Os cariocas sabem muito bem o quanto a segurança no
Rio de Janeiro se tem deteriorado nesses últimos tempos.
A despeito da cercania do festival
olímpico, os assaltos e as mortes, que o carioca enfrenta no dia-a-dia do Rio
de Janeiro, ao invés de diminuirem, continuam
aumentando.
Lembro-me bem de reunião de condomínio
em prédio de Ipanema, localizado em artéria movimentada, mas mesmo assim os
próprios moradores temiam pela segurança, se entrassem na garagem depois da
meia-noite.
Como um dos condôminos de ingresso mais
recente, perguntasse aos demais: "da segurança, quem se ocupa?", um
dos mais antigos, após trocar olhares com os demais, cognoscenti[1]
como ele, respondeu: "meu amigo, nesta cidade quem cuida da segurança é
Deus!"
Com a frase, que me ficou na memória,
e a reação desanimada dos demais, se expressava a verdade permanente da enorme insegurança
que prevalece no Rio de Janeiro.
O que me surpreende é que a Olimpíada se
aproxima, e os assaltos e os assassínios ao invés de diminuirem, vão crescendo!
A cara-de-pau deveria ser o símbolo
desta mui leal e heróica cidade, pois em Copenhague, quando os governos de Lula
(federal), Sérgio Cabral (estadual) e Eduardo
Paes (municipal) prometeram o imaginável e o inimaginável para
arrebatar a sede olímpica para o Rio de Janeiro, não foram decerto econômicos
em promessas.
Nesse quadro, há um aspecto em que a
simpatia do brasileiro (e a habilidade em preparar filmetes de propaganda e
fazer todo tipo de promessa) tem crescido bastante. O diabo, no entanto, é que
as autoridades prometem tudo (e o céu também), e quando os países partícipes
vem cobrar, se chocam muita vez com
cínicas negativas.
O exemplo da promessa de despoluição
da baía de Guanabara vem logo à lembrança, pela maneira desavergonhada com que
os anfitriões reagiram, quando confrontados com a situação da baía (em que nada
foi feito em termos de combate à poluição), já constitui um exemplo de
mau-caratismo e inconfiabilidade que não deixará de perseguir-nos no futuro.
Este blog já publicou reclamação de nadadora americana, que está preocupada
com os eventos a céu aberto, em Copacabana, recordando-se de o que lhe ocorreu
em prova no Rio Nilo, quando desmaiou pelas mefíticas condições daquele célebre
curso d'água.
Perdemos uma boa ocasião para sanear
a baía de Guanabara, e nem sequer consideramos a eventualidade de limpar pelo
menos a lagoa Rodrigo de Freitas, conhecida pelos dejetos que são nela lançados
por saídas de esgoto ilegais. O que mais
surpreende não é nem a grande baía, que irresponsavelmente prometera para não
cumprir a autoridade de então, mas essa Lagoa - onde serão as disputas de remo
- que pelo tamanho - e com um pouquinho de boa vontade e caráter - poderia ser
saneada adequadamente.
Mas as contrariedades e a falta de mínimo
de atenção e de condições para salvaguardar os atletas, tampouco se vê nos dias que precedem o
festival olímpico. Com chamada de primeira página "Rio 2016 - Bandidos assaltam
atletas espanhóis" o Globo
já nos prepara para a série de vexames que nos aguardam.
"Dois atletas olímpicos da
Espanha e o treinador deles foram assaltados, na manhã de anteontem, em Santa
Teresa. (...) Cinco bandidos armados os abordaram.
"A Polícia Civil (em óbvio
procedimento a posteriori, pois não se vêem polícias
nesta mui leal e heróica cidade) informou que os assaltantes levaram uma bolsa
com dinheiro, documentos e uma máquina fotográfica."
Eis o drama, em resumo. Segue-se a
encenação: "A corporação acrescentou que um procedimento foi instaurado
para apurar o assalto e que operações estão sendo feitas para identificar os
autores e recuperar os pertences roubados."
Quantos estórias como esta teremos de,
com crescente vergonha, registrar?
( Fonte: O Globo )
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