quarta-feira, 22 de junho de 2016

O referendo no Reino Unido

                                   


         Por estranho que pareça, o Primeiro Ministro David Cameron foi, como os leitores desta coluna talvez se recordarão, quem teve a ideia de propor fosse submetida a referendum (mais uma vez!) a permanência do Reino Unido na União Européia.
         Digo que é estranho porque Cameron deseja hoje passar por partidário da permanência. Nenhum  Primeiro Ministro em sã mente pensaria em levantar tal questão,  se fosse defensor da presença do Reino Unido na U.E.
        Primo, pela longa luta de Londres para ingressar  no Mercado Comum Europeu (a organização que antecedeu a U.E.), e as peripécias dramáticas desse esforço. Da primeira vez, como se sabe, a tentativa inglesa fora barrada por famosa conferência de imprensa do General Charles de Gaulle.
        Secondo, o ingresso do Reino Unido só se daria anos mais tarde, sob o governo de Ted Heath (primeiro ministro conservador), quando de Gaulle já desaparecera do quadro. Mais adiante, no gabinete de Tony Blair, que é  do Labor Party (partido dos trabalhadores), já tinha havido referendo que levou à confirmação da presença inglesa.
       Terzo, não é só minha impressão, mas Cameron nunca demonstrou muito zelo na defesa da permanência em Bruxelas.  A sua inepta ideia de brincar com fogo o levou a prometer colocar sob referendo a proposta da saída ou não de Reino Unido da União Européia. Cameron hoje se declara adepto da U.E., mas a maneira com que procedeu, pensando instrumentalizar a questão de Bruxelas como um jeito de ganhar tempo só mostra a respectiva irresponsabilidade (além de induzir à dúvida se realmente este senhor é adepto da permanência na organização de Bruxelas).
         Jo Cox,  jovem e meritória deputada trabalhista,  foi brutalmente assassinada por um energúmeno, pelo simples motivo de apoiar a permanência do Reino Unido em Bruxelas.
        Agora se defrontam partidários da permanência - entre eles o próprio Cameron, não obstante haver criado o problema, apesar de dizer-se pró-Bruxelas - e os partidários do Brexit.  Muitas censuras tem sido feitas a Cameron, por dizer-se favorável a Bruxelas, e não trepidar em levantar essa questão (ele declara que jamais pensara que a saída da Inglaterra fosse ameaçada pelo referendo).
          Se o voto de amanhã for favorável ao Brexit, duas coisas deverão ocorrer.  Cameron será o bode expiatório (e desta feita merecerá a responsabilização e a consequente perda do poder), ou,  por um quase-milagre, mais uma vez o Reino Unido sobreviverá aos desejos insensatos de sair da Comunidade Europeia. Sem embargo, isto não salvará Cameron de enfrentar problemas, porque a sua liderança tenderá a ser contestada, inclusive por fazer o Reino Unido correr desnecessariamente o considerável risco de sair da UE, o que, se efetivado, terá consequências assaz negativas para a respectiva economia.   


( Fonte:  The New York Times )

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