Devo, no entanto, pedir licença às minhas memórias
para inserir os passeios de lancha na baía de Guanabara.
Adolpho havia comprado uma lancha,
rebatizada "Manchete", que ficava ancorada no Clube Naval, perto da
praia da Urca. A entrada era mais ou menos em frente da Reitoria da
Universidade.
Como barco não era dos maiores, nem
dos menores. Ficava no meio termo. Nem Adolpho, nem Lucy tinham intenção de manejá-la, o que ficou por conta
de marinheiro especialmente contratado.
Tinha tanto na proa, quanto na popa, espaço
para se tomar banho de sol. E havia, se não me engano, na parte inferior,
dois beliches. Também aí o humor de Adolpho se fazia presente, com um aviso aos
navegantes dentro da cabine: "O
comandante deste barco está autorizado a convolar núpcias, que só são válidas
dentro da embarcação."
A cara marota que Adolpho fazia ao
mostrar a placa a eventuais convidados - e a graça seria maior quando fosse par
de noivos - infelizmente não pode ser reproduzida. Mas dizia muito das
preferências humorísticas do tio.
Sabendo que os jovens gostam de
passear de lancha, Adolpho me inseriu várias vezes nos passeios, de que eu
gostava muito. Era mais ou menos na época de meus estudos no Instituto Rio Branco,
que é, na prática, a Academia Diplomática. Como a preparação exigisse bastante,
apreciava muito a oportunidade de espairecer em passeio marítimo.
Mas ao referir-me a marítimo, é bom deixar claro, que tanto
Adolpho e muito menos Lucy não tinham a menor intenção de sair da Baía de Guanabara.
Os passeios - verdadeiras promenades en mer[1] - nos levavam em
área próxima ao Saco de São Francisco, em Niterói. Naquele tempo, as águas dentro da baía eram
límpidas, quase cristalinas. Ficávamos, em geral, próximos de uns arrecifes, e
saíamos da lancha, Adolpho e eu, até esse lugar, onde se podia ficar de pé.
Pensar que hoje não se possa
mais sequer pensar em nadar - e muito menos mergulhar - na baía mostra quanto regrediu a situação das águas do final
dos anos cinquenta e princípios dos sessenta.
Dizer que agora o mergulho de um subsecretário da Prefeitura nessas
águas foi considerado pelos peritos como grande imprudência (poderia ter
contraído doença grave) dá triste ideia do avanço da poluição (e do descuido
dos governantes).
Recordo-me com saudade desses
tempos que só logramos conservar nos angustos espaços da mente. Por uma vez - ele estava de passagem pelo Rio
- pedi a meus tios licença para convidar o meu primo-irmão Fabiano Maisonnave
para o passeio na Baía.
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