sábado, 11 de junho de 2016

Lentamente a Venezuela amadurece

         

         Não há o que mais surpreenda nessa grande crise da Venezuela chavista. Se a inoperância da OEA que, de reunião em reunião, rasga cada vez mais a sua impotência em lidar, seja com o afrontoso desrespeito da pátria de Bolívar à mais comezinha liberdade, seja com a própria deformação do neo-chavismo que parece desejar testar os limites do desgoverno, e da paciência interamericana.
        Se durante o petismo no Itamaraty, a nossa presença diplomática foi definhando até os limites do inacreditável, por enquanto semelha difícil dizer que o novo Chanceler - que é de outra têmpera que os seus antecessores - tenha projetos ou iniciativas que tentem retirar a nossa posição do lamentável para algo que se pareça com propósitos de seus altos personagens dos séculos XIX e princípios de XX. Se os tiver, que bem haja, pois se há hora para tudo, não há negar que é preciso firmeza e coragem para que as Américas se conscientizem de que os chavistas de Maduro não mais podem esconder o escandaloso tratamento que praticam com  o povo da Venezuela.       
         Quando o Governo de um país acintosamente desrespeita todas as regras da democracia - inclusive as que lhes legou Hugo Chávez - e afronta não só o próprio povo, mas também a oposição, refugiando-se na cínica ditadura da força bruta e do fato consumado, não é mais hora de perguntar-se se esta Carta ou aqueloutra é aplicável.
         A mistura de brutal cinismo e garrafal incompetência seja no desrespeito às mais comezinhas liberdades inscritas na respectiva Constituição, seja no atroz desgoverno a que levou a administração de Nicolás Maduro, supera todos os limites da democrática  paciência e do interamericanismo, pois, em tais transes, em que o farcesco se junge ao criminoso é da sorte de um país que se trata, e não é mais hora em relógio algum que conviva com o bom senso de tergiversar e de fazer apelos a quem já mostrou de forma sobeja que a respectiva resposta é a da sanhuda luta pronta a sacrificar a toda a gente da Oposição.
          Esta é deveras a fórmula do senhor Maduro: resistir até o último homem da resistência que lhe faz frente.
          Há limite para a incompetência de um Governo, e para as suas cínicas barricadas de força armada, como se o arbítrio que a tudo afronta possa ser a solução para a crise venezuelana.
           Não se pode confundir esse atroz desgoverno com o respeito à auto-determinação.
           Não estamos no carnaval, e por isso tais macabras fantasias não passam de sinistra burla aos direitos de uma democracia.

           Parece que vivemos em um Continente que sobrepaira aos respectivos desafios. Mas na hora de lidar com eles, se guarda a estranha impressão de que os remédios para tais males não devem sair das Cartas que os consagraram. 

Nenhum comentário: