sexta-feira, 13 de maio de 2016

Logro ou Fracasso do PT ?

                        

        Não se vá esperar de quem caíu quando no exercício do poder, que venha a público e admita a própria responsabilidade.
        O processo de impeachment é mecanismo lento e assaz desgastante para todas as partes envolvidas.
        É mais, no entanto, pelos longos prazos, para o(a) governante ameaçado(a).
        Quando se inicia e ganha força inercial, em geral ele corresponde, na maioria dos casos, a situações limite, em que, quando as nuvens do descontentamento se congregam, o processo tende a deixar o âmbito restrito das oposições e espraiar-se, na própria conscientização, a  faixa muito mais ampla da população.
        Por isso, por mais pugnaz que seja a oposição, e por acirrado que seja o enfrentamento político, para que se configure tal processo são necessários diversos elementos.
        O governo no poder tem de exceder a inerente capacidade de errar. É normal que o governante erre, ao assumir o mando. O povo soberano tenderá a conceder-lhe um período de tolerância. Não há, decerto, prazos fixos para isto, embora a boa-fé carece de ser pelo menos presumida.
        Tomemos, v.g., o exemplo de Dilma. Desde que assumiu o próprio mandato, mostrou que tinha pressa em desenvolver a economia. Os métodos por ela escolhidos nada tinham a ver com os de governos anteriores, mesmo o de Lula, apesar de seu encanto, no segundo mandato, pelas capitalizações.
         Dilma se cercava de gente do passado, da era inflacionária, como Delfim e Belluzzo. Já surgiam os primeiros sinais amarelos, mas não houve do povo maior reação, pelo prazo de tolerância que se dá aos mandatários.
         Uma desatenção continuada, porém, pode principiar a acender luzes amarelas. Foi o caso das passeatas de 2013, motivadas pelo aumento nas conduções. Por primeira vez irrompeu movimento que de paulistano passou a nacional, com a inquietude da população notadamente jovem espraiando-se por esses brasis.
         A resposta de Dilma não foi desatenta, mas primou pelo caráter errático, que viria a caracterizá-la no futuro. Tomou um avião e foi consultar o seu criador, Lula, mas no final o que se originara deste movimento popular autêntico foi uma reação desordenada, que teve alguns resultados tópicos, mas que não produziu no poder petista de Dilma Rousseff uma resposta que perdurasse e que mostrasse à população que a Presidenta havia aprendido a lição.
          Já a segunda eleição de Dilma encontrou um Lula enfraquecido, que não pôde ou não quis afastá-la e assumir, em seu lugar, o mando. Quem sabe ele soubesse demais, e terá preferido, docemente constrangido, assim acatar a vontade da discípula.
          Segundo essa provecta senhora[1] iria demonstrá-lo uma vez mais, o poder, carcomido que esteja por pecados insanáveis, guarda sempre a capacidade de perdurar.
          Com a vantagem do tempo de propaganda eleitoral, e a vasta aliança dos partidos, não só aqueles subalternos, como o PCdoB, mas também aqueles atraídos pelo falso brilho do poder reinante, como tantos outros dessa sopa de legendas partidárias que foram insufladas pela jurisprudência do Supremo, que derrubou a cláusula de barreira, e instituíu proliferação que nada tem a ver com o respeito às ideologias, mas à multiplicação de legendas que pelo seu viço veio desmoralizar a boa intenção da doutrina do Ministro Marco Aurélio.  Hoje temos 35 legendas, e a perspectiva, além do ridículo imanente, está no excesso, que só será coibido, quando olharmos em volta e virmos a posição em que nos colocamos, com as legendas de aluguel, os 'candidatos a presidência' rituais e por aí afora.
              Esquecer o meio-termo aristotélico é decerto possível, como verificamos, mas o preço é alto e não só em ridículo.
              Mas voltemos à reeleição de Dilma Rousseff. É fácil aos que estão de fora recomendar ou prudência, ou contenção, a quem se encaminha a completar o primeiro mandato, não desconhecendo as trampas e armadilhas que o caminho seguinte pode reservar, mas que pensa levar com facilidade - como o fora a primeira presidência.
