Rejeição a Donald Trump
Não há de surpreender que
a rejeição a Trump, enquanto vencedor das primárias republicanas, não haja
esmorecido.
Essa repulsa das altas instâncias do GOP
por ser visceral, poderá ao fim e ao cabo reduzir-se, mas ela tenderá a
persistir.
Não é de hoje que a elite republicana
tem demonstrado o seu desprazer com a liderança nas pesquisas do candidato
Trump. A princípio, ignorado como se fora um fenômeno do verão, aos poucos a
incômoda verdade se foi entranhando nos chamados 'altos mandos' do Grand Old Party, em uma atitude que
rescende à negação da elite partidária em ver a nomination em Cleveland atribuída a alguém que não
consideram um igual aos grandes nomes do partido.
Na
verdade - e as primárias foram até cruéis em demonstrá-lo - o Partido
Republicano atravessa uma óbvia crise em termos de expoentes. Se o número de
pretendentes era grande, quantidade não quer dizer qualidade.
E na peneira dessas consultas populares,
não tardou que fossem descartados os descendentes de grandes famílias
presidenciais como Jeb Bush, políticos
tidos como populares (Sen. Mario Rubio), o gov. de New Jersey, Chris Christie,
derrubado pelo Bridgegate, até que o numeroso grupo ficou restrito ao Sen. Ted
Cruz (Tx.) e ao Gov. de Ohio, Joe
Kasich.
De todos esses, o que mais resistiu foi
Cruz, mas tampouco teve perfil presidencial, por posturas demasiado rígidas e
conservadorismo extremo. O próprio governador Kasich, derrotado como Cruz em
Indiana, também desistiu, deixando sozinho o candidato que se pensara fosse
fenômeno fugaz, pontificando no verão, para ser afastado durante as primárias...
Apesar de toda a má-vontade, Donald
Trump - o estranho no ninho - como uma moto-niveladora afastara todos os
respectivos rivais, e agora chega à Convenção de Cleveland com a nomination
no bolso.
Não podendo mais repudiá-lo, dada a sua
aceitação pelo eleitorado do Partido, a hierarquia republicana não tem outra
saída senão aceitá-lo e colocar-lhe como vice alguém que preencha duas
condições: (a) ponha-se de acordo com o cabeça de chapa; (b) represente o
restante das fileiras partidárias, altas e baixas, de modo a garantir uma
eleição que não seja desastrosa para o GOP.
Compor-se com o virtual nominee Trump
Não surpreende que o Speaker da Câmara de Representantes, Paul
Ryan, que já compôs chapa, enquanto vice do candidato republicano
derrotado em 2012 Mitt Romney, venha a público declarar que ainda "não está pronto"
para apoiar a candidatura de Donald Trump.
Nisso Ryan não se diferencia de outros
grandes republicanos, com a diferença, porém, de que esses últimos são has been
(foram) no passado e hoje não passam de retratos na parede como George
W.H.Bush (presidente de um só mandato), o filho George Walter Bush e Mitt
Romney (candidato derrotado em 2012 por Barack Obama).
Quero crer que a próxima Convenção de
Cleveland servirá para remendar as rusgas e resistências no GOP, atendida a
circunstância que não pode ser ignorada, de que Trump, com todos os seus
defeitos, ganhou de forma limpa a disputa nas primárias, vencendo a todos os
'campeões' que a hierarquia partidária trouxera para enfrentá-lo.
Está na interesse da democracia
americana que as duas partes se disponham a acordar-se, pela simples
circunstância de que o Povo assim o determinou.
Paul
Ryan é apresentado como a maior autoridade política no Partido Republicano,
pela circunstância de ser o Speaker (presidente) da Câmara dos
Representantes. Por enquanto, a Câmara Baixa está destinada a ser um feudo do GOP pelo extenso gerrymandering que se sucedeu à real derrota em 2010, consequência
então da inexperiência política de Barack Obama. Por isso, Nancy Pelosi foi afastada da cadeira de Speaker, pela votação maciça
no GOP e no nascente Tea Party (dos irmãos Koch). Por isso, Obama chamou a reação de shellacking (tunda). Como tenho relembrado amiúde, essa rebordosa,
causada por uma eleição intermediária (em que o afluxo de eleitores costuma ser
baixo) teve, no entanto, consequências duradouras em inúmeros estados, dada a
sua coincidência com o censo decenal.
Foram criadas condições em diversos estados republicanos (vermelhos)
para redistribuir os votantes em distritos eleitorais, congregados de tal forma
a favorecer - dentro da prática do gerrymander - aos eleitores do GOP... Não tenho simpatias pelo Partido
Republicano, como meus leitores não desconhecem, mas aconselho a Ryan a, no
interesse da democracia, compor-se com o virtual candidato do GOP à presidência, sem muitas
exigências, para evitar que ocorra ao Partido Republicano um desastre natural
como sofreu o Democrata em 2010, com as bem-conhecidas consequências...
O Speaker Ryan declarara: "Não quero
minimizar o que ele já conquistou. Nós
esperamos que nosso indicado queira ser como Lincoln ou (discursar) como
Reagan, e que seja alguém que atraia a maior parte dos americanos.
E acrescentou: "Os conservadores
querem ter certeza de que ele compartilha dos nossos valores e princípios. Há
muitas questões para as quais os
conservadores desejam obter resposta".
Em resposta, Trump divulgou a seguinte
nota, declarando "não estar pronto para apoiar a agenda de Ryan."
Contudo, acrescentou: "Talvez no futuro
possamos trabalhar juntos para chegarmos a acordo sobre o que é melhor
para o povo americano."
Sem embargo, a indecisão de Ryan não
foi seguida pelo líder republicano no Senado Federal, Mitch McConnell. Nesse sentido, afirmou "ter-se
comprometido a apoiar o escolhido pelos eleitores republicanos. Donald Trump, o
provável nominee está à beira de conquistar a nomination".
(
Fontes: O Globo; Estado de S. Paulo )
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