No começo do blog
anterior, reportei-me à ciranda dos bancos a que o tio Adolpho se via forçado a
realizar, direta decorrência de seu projeto de desenvolver Gráficos Bloch, a ponto de tornar a designação longínquo sinal de o
que tinha sido o ponto de partida das Organizações Bloch.
Não era por cega ambição que Adolpho
seguira e implementara tal projeto.
Preocupava-se com a criação de organização ampla, que não se limitasse
apenas às revistas, como Manchete, Fatos & Fotos, e tantas outras
voltadas a um público específico.
Entregando o projeto da sede das
Organizações Bloch - a que a antiga localização na Frei Caneca não mais
satisfazia - ao arquiteto Oscar Niemeyer apontava para compromisso não só com a
qualidade, mas também com projeto que transcendesse os limites até então
provincianos do setor editorial.
Para financiar tais iniciativas,
Adolpho não podia dormir sobre os louros até então logrados. Sua ambição o
empurrava para limites e objetivos mais altos, que colocassem o Brasil em
níveis até então apenas arranhados, como sói acontecer na Terra da Santa Cruz,
como nos escreve Frei Vicente do Salvador, no exemplo dos caranguejos a arranharem
as costas do Brasil.
Como não o motivaria a audácia de
Juscelino Kubitschek, disposto a criar a
realidade de um Brasil por fim disposto a cumprir o mandamento de levar o próprio
governo para o centro deste país-continente? Além de libertar-se dos velhos
liames do litoral, seguir os passos dos bandeirantes não seria apenas aventura
vazia, mas empresa voltada a despertar o nosso vastíssimo interior,
escassamente populado, e cuja gente carecia de ser integrada ao projeto de um
verdadeiro Brasil-continente.
Pela sua natureza, Adolpho acolheu
não só com prazer, mas também com entusiasmo, o governo novo de JK, que saía do
ramerrame provinciano, e procedia em um quinquênio o seu programa de metas, que
Juscelino ultimaria na sua meta-síntese, a nova Capital.
Ao preferir atender ao chamado de
quem se tornaria mais tarde seu amigo, Adolpho Bloch seguia prazerosamente a
própria inclinação. E a sua ânsia de libertar-se das vistas acanhadas do
provincianismo se reflete não só na construção dos dois edifícios-sede na
antiga praia do Russell, mas sobretudo no sonho que tais projetos do arquiteto
Oscar Niemeyer ensejavam tornar realidade.
Reporto-me às melhores condições de trabalho não só para o grupo
editorial, mas também um novo ninho que abrigasse outra férvida ambição de
Adolpho.
Para o meu tio, nenhum projeto
editorial no fim do século XX poderia admitir a lacuna de não adentrar a senda
da televisão.
Gráficos Bloch chegara um pouco
tarde nesse campo, mas o que aí realizou em relativamente tão exíguo tempo nos
faz hoje deplorar-lhe a forçada ausência. Mas disso trataremos oportunamente.
Volto, no entanto, à questão que
já adumbro nessa série sobre a magnitude do esforço e a consequente necessidade
de financiá-lo.
Daí, a ciranda bancária. Os
prazos dos empréstimos exigindo repetidas renovações. Tudo isso implicando em esforço
de financiamento que um contador conservador consideraria além de o que fazia
prudente e necessário.
Adolpho sempre se voltara para
os Bancos, e tinha com eles relação que oscilava entre a cordialidade e
eventuais tensões, vindas dos objetivos a serem cumpridos, e das metas por
vezes havidas como demasiado ambiciosas.
Desde o tempo de Gráficos
Bloch, na Frei Caneca, em que os irmãos
Bloch - Boris, Arnaldo e Adolpho - empreendiam os primeiros passos, surge a
cooperação com o Banco do Brasil. Nesta
fase, em que Adolpho ainda desempenha papel júnior, quadros desse grande banco
estatal estão presentes na sede da Frei Caneca. E alguns deles passarão a atuar
na organização, nessa fase embrionária de Bloch Editores. Menino ainda, eu os
via nos acanhados escritórios dessa firma, que aos poucos engatinhava para as
revistas especializadas, e que mais tarde se transformaria em Bloch Editores.
Mas a presença de
funcionários do Banco do Brasil já indica a intenção dos irmãos Bloch de
valer-se de financiamento para a eventual transformação do grupo. E será disso
que me ocuparei no próximo blog.
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