Ao deparar ali Adolpho e Lucy, e o
pessoal da sucursal, quase não acreditei no que via. Naquele mundaréu de gente
não era fácil localizar alguém.
Com a minha experiência daquela
memorável jornada, não perdi tempo em dizer-lhes da minha impressão.
Adolpho, acho que vocês não deveriam
ficar aqui. A multidão é grande, está irritada, e não me parece prudente que seu
chofer se ponha logo à entrada do Campo da Esperança. Vocês se dão conta do
número de pessoas que passam por esse carrão que pode dar a muita gente uma impressão errada?
É, você tem razão, disse ele.
A dúvida estava no que fazer. Ficar
ali, dentro do carrão, nem pensar. Mas o quê então?
Já sabia que alguns políticos do MDB
se tinham postado em torno de o que seria a sepultura provisória de JK .
Acudiu-me a ideia de sugerir a
Adolpho que fôssemos mais para dentro do campo santo, que logo encontraríamos ao
Dr. Ulysses e a outros políticos da Oposição.
Saímos dali com Lucy e Adolpho, e
mais os dois ou três gatos pingados que estavam no carro.
No cerrado, a noite pode cair
depressa. Já naquela época, a iluminação do cemitério deixava bastante a
desejar.
Sem querer fazer humor negro, campo
santo - excluídos os macumbeiros e a turma do quimbanda - não é lugar em que se
depare muita gente à noite. A iluminação costuma ser bastante deficiente, e
caminhar na escuridão é arriscado.
Haveria sempre uma lanterna que a
turma da sucursal arranjara.
Ao final e ao cabo, Adolpho achou
preferível voltar no dia seguinte, para as homenagens ao amigo.
No ar, havia muita tristeza.
Os restos mortais de JK ficaram no
Campo da Esperança, até doze de setembro de 1981. Nessa data, foram inumados na
Câmara Mortuária do Memorial JK, que é do risco de Oscar Niemeyer.
Lamentavelmente, Niemeyer serviu-se
da figura, da realização e da mensagem de Juscelino Kubitschek para deformá-la
e deturpá-la em imagem que nada tem a ver com a obra e o pensamento do grande
presidente. Tomou de empréstimo a figura
do construtor de Brasília para ideologia a ele estranha.
Pode-se interpretá-la como brincadeira de mau-gosto ou apropriação
indébita. Juscelino não merecia isto.
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