Dentro do denuncismo incentivado pelo regime da
delação premiada que, enquanto verdadeira, é básica para alimentar a
penalização dos políticos envolvidos com a propina, o governo do Presidente
interino Michel Temer tem registrado perdas, e não há negar
que vários ministros do novo gabinete tenham sido afastados por válidos motivos.
Outrossim, como refere Merval Pereira, essa 'cota' de ministros
que nunca deveriam ter sido nomeados - pelo potencial de problemas que
trariam - inclui o Ministro Henrique Alves, como de resto a assumiu o próprio
indigitado.
Muitas dessas propinas tem sido
confirmadas - como o caso em tela - mas
seja o número, seja as contradições políticas colocam em dúvida muitas outras.
Esse gênero de metralhadora giratória
pode induzir dúvidas, a despeito da aparente pormenorizada contabilidade. Seria
lamentável que tal instrumento - que tanto tem servido ao M.P. para quebrar o
equivalente da omertà (o silêncio da
Máfia) - possa vir a ser desmoralizado (por perdida credibilidade).
Os aparentes exageros do ex-presidente
da Transpetro Sérgio Machado podem contribuir para tanto. A sua acusação ao
Presidente interino por haver intermediado uma propina para a campanha de
Gabriel Chalita a prefeito de S. Paulo parece não casar com a realidade
política, que é exigência sine qua non para passar no exame da
respectiva verossimilhança.
Por isso, o colunista Merval Pereira
atribui à indignação de Michel Temer uma frase sua potencialmente desastrosa: "Alguém
que teria cometido aquele delito que o cidadão Machado mencionou não teria
condições de governar o país".
Essa frase, claramente ruinosa pelas respectivas implicações, como
sublinha M. Pereira, "pode ser considerada a antítese do que um político
cauteloso, como é Temer, faria em situação análoga."
Com efeito, como sublinha o
colunista, "enquanto não estiver efetivado no cargo, o que só acontecerá
se o impeachment da presidente
afastada, Dilma Rousseff, for aprovado pelo Senado, ele só ganhará
credibilidade com ações concretas, e não se pode dar ao luxo de deixar que
desconfianças cresçam em torno de seu governo, já abalado por vários casos de
suspeita de corrupção no primeiro mês."
A delação premiada pode ser muito
útil ao Ministério Público se ela corresponder à verdade. Há casos de que
possíveis delatores tentaram abusar do instrumento (e se deram mal). No mundo
da mala vita - como ensina a máfia -
a verdade é o último recurso do patife. Como não estamos entre gente de moral e
ética ilibadas, a tentação da escorregadela estará sempre presente.
Nesse contexto, como refere o
colunista de O Globo, "os
procuradores de Curitiba terão muito trabalho para confirmar certas denúncias
de Sérgio Machado, pois elas não batem com a realidade política."
( Fonte: coluna de Merval Pereira, de O Globo )
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