Não surpreende que a liga bolivariana tente reagir ao Ministério
das Relações Exteriores, depois de anos de relações diplomáticas desvirtuadas por
ótica e interesse partidário, ao invés de política de estado, que fora sempre a
norma seguida pela Secretaria das Relações Externas, desde o tempo do Império,
e mesmo antes dele, com Alexandre de Guzmão, o grande Precursor de nossa
Diplomacia.
Não é difícil, decerto, explicar a
sanhuda reação dos países bolivarianos, que ora se permitem opinar e propagar
falsidades sobre o processo
político interno no Brasil, que se desenvolve em quadro de
absoluto respeito às instituições democráticas e à Constituição Federal.
Bem reagiu o Ministro José Serra, das
Relações Exteriores, ao recordar aos porventura desmemoriados que o
procedimento de impedimento é previsão constitucional; o rito estabelecido na
Constituição e na Lei foi seguido rigorosamente, com aval e determinação do
Supremo Tribunal Federal. Por conseguinte, o Vice-Presidente assumiu a
Presidência por determinação da Constituição Federal, nos termos por ela fixados.
É quebrada, outrossim, a reação
deformada por ideologia alegadamente unida, ao invés de uma devida tomada de
conhecimento da Unasul, sob o compasso de seu Secretário-Geral, Ernesto Samper.
Com efeito, o comunicado da Unasul sobre a conjuntura
brasileira qualifica "de maneira equivocada o funcionamento das
instituições democráticas do Estado brasileiro."
Ao permitir-se opinar, dentro da
linha neochavista, sobre o processo político brasileiro, Ernesto Samper perde
boa ocasião de ficar calado.
Como sublinhado pelo Itamaraty,
os argumentos usados por Samper são absurdos, preconceituosos, equivocados e
infundados. (...) Além disso, transmitem a interpretação absurda de que as
liberdades democráticas, o sistema representativo, os direitos humanos e
sociais e as conquistas da sociedade brasileira
se encontrariam em perigo. A realidade é
a oposta".
Diante de tão abstrusa reação,
que contraria a ordem internacional, não há de surpreender que inexista consenso no bloco sul-americano e, por conseguinte,
não há possibilidade de que venha a ser
aplicada qualquer monstruosidade jurídica contra o Brasil, por causa de procedimento
constitucional aplicado pelo Congresso Nacional.
Assinale-se, por oportuno, que
um dos principais opositores a tal linha despropositada de ação é o próprio
Paraguai que há dois anos fora suspenso em razão do afastamento constitucional
do então presidente Fernando Lugo pelo Congresso daquele país.
É de frisar-se que o país-sede
do Mercosul - através da assinatura do Tratado de Assunção - toma hoje, para
sua honra, atitude bem diversa daquela então assumida pela diplomacia de Dilma
Rousseff que orquestrara indevida intromissão
na ordem constitucional interna do
Paraguai para lograr o ingresso da Venezuela no Mercosul.
Por outro lado, os eventuais
países que acirram a sua oposição ao novo governo brasileiro constituem uma espécie
de cópia-carbono da diplomacia neo-chavista, que segue a linha do titubeante
poder de Nicolás Maduro. O regime chavista, hoje minoritário, continua a desrespeitar a democracia através
de intromissão sem peias, manipulada pela instrumentalizada Corte Suprema, que tudo faz para impedir a
atuação legislativa da Câmara - com maioria hoje da oposição - em um país
atormentado pelo patético desgoverno de Nicolás Maduro.
Bem haja o novo Governo
brasileiro, ao assinalar o seu respeito às leis e a ordem constitucional, a par
de oportuno retorno à diplomacia tradicional do Itamaraty, que nada tem a ver
com o neochavismo, e sim com a obediência à diplomacia de Estado, que sempre
foi a do Brasil.
( Fonte: O
Globo )
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