Taiguara
Rodrigues dos Santos, sobrinho da primeira mulher do ex-presidente Lula da
Silva, foi conduzido pela Polícia Federal para prestar depoimento ontem, vinte
de maio, numa investigação sobre tráfico de influência internacional.
Suspeito de haver recebido ilegalmente
recursos de obra da Odebrecht, em Angola, financiada pelo BNDES, e segundo a P.F. ,
a despeito de não ter capacidade de prestar serviços, a empresa propriedade de
Taiguara, a Exergia Brasil, recebeu R$ 3,5 milhões da Odebrecht. Mas a munificência da grande empresa nacional
não se restringe a este grande aporte.
Documentos disponibilizados mostram
que entraram nos cofres da pequena empresa de Taiguara outros pagamentos
feitos pela referida Odebrecht, que completam um total de US$ 7,4 milhões.
A Exergia foi subcontratada pela
Odebrecht, mas, de acordo com as investigações essa relação de serviço, só
existiria no papel, não tendo a dita sociedade qualquer condição de implementar
os contratos firmados com a empreiteira.
Posto que Lula não tenha sido alvo
da operação de ontem, é de notar-se que ela foi batizada com o significativo
nome de Janus - que se reporta ao deus romano do mesmo nome, e com duas
faces - que olham ao mesmo tempo passado e futuro.
Sem embargo, as aproximações entre
o ex-presidente e o até hoje obscuro personagem não se detém nos laços de
parentesco. Com efeito, o inquérito que
levou à condução coercitiva de Taiguara investiga se o
ex-presidente Lula fez lobby no exterior para as obras da Odebrecht. É de
notar-se que nos últimos cinco anos, a construtora brasileira obteve US$ 2 bilhões em financiamentos do BNDES para obras em Angola.
Os laços se vão estreitando ao
verificar-se que, segundo documentos disponibilizados, a Odebrecht fez diversos
pagamentos a Exergia desde 2011. Os repasses estão vinculados a oito projetos
da empreiteira em Angola.
Taiguara e seu sócio, José
Emanuel de Deus Carmano Ramos, foram interrogados no Rio sobre a prestação de
serviços em obras do complexo hidrelétrico
de Cambambe, em Angola. Ao todo, o projeto contou com o financiamento de
US$ 464 milhões do BNDES. Segundo a PF, o
fato de a Exergia ter recebido pelo menos R$
3,5 milhões mesmo sem experiência anterior ou demonstrar capacidade
técnica, indica suspeita de "irregularidades e dissimulação de valores de
origem ilícita."
A gama de atuação da Exergia,
segundo assinala a Odebrecht, é ampla e variada. Vai desde a perfuração
hidráulica de maciço rochoso, sondagem do solo e topografia, a implementação de
sistema de gestão de qualidade e projeto de realojamento de populações.
Produzidas pela área técnica da
Odebrecht, as mensagens citam pagamentos de US$ 1,47 milhão para a Exergia
vinculados à hidrelétrica de Cambembe, e outros
US$ 865,5 mil associados à obra de hidrelétrica de Laúca. É de notar-se
que em 2014, tal obra obteve financiamento de US$ 147 milhões do BNDES.
Por outro lado, desperta
espécie que uma companhia como a Exergia tenha recebido aportes consideráveis
do governo angolano: "pela gestão de qualidade de projeto de construção de
ruas em Luanda e análise de projetos e fiscalização de construção da Praça da
Paz" na mesma cidade, a Exergia recebeu US$ 1,92 milhão.
E não pára aí a lista de
pagamentos do Estado angolano que seja
dito de paso é um dos mais corruptos do planeta: "terraplanagem e
perfuração de rocha na refinaria de Lobito renderam US 1,43 milhão; gestão de
qualidade no realojamento de populações, outros US$ 586,8 mil; projetos e
topografia da construção de duas estradas, US$ 1 milhão; e sondagem de solo e
rocha no projeto Caculo-Cabaça, mais US$ 83 mil.
Nas mensagens, a Odebrecht
defendeu a contratação da Exergia, citando "disponibilidade de pessoal capacitado e equipamentos específicos já mobilizados em Angola" e preços
"em linha com os cobrados por outras empresas para execução de serviços
similares".
Sem embargo, em documentos
apresentados pelo "Jornal Nacional" foram apontados indícios de que
os serviços não teriam sido prestados como exigido em contrato.
Por outro lado, essa
mega-investigação começou no Ministério Público Federal em maio de 2015 e tem
quatro frentes para apurar possíveis irregularidades em obras no exterior com recursos do BNDES. O
trabalho do MPF se volta para: (a)
tráfico de influência de Lula, notadamente na República Dominicana, Cuba e
Angola; (b) metrô de Caracas; (c) obras no Panamá; e (d) o Porto de Mariel, em Cuba,
inaugurado com a presença de Dilma Rousseff e de vários líderes latino-americanos
do grupo chavista, que lá foram ávidos pela participação do Brasil em seus
empreendimentos, dado o custo do referido porto, que pela sua qualidade não
semelha ter merecido do governo petista investimento equivalente em qualidade
técnica e aporte financeiro do Brasil.
O inquérito
policial foi aberto em 23 de dezembro de 2015, e desde essa data a Polícia
Federal vem fazendo cruzamento das viagens de Lula à África e de reuniões que
ele teria mantido no BNDES.
Como explicou a
delegada-federal Fernanda Costa de
Oliveira "estamos tentando materializar a possibilidade de tráfico de
influência e tráfico de influência envolvendo ex-agentes públicos, Odebrecht e BNDES.
Envolve grandes contratos - em particular nessa fase a construção de uma
hidrelétrica em Angola".
Para a delegada, tudo
indica que o financiamento do Banco estatal para a empreiteira seguiu os
trâmites burocráticos regulares. Recaem, no entanto, as suspeitas sobre as
negociações que levaram o Banco a abrir os cofres para a Odebrecht, a qual,
depois de receber a ajuda, contratou uma empresa aparentemente sem
qualificação. Segundo o MPF, as investigações
reúnem indícios de
irregularidades e de condutas, em tese delituosas, no sentido de, no mínimo,
dissimular e ocultar valores de origem ilícita.
Para o BNDES, todos os
empréstimos foram regulares. Não foram localizados os advogados da Exergia. Em
nota, o Instituto Lula escreveu que o
ex-presidente não foi parte da operação policial. Segundo o mesmo Instituto, os procuradores tentam
"sem resultado, apontar ilegalidades na conduta do ex-presidente".
Por sua vez, a Odebrecht informou que não se manifestaria sobre a operação.
( Fontes: O
Globo e Rede Globo pelo Jornal Nacional )
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