Para que os sórdidos detalhes da
manobra fossem desvendados, não tardaram vinte e quatro horas.
De início, a conjura começou a fazer
água quando o Senador Renan Calheiros, Presidente do Senado, a rejeitou e
manteve o rito do impeachment.
Tampouco tardou muito para que se
soubesse que o Deputado Waldir Maranhão (PP) viajara com o Governador Flávio
Dino, que é do PCdoB, partido que mantém virtual união carnal com o PT, e mais
tarde jantara com o irrequieto José Eduardo Cardozo.
Dadas as consequências de tais
contatos, não há dúvidas de quem jantou quem nessa refeição vesperal.
O próprio antigo mentor, o deputado Eduardo
Cunha, judicialmente afastado da presidência da Câmara, fez ouvir alto e forte
o respectivo protesto.
Mas a manobra - que Renan bem
definiu como 'brincadeira com a democracia' - teve a vida de certas encabuladas
criações da natureza. Afinal ignorada pela sua irrelevância, o autor revogou a
própria criação, na solidão que lhe é costumeira.
Como criaturas de vida curta,
deixou suas marcas no primeiro sorriso de Dilma Rousseff, após tantas tristes
carantonhas de um não-findar de atos públicos no Planalto.
Para quem não sabe fazer canoas que naveguem
por cursos mais alentados, um daqueles trezentos pícaretas de que nos falou
talvez o maior deles, a cobertura durou um dia se tanto, mas se estendeu às
margens de Hudson, Tâmisa e Sena, para só ficar no badalado circuito de
Elizabeth Arden. De uma certa maneira, terá mostrado que a democracia
brasileira pode ser jovem, mas defende-se bem.
Mas alto lá, que o novelo dessa
estória promete ainda enrolar-se, pois conhecido leguleio - que se tem mexido
ou quiçá debatido muito nas últimas semanas - nos promete um enésimo recurso,
dirigido este ao círculo dos xamanes maiores, a que ele comparece quando lhe
aproveita.
Não é que, fundado na esperança
dos desesperados, fará mais um recurso ao Supremo, esperando que judicializem
de vez o processo, e continuem na perigosa senda de mais uma intervenção, agora na Casa mais alta.
Quiçá não devera insistir, porque
já diz o dito que o vasilhame muito usado, acaba por quebrar ou perder a
serventia.
Ao invés de bater na aldrava dos
tribunais, melhor seria respeitar o querer do Povo, a quem acabam por cansar
demasiados truques e falsas mágicas.
( Fonte: O
Globo )
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