terça-feira, 31 de maio de 2016

Pif Paf

                                         

Queda na Competitividade

           Continua a crise do Brasil no comércio internacional. De acordo com o Anuário da Competitividade Mundial, nosso país continua em queda livre no comércio exterior.  Em 2010, ano 1° da assunção de D. Dilma, o Brasil era o 38°. Desde então, despencamos dezenove posições. 
           No ranking deste ano, caímos ainda mais.  Estamos na 57ª posição no ranking global da competitividade do IMD (Instituto para o Gerenciamento do Desenvolvimento) à frente apenas da Mongólia, Ucrânia, Croácia e Venezuela.
           Que o Brasil esteja em tal situação, já representa a constatação do atraso em nossos portos, da persistência da burocracia, do peso excessivo dos impostos, além do pessimismo generalizado da classe empresarial, que é um reflexo da crise de governabilidade e ética que o país vive.
            A despeito da Lava-Jato, a crise é também decorrência da corrupção ainda generalizada.
             Talvez o escândalo da presente situação do Brasil no comércio internacional possa ter realce ainda maior se atentarmos para o grupo de países que logramos superar: a Ucrânia, invadida pela Rússia e com uma larvar guerra civil induzida  e a Venezuela, o caso extremo do desgoverno, que a administração Nicolas Maduro simboliza.

Avaliação do Governo Temer

              Miriam Leitão, em sua coluna econômica, emite juízo severo sobre o novel governo Temer.  Talvez a colunista de O Globo tenha calcado demais na tecla da crítica.
               Depois de escrever que "Temer escolheu alguns excelentes quadros para a economia e acertou na direção das primeiras medidas fiscais",  acrescenta que já estaria  colecionando um número impressionante de erros.
              Discordo quanto ao impressionante  no que concerne a erros.  O Ministro do Planejamento, Romero Jucá, foi logo afastado. Quanto ao Ministro da Transparência, Fabiano Silveira, o próprio nome do cargo de sua Pasta já indica muito sobre o excesso de ministérios.
               Se se aumenta o número de ministros, e se criam pastas que pela própria designação já são indicativas da demasia, a possibilidade do erro também cresce.
         
Superávit do Governo Temer

              Em abril, as contas públicas voltaram ao azul.  O Governo Central (Tesouro Nacional, Previdência Social e Banco Central) registrou superávit primário de R$ 9,751 bilhões em abril.  No acumulado do ano, no entanto, o saldo das contas continua negativo. Assim, o déficit primário registrado entre janeiro e abril foi de R$ 8,4 bilhões - pior resultado da série histórica do Tesouro, iniciada em 1997.
              Segundo explicou o Secretário do Tesouro Nacional, Otávio Ladeira, abril é um mês em que tradicionalmente as contas públicas têm bom resultado, em razão do calendário de pagamentos de impostos.  O resultado de 2016 também  foi influenciado por fatores sazonais e por mudanças nas regras do programa Minha Casa Minha Vida.
              Ladeira lembrou a propósito  que parte dos repasses do Fundeb - R$ 1,1 bilhão - foi adiada de abril para maio por decisão judicial.  Além disso, as despesas do Minha Casa Minha Vida saíram do orçamento da União, e passaram para o Fundo de Garantia de Tempo de Serviço (FGTS). Isso melhorou em R$ 3,32 bilhões as contas do Governo central.
               Também ajudou a redução nos pagamentos de subsídios, subvenções e Proagro.  Os gastos foram maiores  em 2015 por causa do acerto das pedaladas fiscais. Houve redução de R$ 4 bilhões (96,5%) nos desembolsos dessa rubrica em 2016...


