Apesar de inferiorizado em votos nas
primárias - ele teve até agora quase dez milhões de votos contra os treze
milhões de Hillary - o Senador por Vermont, ao contrário de sua adversária, que
renunciara antes da Convenção em 2008, não quer saber disso.
Transtornado
pela ambição, ele quer chegar à Convenção de Filadelfia, onde pretende arrancar
os superdelegados de sua adversária e de algum modo alcançar a nomination. Para tal, ele não trepidou
em radicalizar ainda mais a própria linguagem. Mas por detrás dos altissonantes
princípios - "o partido encara a
escolha de permanecer "dependente das milionárias contribuições de
campanha e ser um partido com limitada participação e limitada energia" ou
"acolher no partido gente que está preparada para lutar por uma real
mudança econômica e social", não é difícil entrever o próprio interesse.
Dessa retórica, de quem não trepida em
radicalizar o partido e dividi-lo, Sanders se vê estimulado pelo próprio
gerente de campanha, Jeff Weaver, que tem atacado como se foram inimigos e não
companheiros sob a mesma legenda os aliados de Hillary e o próprio
establishment do Partido Democrata.
Sanders, como todo dissidente, não
pensa na unidade, mas sim nos próprios interesses que confunde com aqueles do
Partido Democrata.
Por isso, ele tem ouvidos moucos para
os apelos de líderes, mesmo aqueles neutros e acima da refrega. Variando de
interlocutor, ele apenas repete a própria sovada retórica, com as modulações
apropriadas, para sublinhar que por trás de tanta sanha e violência verbal, que
não teme em dividir o Partido Democrata, se esconderia apenas um militante, sem
dúvida radical, mas sobretudo interessado em abrir aos novos ventos no Partido
de FDR e Lyndon Johnson.
O que a liderança democrata teme é que
Sanders, movido por interesses da própria candidatura, parta para o quanto pior
melhor, instigando a dissensão entre os delegados, e buscando arrancar quantos
possa dos super-delegados para o seu lado.
Ironicamente, a direção democrata
contava com a baderna na convenção do GOP. Com a vitória antecipada de Donald
Trump, essa perspectiva, como os eflúvios da manhã, desapareceu de todo no lado
adversário. Ela continua, no entanto, pela ambição desenfreada de Sanders, que
na verdade não é um militante do Partido Democrata.
Na política do estado de Vermont, ele
é um independente, e como tal já foi derrotado por candidatas mulheres - que
menosprezara nos debates - para a governança do Estado. No Senado, por questões conveniências regimentais,
abrigou-se no grupo democrata, mas é e será sempre integrante da sociedade do
eu-sozinho. Por falta de opção - como associar-se ao GOP? - ele hoje integra no
Senado a bancada democrata, mas isso é apenas um movimento ditado pelo estreito interesse pessoal, sem qualquer motivação ideológica.
Com efeito, o verdadeiro partido de
Bernie Sanders é aquele do eu-sózinho, que melhor reflete os interesses
pessoais, que lhe ditam a conduta. Como todo solitário, é um oportunista, e
nunca seria capaz do gesto de Hillary - que contrariou o próprio marido, o
ex-Presidente Clinton - renunciando à sua candidatura em 2008, porque
reconhecia em Barack Obama melhores condições de vencer o embate com o
candidato republicano.
Não se peça desprendimento e integração
partidária a Bernie Sanders, porque será bater em ouvidos moucos, incapazes de
entender interesse maior que se
sobreponha à ambição individualista.
Hillary sempre foi
uma lutadora, e não se deve desencorajar pela divisiva retórica de Bernie
Sanders.
Hillary Clinton não chegou onde está por
acaso. Se Sanders prefere forçar a batalha, movido apenas pelo interesse
próprio que esconde sob frágeis palavras de defesa de convenientes ideais, que
podem mascarar a sua desenfreada ambição para os desinformados, a candidata
deve redescobrir a antiga disposição e dedicação à luta. Não é por acaso que
Hillary recebeu mais de três milhões de sufrágios que o seu adversário. Deve concentrar-se nas primárias que faltam,
mostrar ao eleitorado ao que vem, e chegar enfim a Filadelfia com o número de
delegados para enfrentar esse senhor que pensa mais na própria ambição do que
no Partido Democrata. E basta ver-lhe a
trajetória, para determinar que, debaixo das palavras e das promessas, o que
realmente a ele importa é a magna causa de Bernie Sanders.
( Fonte: The New York Times )
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