta de lança que iria encetar o longo caminho do levantamento de dados e da necessária investigação que pela gradualidade e respectiva  prudência na escalada dos objetivos iria colhendo os frutos do próprio estudo e empenho.Com isso pôde garantir, pela sua persistência, seriedade e êxito nos respectivos fins a criação de uma força inercial - que nada tinha a ver com o acaso - mas sim com uma programação séria, prudente, e acurada na seleção paciente dos sucessivos objetivos.
                    Por isso, a Lava-Jato se tornaria a realidade e a força que ela hoje constitui. De repente, o mundo da corrupção política e empresarial, habituado ao pavio curto dos ataques anteriores, não pôde, a princípio,perceber a ameaça que lhe representava a Lava-Jato.
                     Só há uma comparação cabível com a Lava Jato e foi a Operação Mãos Limpas que logrou o que para muitos italianos semelhava impossível:  vencer o ethos criminoso e a aliança entre políticos e a máfia, na Sicília. 
                   Até o presente momento, pela meticulosidade, estudo e a prudência na progressão contra os seus maiores adversários, a Lava-Jato continua  a avançar e o que é decerto mais importante, a granjear um apoio sólido na sociedade. A Operação Lava-Jato se tornou um movimento nacional  que continua a crescer pelo crédito e sobretudo as realizações de seus múltiplos componentes: na sua retaguarda está o apoio da gente brasileira, cansada com as operações fogo-de-palha. Em Curitiba está a sua retaguarda, com o Juiz Sérgio Moro. Por primeira vez, os famosos e os poderosos são tratados como qualquer outro. Que o jogo mudou basta ver a cadeia em Curitiba, e os diretores de empresas que lá permanecem.
                        A credibilidade da Lava-Jato não despontou do nada, e teve que enfrentar uma que outra crise. Mas Brasília não tardaria em dar-se conta de que os tempos haviam mudado, que as poucas liminares que abriram a porta da cadeia, seriam muito breve rescindidas, constatada a inviabilidade política de favorecer gente antes poderosa, que o bom trabalho da Lava-Jato tornaria impossível.
                          Até o próprio fatiamento da competência do juiz Moro não progrediria.
                          O objetivo da Lava-Jato: aplicar aos poderosos as penas que antes só se poderiam visualizar se dirigidas aos cidadãos ditos comuns, se a instrução e o respectivo julgamento lhes comprove a culpa representará uma grande conquista nacional, arrancada com pertinácia, coragem e competência pelo Ministério Público Federal e também o Estadual, a Polícia Federal, a Magistratura - de que é símbolo o Juiz Sérgio Moro - sem esquecer o aporte dos Tribunais Superiores, com o Supremo à frente.
                            Na cacofonia das gravações e das delações premiadas - que são a chave azeitada para girar os ferrolhos mais enferrujados e, até o presente,  menos superados até agora, e assim abri-los para que a Justiça possa penetrar nas antecâmeras, nos socavões e nos recessos de segredos antes protegidos pelo compadrio, os sigilos que a ameaça, o interesse corporativo e os pactos infernais pensaram blindar.
                              Quando a Lei penetrar nos recessos do Poder e a Lava-Jato chegar à sua Meta-Símbolo, àquele seja quem for que terá acreditado, ao iniciar a sua caminhada pelas alamedas do Crime, que a Sorte não lhe seria madrasta, estará reservado momento que muito terá a ver com a boa gente brasileira. Pela simples circunstância do nível de onde partira a sua insana progressão, quando tais ilusões se rasgarem de par em par, rompidas as sedosas cortinas e o pesado veludo que, por mais de um instante, toldara a luz da verdade, esteja onde estiver, e cercado pelo punhado daqueles que contra a própria pretérita experiência e o dizer de muitos, acreditara na boa luta, e no sorriso da Pátria Gentil, então que cada um desembainhe a própria arma, que lhes habilitou a abrir caminho na senda da Justiça. Será a hora em que todos hão de  ver o Sorriso da Gente Brasileira.
                                Não há melhor paga do que a satisfação do dever cumprido. E quanto mais alto ele alcance, maior será a certeza de que a vitória sobre a Corrupção, na Terra da Santa Cruz, será o signo benfazejo de um país que por fim se torna mais justo e equânime.      
                                  Vencer a Mãe-Corrupção que pesa sobre a brava gente brasileira, não será decerto fácil tarefa. Mas a longa jornada começa sempre com um passo.
                                   E que passo, minha Gente, ora estamos por assistir !


( Fontes: O Globo, Folha de S. Paulo, Estado de S. Paulo, VEJA, Rede Globo )

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