(  Fonte:  O  Globo )

segunda-feira, 30 de maio de 2016

Ganso e a Seleção

                                    
        Ganso, que nesta  temporada atua pelo São Paulo, é um raro crack no meio-campo, que teima em jogar bem - como ontem, quando marcou o único gol da vitória do São Paulo contra o Palmeiras, no combatido clássico do futebol paulista, disputado no quadro do Brasileirão.
         Desde muito, enquanto mediocridades e veteranos tem sido chamados para a seleção, Ganso - que antes jogara no Santos - e se entendia bem com Neymar, continua a mostrar de suas  qualidades de meio-campo, uma espécie em extinção no futebol brasileiro.
          No entanto, a falta de elo entre defesa e ataque tem levado o incrível Dunga a experiências surpreendentes, enquanto destituídas de elementar  bom senso.
          A crise atravessada pelo futebol brasileiro - se rasgada pela vergonhosa goleada dos sete a um em Belo Horizonte - continua a mostrar-se debaixo de claros, inconfundíveis sinais como a atual colocação nas eliminatórias para a Copa do Mundo.
          A descaracterizada CBF, chefiada por Marco Polo Del Nero - que nem do Brasil se anima a viajar - já explica um tanto que a seleção esteja entregue a alguém cuja incapacidade  já foi cabalmente demonstrada pelo desastre da eliminação na África do Sul. 
          Agora, Dunga monta seleção que com toda a crise que o nosso futebol atravessa não explica o sexto lugar nas eliminatórias. Convoca Cacá que com toda a sua simpatia não mais tem o jogo de antes, ignora Ganso e coloca em posição esdrúxula a Neymar.
           Thiago Silva, por outro lado, é ignorado. Essa seleção não representa o Brasil, e parece um expresso que vai ganhando velocidade inercial para a inevitável eliminação.
            A CBF há muito tempo grita, clama mesmo por intervenção. O futebol é atividade séria e importante demais para ser deixada a cuidado de Del Nero e de Dunga. Estamos brincando com a vergonha, ao tirarmos Neymar da colocação natural, ao ignorarmos a importância de Ganso, e não chamarmos de volta a Thiago Silva e a Marcelo, enquanto mantemos os bons valores que apesar das idiossincrasias do técnico repontaram na seleção.
             Temos de chamar sangue novo para a seleção antes que seja tarde demais, e quando digo sangue novo refiro-me a toda seleção, que carece de ser reforçada. Precisamos de um técnico digno desse nome, de um presidente da CBF que possa acompanhar o scratch, e que tenha estatura e curriculum para tanto.
               Vamos pôr um basta nas experimentações de grandes jogadores fora de suas posições, nas tolas implicâncias de um treinador medíocre, e de representante da CBF que, por estranhas motivações, passou a ter medo de viajar ao estrangeiro.
                O retrato atual da seleção é de combinado medíocre que parece destinado à triste sina de primeiro time na história do futebol brasileiro que tropeça nas eliminatórias e que está seriamente ameaçado de, por primeira vez, não participar da próxima copa. Diante da crise que se avoluma, diante das más atuações do scratch brasileiro, o que se está esperando para pôr em campo um team que realmente corresponda ao potencial de nosso futebol, e não seja a criatura deformada de um técnico que já falhou uma vez?
                 Chega de experiências e de experimentos  que nos recordam a mediocridade que explica o naufrágio da Africa do Sul. Quando precisou reformular a seleção, pela perda de um valor, merecidamente expulso, Dunga olhou para o banco - que ele próprio montara - e não havia ninguém com qualidade para pôr em campo!
                 Há ainda muitos valores no futebol brasileiro, se tivermos a coragem e a determinação de apontá-los. Façamo-lo de modo a pinçar sempre os melhores. Não nos restrinjamos pela idiossincrasia da mediocridade, pelas prevenções, e por manias e superstições. Vamos ter coragem de assumir  escalação que realmente reflita os grandes craques  de nosso futebol, e não os preferidos e queridinhos de um técnico que parece mais cercado de prevenções e da sua grande mediocridade.
                    Depois de tanto tempo continuamos com a lanterna de Diógenes a procurar gente para a equipe, quando chegaríamos facilmente a um scratch dos melhores, se nos despojarmos dos rancores e das implicâncias. Vamos ter coragem de escalar os melhores!

                     É preciso uma intervenção já na Seleção! É hora de esquecer as picuínhas e escolher os melhores!