               Todos ora conhecemos os perigos que ela julgou passíveis de administração. E o segundo mandato, caracterizado pelo chamado estelionato eleitoral - em que ocultou a situação crítica da economia, os enormes déficits que a sua imprudência provocara - representava o clássico exemplo da bomba de retardamento que não tem como não explodir ao cabo da eleição, ganha com dificuldade, contra um dos candidatos de oposição (Aécio Neves). A outra foi varrida por uma série de impedimentos - tempo insuficiente, arregimentação do tribunal competente para dar tempo de resposta, etc. - com a superação da candidata Marina - que em igualdade de condições representaria ameaça maior para a Presidenta - pelo outro candidato de oposição, que tinha grande partido na sua retaguarda.
                   Dilma pensou que resolveria o problema do estelionato eleitoral e dos escândalos que começaram a pipocar logo em seguida à eleição, com o Ministério da Fazenda entregue a um grande quadro, Joaquim Levy.
                    Tal não seria possível, porque a circunstância de convocar Levy respondia a um erro de avaliação da Presidente Dilma. Ela pensou que seria factível resolver o enigma que acabaria por devorá-la com medidas tópicas e com uma boa propaganda.
                     O apodrecimento do segundo mandato, dado o trauma do brutal logro pregado na população (que ainda em maioria votara nela), não poderia ser evitado com passes de mágica. Como estes não vieram, nem houve maior disposição da Presidenta em criar condições mínimas para a recuperação, uma série de fatores iria determinar-lhe o triste destino: a presidência da Câmara cai nas mãos - e que mãos - de um desafeto político. A partir desse momento, derrubado o campeão do PT, Arlindo Chinaglia, tudo começa ir por água abaixo.
                      A maioria no Congresso, unida pelos fracos liames de uma preeminência do PT que a impopularidade começa a devorar, se transforma em um salve-se quem puder. 
                       Achando que fidelidade pode substituir competência, Dilma se liga a uns poucos, que  deixam partir o cavaleiro Joaquim, e a afundam sempre mais no báratro da intentada demagogia, que só contribui para tornar a posição de Dilma e a sua popularidade cada vez mais precária, ao despencar para abaixo dos dois dígitos.
                         Some-se à impopularidade - que é a resposta do Povão ao engano descomunal da reeleição - à operação Lava-Jato e ao Juiz Sérgio Moro, que ao lado do Ministério Público, começa a tortura chinesa da Segunda Administração de Dilma Rousseff.
                         O impeachment é um castigo severo, que semelha aquele raio que cai impiedoso sobre o caminhante que atravessa um campo luzídio. Tais fenômenos acontecem de raro em raro (há mais de duas décadas Fernando Collor foi atingido por tal processo), e como os governantes têm o péssimo habito de culpar o espelho pela figura que nele projetam, não é estranhável que o PT, e todo o seu universo - criação autêntica de Lula da Silva - gritem pela injustiça sofrida, deplorem a pobre Presidenta, como vítima de armadilha cruel do destino.
                             Toda essa fabulização é um lugar-comum da História. A governante, no caso, procederia de forma mais respeitosa da realidade se tivesse presente que nada que ora lhe aconteceu foi por acaso, e não corresponde à própria responsabilidade. É uma tentação imanente de governante atingido pelo raio do Impeachment julgar-se um desprezado da sorte, quando não vítima de insidiosa conjura de inimigos terríveis.
                             A lista dos pecados do Partido dos Trabalhadores e de seus dois principais líderes - tanto Luiz Inacio Lula da Silva quanto Dilma Vana Rousseff é enorme e está longe de ser toda ela individualizada e devidamente punida. O leitor me dispensará o trabalho de elencar toda essa série acabrunhante, que, quer queiram, quer não, terá de ser passada a limpo porque é para isso que a Justiça existe.

( Fontes: Dicionário Mítico-Etimológico, de Junito Brandão; O Globo, Folha de São Paulo; Rede Globo).



[1] Clio, a musa da História.

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