segunda-feira, 13 de junho de 2016

Lembranças de meu Tio Adolpho (XII)

                    

        Com as minhas missões no exterior, as vindas à sede da Manchete se tornaram mais espaçadas. O prédio da revista ora estava acompanhado de outro, destinado à TV Manchete. Não acompanhei a construção desse segundo, que também ficou a cargo do escritório do Niemeyer. Cuidaram, sobretudo, de compatibilizar os edifícios, obra decerto difícil e complicada, e não apenas na parte estética.
        Adolpho queria que os dois prédios fossem intercomunicantes, o que acrescentou à dificuldade prática da obra, mas em fim de contas tudo sairia a contento.
        De qualquer forma, sempre que passava pelo Rio arranjava jeito de dar um pulo à Manchete. Ali via e revia o pessoal da revista, como Zhevi Givelder, Arnaldo Niskier, Murilo Mello Filho e outros mais.
       Encontrei a turma sempre ocupada, embora notasse que desaparecera a atmosfera brincalhona, chocarreira mesmo, que antes pairava. Já não mais estava Carlinhos de Oliveira (José Carlos Oliveira) no seu trabalho de crônica e copidescagem, e aumentava o número ligado à tevê Manchete, cuja importância então crescia.
        Adolpho, em geral o encontrava no seu 'gabinete', onde quer que ele fosse, e no almoço, quando estava em geral acompanhado da Manchetinha, a cachorra dinamarquesa que o seguia por toda a parte. Esta produziria inúmeros filhotes, que ele costumava levar para o Sítio em Teresópolis.
        Bloch tinha especial preferência por melancias. Quando disponíveis, eram a sua sobremesa predileta.
         Nesse período, recordo-me que por algum problema de saúde Adolpho foi parar em hospital, que ficava (não sei se perdura) na rua Canning, mais no começo de Ipanema, do que no fim de Copacabana.
        Lucy o acompanhava, e o tio me saudou com a simpatia e a lingua franca de sempre: "Oi Maurinho, estou meio f..."
         "Bobagem!", cortou a minha tia. "Se ele tivesse juízo, já estaria melhor."
          Soube depois que parente sua, Judith, condoída com a situação, tratara de trazer-lhe iguaria, que Adolpho tivera a imprudência de comer parcialmente...
          O resultado no paciente internado foi desastroso, forçando inclusive a intervenções gástricas no imprudente Adolpho, além da administração de  senhora bronca pela sandice cometida.
           Lucy o olhava séria, como se fosse menino traquinas:
           "Bastou eu sair do quarto um instante..."
            E, esganações à parte, era raro vê-lo de cama.

          

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