Os espiões cibernéticos

                                  
                           

       Antes livres para denunciar e expor mazelas, assim como em condições de proteger as respectivas fontes, atualmente os dissidentes (nas ditaduras) e os opositores, em administrações democráticas, não são mais aquela chasse gardée que se podia permitir ficar ao largo das investidas dos cães da cibernética.
        Com efeito, de certa forma, seja pelo então rudimentarismo dos primeiros hackers, seja pela falta nos governos, máxime aqueles autoritários, de instrumentos capazes de desmantelar as defesas cibernéticas, a oposição contra regimes ditatoriais e as democracias de fachada se tornava um jogo sem maiores riscos, quase infantil pela facilidade da respectiva penetração.
        De certo modo, a oposição entre a Apple e o FBI nos Estados Unidos, na batalha judicial para abrir o aparelho de quem atacara a clinica em San Bernardino, colocando de um lado a Apple, e de outro o sistema de segurança do governo americano, não foi apresentada, sobretudo fora dos States, de maneira a deixar bem claro o que realmente defendiam as partes em conflito.
        Na verdade, a Apple defendia o próprio sistema, não por conveniência comercial, mas para proteger forma de encryption que demandara muita pesquisa e investimento. A Apple não defendia egoísticamente um sistema, nem pretendia proteger criminosos. Se abrisse o segredo de uma forma criptológica que demandara muito estudo, pensaria na proteção que o referido sistema continuaria a estar em condições de fornecer aos usuários de boa fé da Apple.
         Ao cabo de longa batalha judicial, o Governo estadunidense somente logrou quebrar o segredo do aparelho que estava em mãos do terrorista morto por meio de ajuda não especificada de um hacker anônimo. O quanto lhe terá custado, não está esclarecido.
          Nessa batalha contra o sigilo, há várias frentes de luta. Os velhos códigos manuais - ainda utilizados por certos países com poucos meios - não são barreira para os decodificadores, muitos deles automáticos, das agências principais dos grandes países.
           Mesmo os sistemas julgados mais desenvolvidos, não costumam ser barreira para os computadores da NSA. Nesse sentido, no passado, os sistemas menos artificiosos constituiam para as principais potências um meio precioso de obter informações que lhes mostrassem seja os bons informantes de que dispunham, seja a pouca confiabilidade de suas fontes, e de qualquer forma, uma indicação mais ou menos precisa do nível de informação de que dispunha seja o governo, seja a missão cuja correspondência era submetida ao crivo da decifração, em alguns casos automática, em outros carecendo de ulterior etapa.
          Conhecimento é poder, já dizia o velho monge medieval. E por muito, os países subdesenvolvidos - que se julgavam protegidos por rudimentar cifração - forneciam de graça às grandes e até médias potências informações de valia variável. A relativa exposição dos meios usuais de comunicação, apesar de sua suposta sofisticação, na verdade constituíam um escudo risível na proteção da informação. A vulnerabilidade se tornou tal, que a velha mala diplomática, sobretudo aquela levada por correio, passaria a constituir o modo mais seguro da transmissão da informação. Não escapava desse conduto a ironia de que um antigo, arcaico mesmo, modo de comunicação, iria representar, desde que realizada por portador confiável, a maneira mais segura na transmissão de dados reputados sensíveis.
          Dada a sofisticação atual, é com estranhável assombro que se depara a capacidade de um meio rudimentar de derrotar os instrumentos mais sofisticados do chamado mal-ware.
           Segundo informa a matéria do New York Times, há dezenas de companhias especializadas nessa vigilância global: assim o Grupo NSO e o Celebrite, em Israel, o Finfisher na Alemanha, e o Hacking Team, na Itália, que se dedicam a vender instrumentos digitais para governos.
           Nas grandes ditaduras, como RPC, e mesmo nas médias, como a Federação Russa, é grande o número de hackers a serviço governamental.  A própria RPC penetrou o serviço administrativo americano, levando a própria diretora a exonerar-se, por não ter cuidado das defesas cibernéticas que teriam impedido fossem os endereços dos funcionários estadunidenses abertos supostamente por hackers chineses.
           Existe nos Estados Unidos a National Security Agency, que consome  um bom naco da verba confidencial norte-americana, e que, muita vez, pela amplitude do desafio e pela profusão de fontes se vê atrapalhada pelo número de mensagens, a ponto de deixar escapar indicações vitais, como aquelas relativas ao ataque às Torres Gêmeas (nine eleven - onze de setembro de 2001).
          Os grandes consumidores do material produzido pelos hackers constituem via de regra ditaduras ou regimes chamado fortes, que costumam ser muito sensíveis às informações produzidas por ativistas de direitos humanos e os chamados dissidentes. O que foi feito com o Sr. Ahmed Mansour, um ativista de direitos humanos nos Emirados Árabes Unidos pode ser considerado um caso limite no combate aos corajosos soldados da informação: além de ser preso e demitido do próprio emprego, teve o próprio passaporte confiscado, o carro roubado, o seu e-mail hacked (penetrado), a sua localização acompanhada e a sua conta bancária invadida e roubada em 140 mil dólares.  E para terminar, recebeu surras, por duas vezes, na mesma semana.
              Na sua luta para preservar o respectivo regime repressor encontramos juntos países bastante diversos, como o pequeno e rico em petróleo Emirados Árabes Unidos, e outros, vastos, mas pobres e populosos, como a Etiópia. Não obstante as diferenças na sorte,  são ávidos fregueses do spyware comercial e interessados em treinar programadores para desenvolver os seus instrumentos digitais de hacking e  de vigilância, unidos na inglória busca de ameaças, tanto putativas, quanto reais, de que se sentem cercados, e que, para combatê-las, encontram muitas mãos e agências, dispostas em auxiliá-las. A defesa das ditaduras tem duas fontes: as institucionais, em países como a Rússia e a RPC, e as da suposta livre-empresa, vendida por hackers ocidentais, por bom dinheiro para reprimir outros irmãos hackers, a quem a sorte madrasta os situou em odientas ditaduras contra as quais lutam.
                  Mas esses idealistas que, muita vez, não se intimidam na sua luta pela divulgação da verdade, formam uma espécie de panteão de pessoas que não temem o encarceramento por questão de princípio. Às vezes, como Daniel Ellsberg e os Papéis do Pentágono não são presos, por decisão de uma Corte Suprema mais liberal. Outras vezes, porém, como no caso de Julian Assange (que se acham em asilo diplomático, concedido pelo Equador, através de sua missão em Londres) pelas revelações do Wiki-leaks, e por fim Ed Snowden, que se acha até hoje asilado na Federação Russa, de gospodin Vladimir V. Putin, por sua divulgação de material de segurança estadunidense da National Security Agency, notadamente aquele dirigido a espionar a população americana, mas também autoridades de outros países, como a então Presidente do Brasil, Dilma Rousseff.



