Embora não tenha a movimentação de antes, parece-me
que ao passar pela praia do Russell e as construções que estão no sopé do Hotel
Glória, os meus olhos procuram pela antiga face do que antes fora Gráficos Bloch na Frei Caneca, e, no
posterior período do apogeu, a sede da revista Manchete e mais à direita, a
Tevê Manchete.
Na verdade, o que hoje a sua fachada
desvela é mais um prédio anônimo,que
correspondeu, em passado não tão longínquo, a dois edifícios.
O primeiro à esquerda - e portanto
mais próximo do parque do antigo Palácio do Catete - é projeto de Oscar
Niemeyer, a quem Adolpho solicitara desenhasse a sede da sua revista principal,
a Manchete.
Por algum tempo, em um dos andares
mais altos, estava a sala do diretor da
revista, Justino Martins. Ao lado, havia outras salas, todas comunicantes e
abertas (Adolpho não queria gabinetes fechados, mesmo os de chefia). Ainda no
tempo das máquinas de escrever - mais tarde viriam os computadores - ali
estavam profissionais famosos, que batiam o texto das matérias que apareceriam
no próximo número, ou que corrigiam as laudas de jornalistas menos conhecidos.
Muitos desses jornalistas não estão
mais entre nós, mas sempre me impressionou a rapidez com que digitavam as
matérias respectivas, houvessem aprendido na escola Remington, ou mesmo
batessem com um só dedo, nos teclados da redação. Em especial, era muito rápido
o conhecido escritor Raimundo de Magalhães Júnior, a despeito de que, senão me
engano, batesse o seu trabalho com apenas dois dedos.
Adolpho circulava pelo pool, perguntando coisas e indagando de
outras. Todas as tentativas - e não foram poucas - que fizeram para montar-lhe condigna
sala de chefe, na prática isso tornaria a dita sala de chefia num lugar
tranquilo e desértico, onde Adolpho Bloch jamais sentaria...
No máximo, se abancava em mesa
simples, rodeada de umas tantas cadeiras. Para lá ele chamava quem lhe
aprouvesse, ou para elogiar - o que não era muito comum - ou para dar
instruções sobre determinada matéria, ou mesmo para dar uma senhora bronca.
Carlos Heitor Cony, que é um
dos poucos que continua na ativa, era convocado com frequência através de um
qualificativo, que assustaria aos eventuais estranhos que por lá estivessem -
como em toda redação, sempre aparecem esses tipos que não são inesquecíveis, e
que, por vezes, giravam atônitos diante
de o que ouviam do chefão, seja sonoros palavrões, seja o tal brejeiro epíteto
com que lhe sapecava 'seu' Adolpho.
Naqueles tempos em que o
salário da minha profissão, quando no Brasil, em geral não costumava aguentar
até o último fim de semana do mês, o
fato de aparecer na redação podia ligar-se a traduzir textos para a
Enciclopédia Bloch, uma revista moderadamente popular na época. O que não me
agradava eram os pífios proventos de trabalho que às vezes me exigia pedaços da
madrugada.
Certa feita me permiti reclamação
entre a diferença na sorte nos textos respectivos. Como estava perto, Justino
me pediu para fazer legenda sobre um grupo de pessoas, e se possível inventar
uma conexão.
A preocupação que tive se
desfaria breve, pois conhecia a turma e, portanto, o texto que caberia. Não
mais de umas cinco linhas.
Qual não foi a minha
surpresa ao verificar que ali ganharia substancialmente mais, do que as laudas
milimetradas que preenchia por vezes até altas horas...
E lá, ao perceber os
cruzeiros que iriam melhorar o rango em casa, é que me daria conta que até
nisso o conhecimento pode ser poder...
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