Não há o que mais surpreenda nessa grande crise da
Venezuela chavista. Se a inoperância da OEA que, de reunião em reunião, rasga
cada vez mais a sua impotência em lidar, seja com o afrontoso desrespeito da
pátria de Bolívar à mais comezinha liberdade, seja com a própria deformação do
neo-chavismo que parece desejar testar os limites do desgoverno, e da paciência
interamericana.
Se durante o petismo no Itamaraty, a
nossa presença diplomática foi definhando até os limites do inacreditável, por
enquanto semelha difícil dizer que o novo Chanceler - que é de outra têmpera
que os seus antecessores - tenha projetos ou iniciativas que tentem retirar a
nossa posição do lamentável para algo que se pareça com propósitos de seus
altos personagens dos séculos XIX e princípios de XX. Se os tiver, que bem
haja, pois se há hora para tudo, não há negar que é preciso firmeza e coragem
para que as Américas se conscientizem de que os chavistas de Maduro não mais podem
esconder o escandaloso tratamento que praticam com o povo da Venezuela.
Quando o Governo de um país
acintosamente desrespeita todas as regras da democracia - inclusive as que lhes
legou Hugo Chávez - e afronta não só o próprio povo, mas também a oposição,
refugiando-se na cínica ditadura da força bruta e do fato consumado, não é mais
hora de perguntar-se se esta Carta ou aqueloutra é aplicável.
A mistura de brutal cinismo e garrafal
incompetência seja no desrespeito às mais comezinhas liberdades inscritas na
respectiva Constituição, seja no atroz desgoverno a que levou a administração
de Nicolás Maduro, supera todos os limites da democrática paciência e do interamericanismo, pois, em
tais transes, em que o farcesco se junge ao criminoso é da sorte de um país que
se trata, e não é mais hora em relógio algum que conviva com o bom senso de
tergiversar e de fazer apelos a quem já mostrou de forma sobeja que a respectiva
resposta é a da sanhuda luta pronta a sacrificar a toda a gente da Oposição.
Esta é deveras a fórmula do senhor
Maduro: resistir até o último homem da resistência que lhe faz frente.
Há limite para a incompetência de um
Governo, e para as suas cínicas barricadas de força armada, como se o arbítrio
que a tudo afronta possa ser a solução para a crise venezuelana.
Não se pode confundir esse atroz
desgoverno com o respeito à auto-determinação.
Não estamos no carnaval, e por isso
tais macabras fantasias não passam de sinistra burla aos direitos de uma democracia.
Parece que vivemos em um Continente
que sobrepaira aos respectivos desafios. Mas na hora de lidar com eles, se
guarda a estranha impressão de que os remédios para tais males não devem sair
das Cartas que os consagraram.
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