( Fonte:  The New York Times )   

domingo, 29 de maio de 2016

Xi Jinping: Visão complementar

                             


        Em complemento ao blog 'Democracia Chinesa', do início de maio, fiz resenha do artigo de Orville Schell "O arrocho na China: cada vez pior", que já apresentava visão mais atualizada da atuação de Xi Jingping, que se afastava dos laivos democráticos de Hu Jintao e antecessores.
       Agora o n° 8, com as datas de 12 a 25 maio correntes, da New York Review of  Books, nos traz artigo de outro sinólogo, Andrew J. Nathan, em que a visão das perspectivas do gigante chinês se me afiguram ainda mais pessimistas.
         Essa avaliação política complementa a anterior, mas sob certos aspectos mostra quadro mais inquietante no que concerne às possíveis perspectivas do governo de Xi.
         Através do arrocho na sociedade chinesa, já sinalizado no trabalho de Schell, Nathan aponta para outros aspectos que, além de reforçarem tal tendência, apresenta traços ainda mais vincados e inquietantes: "Existe incessante repressão em todas as formas de dissenso e de ativismo social: a internet e a mídia social estão sujeitas a controles muito mais estreitos; cruzes cristãs e igrejas são demolidas; as duas nacionalidades colonizadas, os uighurs e os tibetanos são submetidos a perseguições ainda maiores; advogados ativos na defesa dos direitos humanos têm sido presos e postos em julgamento; aglomerações públicas são restringidas; inúmeras publicações são censuradas; livros de texto estrangeiros estão oficialmente banidos das classes universitárias; os intelectuais estão sob escrutínio das autoridades; as ONGs estrangeiras e nacionais foram submetidas a pressões sem precedentes dos organismos oficiais, e muitas foram 'convidadas' a deixar a China; são regulares os ataques contra as 'forças hostis estrangeiras'; e os apparatchicks da 'manutenção da estabilidade' estão por toda a parte no Império do Meio. Em conclusão, a impressão geral é que a China se está tornando  uma sociedade mais repressiva de que em qualquer período depois da histeria do pós-Tiananmen 1989-1982" (Extraído do livro de David Shambaugh, Futuro da China. )
          Consoante Nathan acentua, Xi é diferente de Mao (a quem idoliza) em vários pontos importantes. Ele se serve de informações mais acuradas do que Mao, por dispor de aparato de repressão mais extenso e eficiente. Ao invés de valer-se de Guardas Vermelhos  e de outras formas de histeria coletiva, ele se vale das câmaras do PCC, assim como de acusações de corrupção (e de revisionismo doutrinal) para expurgar rivais.
          Há grande diferença entre Mao e Xi: o primeiro era um pensador e estilista literário; por sua vez Xi tem idéias banais, mas é mais consistente quanto às decisões que formula.
           O Ocidente, no entanto, não deveria iludir-se quanto à reforma que planeja. Para ele as forças do mercado devem ter papel determinante para a alocação dos recursos, mas não se deve ter ilusões quanto à função dessas forças do mercado que devem revigorar as empresas estatais e as instituições financeiras estatais como líderes do mercado. Doutra parte, essas forças continuam a fruir do apoio do Estado para continuar a ser uma grande parte da Economia.
              O objetivo principal é o de manter o PCC no poder. Por outro lado, a concentração do poder de Xi - ele pretende quebrar a recente norma de dois períodos de cinco anos, e ao invés servir mais um ou até dois períodos à testa do Estado. Não é apenas o PCC que Xi Jinping quer manter no comando.
               Tal aspecto, isto é, a concentração do poder ambicionada por Xi coloca gravíssimos problemas para a China. Nathan cita a propósito  interessante discurso de Deng Xiaoping "Sobre a reforma do Sistema de Partido e Liderança no Estado" (datado de 18.08.1980): A superconcentração do poder é tendente a dar nascimento ao governo arbitrário por indivíduos. A super-concentração do poder tende a dar nascimento ao governo arbitrário por indivíduos às custas da liderança coletiva e é importante causa da burocracia nas presentes circunstâncias. Há um limite para o conhecimento, a experiência e a energia de qualquer pessoa. Se uma pessoa ocupa muitos postos importantes ao mesmo tempo, será difícil para ele dominar os problemas no seu trabalho, e o que é mais relevante, ele bloqueará o caminho de muitos camaradas em melhores condições de assumir postos de direção.
