Bernie Sanders tem todo o direito de concorrer à eleição
presidencial. Se no plano teórico não há a menor dúvida de que o tenha, a
realidade da disputa presidencial já está em outro nível, com a vitória do
candidato-surpresa Donald Trump no campo republicano.
Com efeito, Trump tem o caminho livre
para a Convenção de Cleveland, Ohio, e
os problemas que enfrenta, como enunciados pelo Speaker da Câmara dos Deputados, Paul Ryan, são de
apresentar programa para as eleições de novembro que seja conforme às
aspirações da militância republicana.
Hillary, no entanto, se confronta com difícil
situação, em que o seu concorrente, que não tem qualquer possibilidade de
superá-la na contagem de delegados para a convenção de Filadelfia, na Pennsilvania, mas resolve persistir, em campanha que
menos se destina a coroá-lo com a nomination,
do que minar as bases e a confiança da front-runner.
Não é quixotesca essa empresa porque é
feita com o intúito de debilitar a candidata natural do partido. Ao invés de
imitar a atitude de Hillary Clinton
- contra a opinião de seu marido, o ex-Presidente
Bill
Clinton
- que às vésperas da Convenção renunciara
em discurso público à sua pré-candidatura, no intúito de fortalecer o candidato
Barack Obama, fundada na
conscientização de que não poderia empolgar a nomination.
Ao invés disso, Bernie Sanders se delicia com os prazeres de um verdadeiro jerk, chegando a encarecer a
super-delegados que se juntem à sua pré-candidatura, que no modo vesgo de
encarar a realidade seria a única com condições de bater o fenômeno republicano
Donald Trump.
Na verdade, o que o maverick (eu sozinho) Senador Sanders se
promete é enfraquecer Hillary, e submetê-la a combate em duas frentes, i.e., enfrentar a artilharia de Trump,
que procura destroçar-lhe as bases, enquanto ele - sem qualquer possibilidade
concreta de empolgar a nomination -,
saboreia, como autêntico estraga-festa, as possibilidades que o calendário
eleitoral lhe proporciona nas restantes primárias até a última da Califórnia, para
enfraquecer a rival democrata. Na verdade, vê-lo atuar como autêntico bloco do
eu-sozinho é vê-lo agir sem outro
qualquer propósito senão o dos picadores nas touradas espanholas. Seu único
intúito é o enfraquecimento do touro, que na imagem passa a ser o papel da candidata
democrata submetida a um sem-fim de primárias, que se parecem comprazer com a sua
debilitação.
Pois que não se tenha nem se alimente
dúvidas. Jungir o Partido Democrata a tal senhor - que promete mundos e fundos
e que na verdade não motiva as minorias, e se limita a cativar estudantes e
jovens, a quem acena com as maravilhas
de Xangri-la - não vai adiantar em nada,
pois pavimentaria a vitória do candidato
do verão, que se lançou candidato prometendo construir outra muralha da China.
Quem tem algum conhecimento de história, sabe da utilidade de tais barreiras.
Colocar Sanders como candidato é
condenar os democratas a estúpida derrota, enquanto a crise personificada seria
eleita pelo GOP.
É difícil saber qual seria a saída
pior para a grande democracia americana.
( Fonte: The New York Times )
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