terça-feira, 21 de junho de 2016

Lembranças do meu Tio Adolpho (XVII)

                    


         A ciranda dos Bancos pode parecer brincadeira de criança,mas para o meu Tio Adolpho era coisa séria, que pressupunha trabalho aturado.
         Não sei se a dependência dos principais bancos seria decorrência da natureza de Adolpho Bloch, que, sem ser pródigo ou estouvado, não media despesas para alcançar os próprios objetivos.
         O capital dos Bloch tinha sido amealhado ao longo dos anos. Não foi decerto sem dificuldade que Bloch Editores evoluiria do núcleo da Frei Caneca para aquele do Rússell.
         Para dar esses grandes passos, além da visualização da oportunidade em  mercado competitivo como aquele das revistas de grande circulação, Adolpho se acomodou com o sofrível.
         Ele queria para o seu grupo o que fosse o melhor. Estava longe de proceder dessa forma por vaidade ou por aspectos acessórios. Tinha como cometimento na vida atingir níveis de excelência, que colocassem as suas publicações junto das melhores internacionais.
          Agia dessa forma por ambição profissional e por compromisso com a qualidade. Se uma ou outra vez se tenha adaptado a condições de mercado, meu tio Adolpho Bloch jamais se curvaria a condicionalismos extemporâneos. O seu norte sempre esteve na perseguição da qualidade e da superação, tanto própria, quanto no nível a ser alcançado pelos respectivos veículos de divulgação.
           Por vezes os seus ademanes, a sua linguagem, e até a própria franqueza, poderiam induzir quem não lhe conhecesse bem que o respectivo rumo pudesse ser alterado por vantagens episódicas. Essa avaliação não poderia estar mais afastada da realidade. Não era um capricho o que induzia Adolpho a perseguir o melhor. Era a sua própria natureza.
           Mas a sua jornada não foi simples, nem fácil. Imigrante saído da Ucrânia, então província do Império Russo,  Adolpho tinha a ética do trabalho bem-feito. Vindo com o pai Josef Bloch e sua família, o jovem de treze anos cedo aprendeu que para alcançar os próprios fins, não podia relaxar na qualidade de seu trabalho, onde quer que ele estivesse.
            Por isso, nos ofícios que aprendeu, a começar pelo de gráfico, ele nunca, por carioca da gema que se tornou, ele nunca abraçaria o jeitinho, aquele enganoso atalho que pensa queimar etapas, escamoteando a qualidade do trabalho.
               Nunca vi pessoa que tanto prezasse o trabalho como Adolpho Bloch. Escarnecia - e com boa razão - do chamado facilitário, dos atalhos que pensam simplificar a tarefa. Sabia bem aonde se iria parar, de concessão em concessão. Adolpho nada tinha de rígido, pois ele não se atinha ao trabalho, à faina de toda atividade, como se fosse algo intocável, um valor por si mesmo.
               Dessarte, tio Adolpho prezava o bom trabalho, porque, como dizia sempre, só através dele se chega a qualquer coisa que valha a pena. Ria dos vigaristas e dos malandros, porque eles - como dar-me-ía conta - aravam um terreno sáfaro e, se a  alguém iludiam,  era a eles próprios.
              Por isso, a mística de Adolpho podia parecer singela, mas não esqueçamos o que ela presumia em termos de esforço e, sobretudo, de objetivo.
               Adolpho não se fixava objetivos vazios, de oca vaidade. Em tudo que se empenhava, carregava uma senhora vontade. Dizia que só acreditava no trabalho. E se poderia até concordar com ele, desde que não se esquecesse de que a sua idéia do trabalho ía muito além do dever rotineiro,  que toda profissão envolve.
                Para ele, o trabalho tinha a sua mística, que, no entanto, somente por uma interpretação que era própria dele, ajudava a entender o quão longe essa labuta poderia levá-lo.

                Mas isso é tarefa para os próximos blogs.  

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