Hillary Clinton
pode ver na gangorra um símbolo de sua campanha. Há poucas dúvidas de
que o inefável Bernie Sanders represente o papel do principal suspeito nessas
oscilações malucas que tem constituído a sina de Hillary nessa estranhíssima
campanha primária para a eleição do Presidente dos Estados Unidos ao mandato de
2017-2021.
Mas esse processo de wear and tear[i] - na prática, o
que sofrem as perspectivas de sua pré-candidatura pela contínua oscilação nas
votações das primárias - reflete, em verdade, a caprichosa disposição do
eleitorado democrata diante de dois personagens diversos.
Com efeito - e os resultados estão aí
para justificar as supostas surpresas - o challenger
(e nunca adversário algum terá sido tão desafiador e surpreendente do que o
peculiar velhinho Sanders) - se Hillary
tem mantido a liderança (e provavelmente, por mais surpresas com que tenha
ainda de lidar, a sua vantagem persistirá até a Convenção de Filadelfia) essa
campanha parece ser dirigida por um sádico diretor, que se compraz em alternar
as perspectivas, seja de modo direto (ora criando dúvidas imediatas sobre a
sorte da postulação de Hillary), seja de modo indireto (induzindo o adversário
implacável a até acenar com o seu retiro, diante de imprevista reação de sua
nêmesis).
Excluída a magna prova da Califórnia
- e mesmo assim é altamente dúbio que nesse estado Sanders logre vitória
esmagadora - a campanha continuará numa guerra de atrito, em que a parte mais
fraca - o independente do Vermont - colherá as vantagens que usualmente recáem
sobre os desafiadores: aborrecer, importunar, até irritar, mas nunca abater a adversária. A única exceção a
tal regra viria de erro improvável de Hillary - que é a óbvia meta de Bernie -
e que não deverá ocorrer, porque a candidata terá o necessário discernimento de
não dar um tiro no pé.
Entre outras palavras, Hillary não
pode perder o norte da própria candidatura. Em um exercício quase Zen, a candidata carece de
prosseguir, mêmore sempre de que só ela, por desrazão ou extremo cansaço, pode
dar tal contribuição às avessas, que é a razão precípua da persistência do seu
adversário.
Hillary não pode esquecer um momento sequer
que o seu adversário nas primárias não tem condições materiais de destruir-lhe
a candidatura (porque é disso que se trata). Somente de forma indireta, levando
a que ela se dê um tiro no pé (v.g.,as
célebres gafes de candidatos à presidência - e para simplificar dêem-se apenas
as declarações dos Romney[1],
para sepultar as respectivas candidaturas presidenciais), Bernie Sanders, o
maverick (voluntarioso) do Vermont, que sequer democrata é, pode sonhar lograr o seu escopo.
Os cometas no céu infinito
faziam muita impressão na Antiguidade - havidos que eram como arautos de desgraças e
calamidades - e a Humanidade na época, ainda presa às peias da ignorância e da
superstição, surgia como o público ideal a um fenômeno que a pobre gente
pensava lhe dissesse respeito.
Na verdade, a indiferença do
fenômeno não poderia ser maior. O maligno cometa não podia ser objetivamente
mais indiferente ao que se passasse no planeta Terra.
Também Sanders, a seu modo, é
um cometa. Apesar de embevecer a muita gente, a distância entre os dois
pré-candidatos democratas não pode ser afetada pelas emoções e ilusões que a
sua passagem costuma provocar. E ao contrário da eternidade celeste, os tempos
na presente campanha eleitoral tem datas firmes e locais bem sólidos e
acessíveis.
( Fontes subsidiárias: The New York Times, O Estado de
S. Paulo, O Globo)
[1] O pai, mencionando a circunstância da lavagem cerebral
(brainwashing), e o filho,
declarando que quarenta e sete por cento dos eleitores democratas dependiam
da munificência do Estado.
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