Houve um momento na atual crise
política, que se relaciona com políticos suspeitos no quadro da Lava-Jato, e numa evidência do peso dos
indigitados, a sua repercussão na própria instituição da Procuradoria-Geral da
República, como se verifica através das palavras do Procurador-Geral Rodrigo Janot.
Em forte reação a que se sentiu
obrigado, com respeito às críticas que vem recebendo desde que decidiu pedir a
prisão de Renan (Presidente do Senado), José Sarney (ex-presidente da
República) e Senador Romero Jucá, Janot declarou: "Nunca terei
transgressores preferidos, como bem demonstra o leque sortido de autoridades
investigadas e processadas por minha iniciativa perante a Suprema Corte. Da
esquerda à direita: do anônimo às mais poderosas autoridades, ninguém, ninguém
mesmo, estará acima da lei, no que depender do Ministério Público."
"Não posso deixar de mencionar
insinuações maledicentes que pululam na imprensa desde o início desta semana.
Figuras de expressão nacional que deveriam guardar imparcialidade e manter decoro tentam
disseminar a ideia estapafúrdia de que o procurador-geral da República teria
vazado informações sigilosas para, vejam o absurdo, pressionar o Supremo e
obrigá-lo a decidir em tal ou qual sentido, como se isso fosse verdadeiramente
possível. Há ainda juízes em Berlim, é preciso avisar a essas pessoas. Afirmo,
peremptoriamente, que esse indigitado vazamento não foi da PGR. Cabe indagar e
aí estará a resposta. A quem esse vazamento beneficiou? Ao Ministério Público
não foi."
O Globo - que seja dito en passant - que foi o órgão da imprensa
que publicou em primeiro mão o pedido de prisão pelo PGR dos três políticos
proeminentes acima citados - alinhou em matéria assinada por André
de Souza "Escândalos em Série - Criticado, Janot
reage:"Nunca terei transgressores preferidos" - Procurador diz que
'ninguém estará acima da lei' e nega vazamento - e logo após as enfáticas
assertivas do PGR Rodrigo Janot, faz a
seguinte menção: O Ministro Gilmar
Mendes, do STF, que já tinha criticado o vazamento de informações de
processos ocultos e pode ter sido o alvo da declaração de Janot, disse ontem (sexta-feira, 10.6) que é preciso ter cautela para examinar os
pedidos de prisão.
" Tem que ser examinado
com muita cautela, porque, em relação a parlamentares, a Constituição só prevê
a hipótese de prisão em flagrante de crime inafiançável. Portanto, é preciso
que isso fique caracterizado" - afirmou Gilmar.
Em seguida, questionado sobre uma
possível lentidão do STF em relação à Lava-Jato, o ministro respondeu que o
tribunal não está pronto para tantos casos e
criticou sutilmente a PGR.
"Temos 50 inquéritos, fora os ocultos, mas só foram
oferecidas onze denúncias. São aqueles casos que os senhores conhecem: Cunha,
Collor e alguns deputados. Então, temos
onze denúncias no STF no bloco da Lava-Jato - disse (Gilmar Mendes).
Provocado a explicar seu
raciocínio, afirmou:
" Os senhores tirem suas
conclusões. Temos 50 inquéritos abertos e só onze denúncias."
Por sua vez, Janot afirmou que
os brasileiros confiam no MP e que os
ataques a seu trabalho têm como objetivo confundir a sociedade e garantir a
impunidade.
A esse propósito, Merval
Pereira, na sua coluna também do sábado, assinala que "além do Ministro
Teori Zavascki, são poucas as pessoas fora do Ministério Público que têm
conhecimento das bases do pedido de Janot, mas, tomando em consideração outros
pedidos feitos pelo PGR, há um entendimento generalizado de que ele deve estar
baseado em mais coisas além dos áudios divulgados.
"Mesmo os áudios contêm
passagens consideradas exemplares de uma trama para obstaculizar as
investigações. 'São pessoas tramando em segredo
contra a Lava-Jato. Querem cortar as asas da Justiça e do Ministério
Público', disse Deltan Dallagnol em entrevista ao jornal "Folha de S.
Paulo", deixando claro quão carregado está o clima entre os procuradores.
Nesse contexto, "(O)
pronunciamento de Rodrigo Janot, refutando com indignação a insinuação de que
foi o próprio Ministério Público que divulgou o pedido de prisão para
pressionar o Ministro Teori Zavascki, relator dos casos da Lava-Jato no Supremo, demonstra também que a posição dos procuradores foi atingida com
essa suspeita - que no mínimo coloca obstáculos na relação entre a PGR e o STF."
"O pedido de
ontem do próprio Janot para que a
denúncia contra o ex-presidente Lula por obstrução da Justiça, feita pelo
ex-senador Delcídio do Amaral, seja enviada à primeira instância em Curitiba
pelo STF coloca mais uma pressão no ministro Teori Zavascki, sob cuja
responsabilidade estão todos os processos contra o ex-presidente Lula.
"Mesmo sem ter foro
privilegiado, o ex-presidente está por conexão no STF, primo por causa da ex-presidente Dilma, e também, nesse outro processo, porque
Delcídio tinha foro privilegiado como senador. Dilma, como presidente afastada,
conserva o foro privilegiado, e provavelmente antes do desfecho do processo de
impeachment o ministro Zavascki não vai desmembrar os processos de Lula ligados
à presidente afastada." (...) Como há no Ministério Público esse
sentimento de que existe um movimento político para inviabilizar a Operação
Lava-Jato, esses pedidos recentes de Rodrigo Janot servem para mostrar ao
Supremo que os procuradores consideram que o momento é crucial, soam quase como
um pedido de demonstração formal de apoio às investigações.
"O Ministro Teori Zavascki vem trabalhando em harmonia com o M.P., e tem
aceitado a grande maioria dos pedidos do procurador Rodrigo Janot. Resta saber se, desta vez, ele não terá considerado que a pressão política passou do
ponto aceitável(o grifo é do blog). Foi
para sanar as consequências desse eventual mal-estar entre os ministros do
Supremo que Janot se sentiu obrigado a dar as declarações veementes de ontem,
negando que tenha vazado o pedido de prisão dos políticos do PMDB."
( Fontes: O Globo - André de
Souza; Coluna de Merval Pereira)
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