A meio surpresa foi a vitória decisiva de Donald Trump
sobre o adversário que lhe deu mais trabalho, o Senador Ted Cruz (Texas). No
dizer do New York Times, pouco simpático, amargo e mesmo corrosivo às vezes,
Cruz afinal rendeu-se às evidências.
Permanece na corrida o Governador de
Ohio, Joe Kasich, que os observadores pensam fará apenas papel de figurante nas
diversas primárias que ainda faltam. No entanto, política é política, e não
semelha aconselhável riscar do quadro alguém
que persiste em campanha.
Cruz tentou tudo, e assim aludiu às
infidelidades maritais por atacado de Trump, chegando mesmo até ao cúmulo da
baixaria de reportar-se às contraídas doenças venéreas do adversário.
Poderia ter saído da refrega com uma postura que lhe deixasse um pouco melhor
no retrato da campanha. Mas pelo visto, tal não está no DNA do Senador Ted
Cruz, o ambicioso líder da facção Tea Party, que alguns chegam a comparar a Joe
McCarthy, seja pela desenvoltura, seja pelos pendores demagógicos.
Trump foi sábio em não esfregar
demasiado a total vitória sobre os adversários. Chegou mesmo a referir-se de
modo simpático ao seu tenaz adversário, no que decerto mostrou grandeza.
Fora o super-inesperado, Donald Trump
parece reunir todas as condições para chegar em Cleveland já como o virtual nominee, mas dado o ódio que lhe vota a
turma de cima do Grand Old Party
(Magnífico Velho Partido) afigura-se
mais prudente esperar pela chamada ritual das representações estaduais. De
qualquer forma, como os números o favorecem de forma esmagadora, Trump pode mesmo controlar-se e parecer mais
modesto e cordato do que é, para facilitar
aos grandes da direção republicana a ingestão dessa indigesta drágea.
Por outro lado, e não por
primeira vez, o incansável e na aparência inamovível Bernie Sanders logrou
cortar em Indiana a série de triunfos de Hillary Clinton.
Pesquisas anteriores já tinham
revelado que o público - na grande maioria branco - de Indiana favorecia ao runner-up (principal adversário) de
Hillary, o senador pelo Vermont, Bernie Sanders.
Por isso, a principal candidata
democrática na prática tirou o time de campo, não mais aí fazendo campanha, nem
gastando com publicidade.
Hillary tem, no entanto, que
voltar a aguentar a retórica do adversário democrata. Na prática, como disse Sanders "eu até
entendo que a Secretária Clinton pense que essa campanha já era. Tenho más
novas para ela: esta noite alcançamos grande vitória em Indiana. Na próxima
semana, vamos para a Virgínia Ocidental. Temos boa chance de ganhar naquele
estado".
E enumerou os seguintes: Kentucky
e depois Oregon. "E nós pensamos ter uma boa chance de igualmente ganhar
lá."
Embora Hillary Clinton tenha,
por enquanto, vantagem substancial sobre o seu adversário republicano, tudo
indica que a campanha será difícil e mesmo penosa (bruising)[1]. A
pré-candidata democrata, se o adversário
Sanders continuar ganhando (embora pareça não ter mais condições de alcançar a nomination) tenderá a fazê-la gastar
muita energia até que chegue à Califórnia, a última primária, numa via para a
convenção de Philadelphia assaz desgastante.
Enquanto tiver de aguentar o
briguento rival interno, não poderá concentrar-se no objetivo precípuo do
esforço, a saber encetar a campanha propriamente dita, i.e., o enfrentamento
entre o candidato-surpresa e ela própria.
Nesse sentido, toda a série de
primárias que faltam representará um senhor desafio para Hillary. Ela terá de
aguentar o tranco, a par das provocações e eventuais mesquinharias do
adversário Sanders, enquanto Trump assiste de camarote a luta interna que
enfrenta a rival democrata, com todas as suas possibilidades de escorregadelas
e de golpes baixos.
Sem qualquer ironia, não nos
resta senão desejar boa sorte à candidata Hillary, porque ela é de longe a
melhor desse campo.
( Fonte: The New York Times )
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