terça-feira, 17 de maio de 2016

O Retorno da Diplomacia

                               

        Não surpreende que a liga bolivariana tente reagir ao Ministério das Relações Exteriores, depois de anos de relações diplomáticas desvirtuadas por ótica e interesse partidário, ao invés de política de estado, que fora sempre a norma seguida pela Secretaria das Relações Externas, desde o tempo do Império, e mesmo antes dele, com Alexandre de Guzmão, o grande Precursor de nossa Diplomacia.
         Não é difícil, decerto, explicar a sanhuda reação dos países bolivarianos, que ora se permitem opinar e propagar falsidades sobre  o processo político  interno  no Brasil, que se desenvolve em quadro de absoluto respeito às instituições democráticas e à Constituição Federal.
          Bem reagiu o Ministro José Serra, das Relações Exteriores, ao recordar aos porventura desmemoriados que o procedimento de impedimento é previsão constitucional; o rito estabelecido na Constituição e na Lei foi seguido rigorosamente, com aval e determinação do Supremo Tribunal Federal. Por conseguinte, o Vice-Presidente assumiu a Presidência por determinação da Constituição Federal, nos termos por ela fixados.
            É quebrada, outrossim, a reação deformada por ideologia alegadamente unida, ao invés de uma devida tomada de conhecimento da Unasul, sob o compasso de seu Secretário-Geral, Ernesto Samper.
            Com efeito,  o comunicado da Unasul sobre a conjuntura brasileira qualifica "de maneira equivocada o funcionamento das instituições democráticas do Estado brasileiro."
             Ao permitir-se opinar, dentro da linha neochavista, sobre o processo político brasileiro, Ernesto Samper perde boa ocasião de ficar calado. 
              Como sublinhado pelo Itamaraty, os argumentos usados por Samper são absurdos, preconceituosos, equivocados e infundados. (...) Além disso, transmitem a interpretação absurda de que as liberdades democráticas, o sistema representativo, os direitos humanos e sociais e as conquistas da sociedade brasileira  se encontrariam em perigo. A realidade é  a oposta".
               Diante de tão abstrusa reação, que contraria a ordem internacional, não há de surpreender que inexista  consenso no bloco sul-americano e, por conseguinte, não há possibilidade  de que venha a ser aplicada qualquer monstruosidade jurídica contra o Brasil, por causa de procedimento constitucional aplicado pelo Congresso Nacional.
               Assinale-se, por oportuno, que um dos principais opositores a tal linha despropositada de ação é o próprio Paraguai que há dois anos fora suspenso em razão do afastamento constitucional do então presidente Fernando Lugo pelo Congresso daquele país.
               É de frisar-se que o país-sede do Mercosul - através da assinatura do Tratado de Assunção - toma hoje, para sua honra, atitude bem diversa daquela então assumida pela diplomacia de Dilma Rousseff que orquestrara  indevida intromissão na ordem constitucional interna  do Paraguai para lograr o ingresso da Venezuela no Mercosul.
               Por outro lado, os eventuais países que acirram a sua oposição ao novo governo brasileiro constituem uma espécie de cópia-carbono da diplomacia neo-chavista, que segue a linha do titubeante poder de Nicolás Maduro. O regime chavista, hoje minoritário,  continua a desrespeitar a democracia através de intromissão sem peias, manipulada pela instrumentalizada  Corte Suprema, que tudo faz para impedir a atuação legislativa da Câmara - com maioria hoje da oposição - em um país atormentado pelo patético desgoverno de Nicolás Maduro.
                Bem haja o novo Governo brasileiro, ao assinalar o seu respeito às leis e a ordem constitucional, a par de oportuno retorno à diplomacia tradicional do Itamaraty, que nada tem a ver com o neochavismo, e sim com a obediência à diplomacia de Estado, que sempre foi a do Brasil.

         

( Fonte:  O  Globo )

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