A farsa olímpica avança rápido. Depois da passagem da
administração Sérgio Cabral -
objetivo de um repúdio da população que na época poderia parecer excessivo, mas
quanta verdade ele já prenunciava - que, com a conivência do Governo Dilma Rousseff abocanhara boa parte de
muitas dotações de algum modo conectadas com as obras olímpicas, colhemos agora
o ressaibo amargo da fera raspagem dos
cofres do Estado.
Por confiar olimpicamente nas benesses
do petróleo, Sérgio Cabral & Cia., ele ao desrespeitar tanto a ética, quanto o bom senso, apostou
pesado no ouro negro, com os resultados que ora se vêem.
Nunca uma cidade olímpica chega tão
precarizada ao festival mundial que já está às portas.
O tráfico se compraz no macabro ritual
de liquidar os PMs (já totalizam cinquenta
os policiais assassinados neste ano). O mais estranho é que não se assinala nenhuma reação preventiva, nenhuma operação voltada a desbastar o
mecanismo que está por trás dessa ignóbil matança.
Fala-se que a verba da segurança será
remanejada para o metrô. Quero crer que não
seja verdade, porque seria vestir um santo para despir outro.
A conquista da sede olímpica em meio
às salvas de filmetes mentirosos e de promessas não-cumpridas (despoluição da
baía de Guanabara, entre outras) já constitui prova melancólica de uma
realização em que o vazio nos compromissos se encontra com a deterioração da
situação fiscal do Rio de Janeiro.
Muito mais do que o pernicioso jeitinho e o antigo truque de "pra inglês
ver" (o hodierno é 'pra
americano ver'), está o espírito de tocar obras de qualquer jeito - como a
ciclovia na beira da Niemeyer e a
total desconexão entre os milionários projetos e as construções feitas de
cambulhada - será o espírito prevalecente de que de alguma forma tudo sairá
pelo melhor.
A Prefeitura de Eduardo Paes, apesar dos tropeços, continua a irradiar otimismo.
Por outro lado, a União carece de ter ciência de que a Olimpíada pode ser no
Rio de Janeiro, mas o seu êxito ou fracaso repercutirá no Brasil. De toda
maneira, a Cidade Maravilhosa
atravessa período difícil, com a perda das royalties
do petróleo. E o Brasil, por grande que
seja, está representado pelo Rio de Janeiro, que, de algum modo, carece de ser
ajudado para cumprir com o compromisso das Olimpíadas.
O Senhor Prefeito Eduardo Paes é a própria encarnação do
êxito olímpico. Tudo vai muito bem, Madame la Marquise. Era o que diziam os
círculos da velha nobreza do Reino de França, confiantes em que o
descontentamento popular breve seria fenômeno esquecido.
Em meio ao caos da segurança, com a
PM vítima de soez campanha do Tráfico que já colheu cinquenta vítimas, e a
administração do Governador interino Francisco
Dornelles, Estado do Rio de Janeiro, sem verbas e também de pires na mão,
encontrar espaço para otimismo é exercício difícil, que batalha contra um
governo estadual que se vê forçado a decretar estado de calamidade pública.
Na ponte que Município e Estado atravessam, chuleando que tudo passe
depressa, sem entraves e sobretudo sem vexames, a única imagem que me vem à
mente é a daquela mulher-símbolo da angústia, no quadro de Edvard Munch,
a berrar de boca aberta aquele grito inaudível que ora ameaça golpear-nos os ouvidos...
( Fonte: O
Globo )
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