                   Como se sabe, era esta a posição do líder chinês Zhao Ziyang que por infeliz coincidência pôde ser afastado do poder na década de noventa (foi notadamente Primeiro Ministro e membro do Politburo, e a partir de 1987, Secretário-Geral do PCC). Zhao, pela sua involuntária ausência em viagem de estado à Coréia do Norte, o grupo conservador de Li Peng conseguiu convencer o velho Deng a assinar manifesto provocador contra o movimento estudantil na Praça da Paz Celestial. O restante é conhecido...
                   A desmedida ambição de Xi o levou a assumir, na prática, a totalidade do poder na China. Isto se choca com as sábias regras de controle coletivo do PCC, com vigência até há pouco, nas sucessivas lideranças, de que Hu Jintao foi a última.
                   É interessante aquilatar o risco para a China, e dado o seu atual peso,  para o próprio mundo, do esquema de poder absoluto para Xi. O próprio Robespierre, com seu espírito revolucionário, tinha um comitê restrito de salvação nacional, que, de alguma forma,  restringia  a autoridade sem limites do "Incorruptível".
                   Ao virar de cabeça de para baixo o bom-senso do velho Deng, Xi coloca em risco a sobrevivência do regime na sua capacidade de suportar enorme carga de trabalho e não fazer grandes erros.  Dessarte, ele põe para correr a mídia e os altos funcionários fora de seu círculo imediato de lhe dizer a verdade factual. Ele tenta também conter a crescente diversidade de forças sociais e intelectuais que tende a se tornar cada vez mais fortes.
                    Ao invés  de criar um consenso acerca do caminho da RPC para o pleno desenvolvimento, ele pode estar levantando barreiras para tal implementação tanto nas elites econômicas e intelectuais, quanto na própria  liderança política.
                    Outro aspecto com possíveis repercussões negativas para o futuro, está na circunstância de Xi confiar a membro aposentado do Comitè Permanente do Politburo, isto é, ao seu velho amigo Zhou Yongkang, assim como a outros funcionários aposentados, a missão de preparar e realizar promotorias relativas a crimes de corrupção. Com tal novo procedimento, Xi quebra  importante regra administrativa: os aposentados que até hoje são imunes de procedimentos penais tão logo deixem as respectivas funções estatais, se tornam igualmente responsáveis, como os funcionários na ativa.  Por assumir tais novas funções punitivas, eles deixam de ser penalmente irresponsáveis em termos administrativos.
                     A óbvia conclusão é que o próprio  Xi Jinping se está colocando a ele próprio em perigo, ficando exposto a procedimentos penais mesmo após a sua aposentadoria dos seus atuais altos cargos. Com efeito, mudando o sistema, como pode ter ele a segurança de não ser processado com o novel sistema sistema por ele instaurado?
                      Como resultado prático, portanto, do ativismo do governo de XI  é que a aposentadoria se democratize em um sentido que decerto não estaria previsto pelas autoridades atualmente no exercício do pleno poder: se a regra valer, ninguém mais poderá estar seguro de não ser processado por algum desafeto. Em outras palavras, a aposentadoria deixa de ser um remanso seguro para qualquer pessoa.
                     O sinólogo Andrew J. Nathan sublinha, ao final, a circunstância de que o regime instituído por Xi Jinping se comporta como se estivera enfrentando uma ameaça existencial.  Seria decerto leviano prever que sua tentativa  de consolidar o governo autoritário  - que é um senhor recuo na progressão chinesa - esteja destinada ao fracasso.  Mas não é demais apontar o implícito contrassenso: o intento em apreço se arrisca a criar a própria crise política que a tentativa em tela busca evitar.


