quarta-feira, 8 de junho de 2016

Lembranças de meu Tio Adolpho (VIII)

                              

        Pongetti ficou algum tempo à testa da Manchete, mas não por muito, fragilizado pela crítica  da  'folhinha sem calendário'.
        Em seguida, Adolpho terá passado a direção da revista a Hélio Fernandes, que lhe deu um viés marcadamente oposicionista. A oposição ao que seria o último Governo Vargas estava na moda, e os irmãos Fernandes, sobretudo Hélio, que depois se ligaria à Tribuna da Imprensa, colocou a revista numa linha de crítica impiedosa a Getúlio, que já era considerado o inimigo da UDN, e de Carlos Lacerda, com as consequências que bem conhecemos.
        Embora a oposição não fosse o seu forte, Adolpho a princípio se terá deixado levar pela cantilena de Fernandes e do próprio Carlos Lacerda.
        Não creio que agradasse aos irmãos Bloch entrar em confronto sistemático contra o governo - que seria o último - do Presidente Getúlio Vargas.
        Lembro-me das reportagens da revista, e de quanto elas tocavam na toada do anti-varguismo. Esse 'namoro' de Adolpho com a direita lacerdista, não terá durado por muito.
        A oposição sistemática ao governo constitucional de Getúlio Vargas  não me parece que tenha marcado das melhores fases da Manchete. Mas a marca política de Hélio Fernandes daria uma postura à revista de crítica sistemática à Administração do Presidente Vargas. Então, obviamente, não se sabia como a coisa iria terminar, embora, em se tratando de udenismo, o golpe de direita e a cantilena às forças auxiliares da ala militar simpática ao lacerdismo já constituía triste música daqueles tempos, que, sem o saber, pressagiavam a tragédia que viria.
         Tampouco sabiam da peripeteia[1] que lhes preparavam as Parcas da mitologia helênica, mas a impressão prevalente é que Adolpho se cansara  do negativismo da oposição ao governo de Vargas, tanto é que dela se dissociou, com o caráter incisivo a que costumava imprimir às próprias decisões, quando maturadas por muita reflexão.



[1] reversão de expectativas

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