A ciranda dos Bancos pode parecer brincadeira de
criança,mas para o meu Tio Adolpho era coisa séria, que pressupunha trabalho
aturado.
Não sei se a dependência dos
principais bancos seria decorrência da natureza de Adolpho Bloch, que, sem ser
pródigo ou estouvado, não media despesas para alcançar os próprios objetivos.
O capital dos Bloch tinha sido
amealhado ao longo dos anos. Não foi decerto sem dificuldade que Bloch Editores
evoluiria do núcleo da Frei Caneca para aquele do Rússell.
Para dar esses grandes passos, além da
visualização da oportunidade em mercado competitivo como aquele das revistas
de grande circulação, Adolpho se acomodou com o sofrível.
Ele queria para o seu grupo o que
fosse o melhor. Estava longe de proceder dessa forma por vaidade ou por
aspectos acessórios. Tinha como cometimento na vida atingir níveis de
excelência, que colocassem as suas publicações junto das melhores
internacionais.
Agia dessa forma por ambição
profissional e por compromisso com a qualidade. Se uma ou outra vez se tenha
adaptado a condições de mercado, meu tio Adolpho Bloch jamais se curvaria a
condicionalismos extemporâneos. O seu norte sempre esteve na perseguição da
qualidade e da superação, tanto própria, quanto no nível a ser alcançado pelos
respectivos veículos de divulgação.
Por vezes os seus ademanes, a sua
linguagem, e até a própria franqueza, poderiam induzir quem não lhe conhecesse
bem que o respectivo rumo pudesse ser alterado por vantagens episódicas. Essa
avaliação não poderia estar mais afastada da realidade. Não era um capricho o
que induzia Adolpho a perseguir o melhor. Era a sua própria natureza.
Mas a sua jornada não foi simples,
nem fácil. Imigrante saído da Ucrânia, então província do Império Russo, Adolpho tinha a ética do trabalho bem-feito.
Vindo com o pai Josef Bloch e sua família, o jovem de treze anos cedo
aprendeu que para alcançar os próprios fins, não podia relaxar na qualidade de
seu trabalho, onde quer que ele estivesse.
Por isso, nos ofícios que aprendeu,
a começar pelo de gráfico, ele nunca, por carioca da gema que se tornou, ele
nunca abraçaria o jeitinho, aquele enganoso atalho que pensa queimar etapas, escamoteando
a qualidade do trabalho.
Nunca vi pessoa que tanto
prezasse o trabalho como Adolpho Bloch. Escarnecia - e com boa razão - do
chamado facilitário, dos atalhos que
pensam simplificar a tarefa. Sabia bem aonde se iria parar, de concessão em
concessão. Adolpho nada tinha de rígido, pois ele não se atinha ao trabalho, à
faina de toda atividade, como se fosse algo intocável, um valor por si mesmo.
Dessarte, tio Adolpho prezava o
bom trabalho, porque, como dizia sempre, só através dele se chega a qualquer
coisa que valha a pena. Ria dos vigaristas e dos malandros, porque eles - como
dar-me-ía conta - aravam um terreno sáfaro e, se a alguém iludiam, era a eles próprios.
Por isso, a mística de Adolpho
podia parecer singela, mas não esqueçamos o que ela presumia em termos de
esforço e, sobretudo, de objetivo.
Adolpho não se fixava objetivos vazios,
de oca vaidade. Em tudo que se empenhava, carregava uma senhora vontade. Dizia
que só acreditava no trabalho. E se poderia até concordar com ele, desde que não
se esquecesse de que a sua idéia do trabalho ía muito além do dever
rotineiro, que toda profissão envolve.
Para ele, o trabalho tinha a
sua mística, que, no entanto, somente por uma interpretação que era própria
dele, ajudava a entender o quão longe essa labuta poderia levá-lo.
Mas isso é tarefa para os próximos
blogs.
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