O Governo de Michel Temer, cujo objetivo principal,
segundo consta, é o combate à corrupção, perde o seu segundo Ministro, com
apenas dezenove dias em função. O primeiro a cair
fora foi Romero Jucá, no Planejamento, por sugerir em áudio um pacto para
controlar a Lava-Jato.
O segundo a tombar foi Fabiano
Silveira, antes membro do Conselho Nacional de Justiça, órgão que fiscaliza o
Poder Judiciário. A princípio, mesmo sob pressão, o Presidente Temer pretendia
mantê-lo. Dada a situação, o próprio Silveira veio optou pela demissão.
Os funcionários da Pasta da
Transparência - antes CGU - chegaram em protesto a lavar a porta da sala do
Ministro, de quem exigiram a exoneração.
Diante do escândalo, e da manifesta impossibilidade política de mantê-lo,
Temer acedeu - e com ele, em menos de 20 dias, viu-se partir o segundo Ministro, pela força da Lava-Jato.
Por ser um sucesso, a Lava-Jato
incomoda aos grandes de Brasília. Veem nela mecanismo infernal, com que jamais se
lhes deparara antes. Daí os comentários e as indiscrições colhidas pelo sinuoso
gravador do ex-presidente da Transpetro.
A pressão psicológica exercida pela
nova situação - sobretudo pela novel circunstância de que depois de tantas
palavras, promessas e ameaças surge
uma operação que veio surpreender tanto
pela simplicidade, quanto pela amplitude do apoio colhido.
Ao contrário de outras operações, a
Lava-Jato foi crescendo aos poucos, e pela respectiva seriedade, colheu de
imprevisto o ceticismo e mesmo o cinismo de um mundo político que, com as
exceções de praxe, vivera demasiado tempo acreditando-se invulnerável,
embalados pela crença de que tais esquemas seriam fogo de palha ou, na melhor
das hipóteses, se desfariam quando topassem obstáculos de maior porte.
Os cínicos, os céticos e a vasta
malta dos descrentes em um programa que lograsse continuar contra os grandes
personagens do mundo político, todo esse público habituado e mesmo embalado nas
cantigas do súbito desmoronar de ambiciosas operações pregressas, que se
desfizeram do dia para a noite fulminadas por liminares de tribunais
superiores, ou por eventos similares, que lhes testaram a força e os encontraram,
de repente, fracos e conformes a expectativa de repórteres calejados, ou de
políticos tarimbaddos, toda essa assistência que a travessia até então tornara
cínica, constituiria um outro fator que traria uma inesperada ajuda à
Lava-Jato.
Apesar de um antecipado
descrédito, pela suposta invencivel escrita , o entorno da Lava Jato daria ao grupo de Curitiba o espaço e sobretudo a
desatenção que permitiria à Operação continuar no seu caminho, pautado pela
probidade, experiência e seriedade na sua preparação e implementação.
Junto com a capacidade e a
seridedade da magistratura e do Ministério Público, a Polícia Federal se
tornaria a ponta de lança que iria encetar o longo caminho do levantamento de
dados e da necessária investigação que pela gradualidade e respectiva prudência na escalada dos objetivos iria
colhendo os frutos do próprio estudo e empenho.Com isso pôde garantir, pela sua
persistência, seriedade e êxito nos respectivos fins a criação de uma força
inercial - que nada tinha a ver com o acaso - mas sim com uma programação
séria, prudente, e acurada na seleção paciente dos sucessivos objetivos.
Por isso, a Lava-Jato se tornaria a realidade
e a força que ela hoje constitui. De repente, o mundo da corrupção política e
empresarial, habituado ao pavio curto dos ataques anteriores, não pôde, a
princípio,perceber a ameaça que lhe representava a Lava-Jato.
Só há uma comparação cabível com a Lava Jato e
foi a Operação Mãos Limpas que logrou o que para muitos italianos semelhava
impossível: vencer o ethos criminoso e a
aliança entre políticos e a máfia, na Sicília.
Até o presente momento, pela
meticulosidade, estudo e a prudência na progressão contra os seus maiores
adversários, a Lava-Jato continua a
avançar e o que é decerto mais importante, a granjear um apoio sólido na
sociedade. A Operação Lava-Jato se tornou um movimento nacional que continua a crescer pelo crédito e
sobretudo as realizações de seus múltiplos componentes: na sua retaguarda está
o apoio da gente brasileira, cansada com as operações fogo-de-palha. Em
Curitiba está a sua retaguarda, com o Juiz Sérgio Moro. Por primeira vez, os
famosos e os poderosos são tratados como qualquer outro. Que o jogo mudou basta
ver a cadeia em Curitiba, e os diretores de empresas que lá permanecem.
A credibilidade da
Lava-Jato não despontou do nada, e teve que enfrentar uma que outra crise. Mas
Brasília não tardaria em dar-se conta de que os tempos haviam mudado, que as
poucas liminares que abriram a porta da cadeia, seriam muito breve rescindidas,
constatada a inviabilidade política de favorecer gente antes poderosa, que o
bom trabalho da Lava-Jato tornaria impossível.
Até o próprio
fatiamento da competência do juiz Moro não progrediria.
O objetivo da
Lava-Jato: aplicar aos poderosos as penas que antes só se poderiam visualizar
se dirigidas aos cidadãos ditos comuns, se a instrução e o respectivo
julgamento lhes comprove a culpa representará uma grande conquista nacional,
arrancada com pertinácia, coragem e competência pelo Ministério Público Federal
e também o Estadual, a Polícia Federal, a Magistratura - de que é símbolo o
Juiz Sérgio Moro - sem esquecer o aporte dos Tribunais Superiores, com o
Supremo à frente.
Na cacofonia das
gravações e das delações premiadas - que são a chave azeitada para girar os
ferrolhos mais enferrujados e, até o presente, menos superados até agora, e assim abri-los
para que a Justiça possa penetrar nas antecâmeras, nos socavões e nos recessos
de segredos antes protegidos pelo compadrio, os sigilos que a ameaça, o
interesse corporativo e os pactos infernais pensaram blindar.
Quando a Lei penetrar nos recessos do Poder e
a Lava-Jato chegar à sua Meta-Símbolo,
àquele seja quem for que terá acreditado, ao iniciar a sua caminhada pelas
alamedas do Crime, que a Sorte não lhe seria madrasta, estará reservado momento
que muito terá a ver com a boa gente brasileira. Pela simples circunstância do
nível de onde partira a sua insana progressão, quando tais ilusões se rasgarem
de par em par, rompidas as sedosas cortinas e o pesado veludo que, por mais de
um instante, toldara a luz da verdade, esteja onde estiver, e cercado pelo
punhado daqueles que contra a própria pretérita experiência e o dizer de
muitos, acreditara na boa luta, e no sorriso da Pátria Gentil, então que cada
um desembainhe a própria arma, que lhes habilitou a abrir caminho na senda da
Justiça. Será a hora em que todos hão de ver o Sorriso da Gente Brasileira.
Não há melhor
paga do que a satisfação do dever cumprido. E quanto mais alto ele alcance,
maior será a certeza de que a vitória sobre a Corrupção, na Terra da Santa
Cruz, será o signo benfazejo de um país que por fim se torna mais justo e
equânime.
Vencer a
Mãe-Corrupção que pesa sobre a brava gente brasileira, não será decerto fácil
tarefa. Mas a longa jornada começa sempre com um passo.
E que passo,
minha Gente, ora estamos por assistir !
( Fontes: O Globo, Folha de
S. Paulo, Estado de S. Paulo, VEJA, Rede Globo )
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