( Fonte: The New York Review # 8: artigo de Andrew Nathan: "Quem é Xi Jinping?" )
á H HHa



Lembranças do meu tio Adolpho (II)

                              


         Tio Adolpho, se fora presença episódica na vida do menino Mauro,  depois crescera nas minhas idas, acompanhando a família, à Frei Caneca - que abrange duas fases distintas - e mais tarde em passeios de lancha,  na baía de Guanabara.
           O tecido da lembrança é decerto caprichoso, com lacunas que no caso são mais decorrência das sinuosas, solertes e subreptícias ciladas do deus Cronos, que brinca, entre mofino e malfazejo, com a fugaz e frágil memória dos humanos.
           Eu, menino órfão - de quem o destino levara tão cedo a presença do pai e a quem a psicanálise diria depois não só dá segurança, mas certeza e solidez, além do vulto grande presente na casa em que vives, no meio que frequentas, nas atenções que vicariamente te são prodigadas - e de cujo peso e indubitável relevância só saberias serodiamente pela assertiva de voz prematuramente cortada do teu convívio, de quanto se depende da solitária figura paterna, por ser a única que cabalmente te confirma na sorte, na ambição e na dúvida, que é, sobretudo, por importuna que te irrompa, companheira inquietante, molesta e tormentosa.
            Com ela não há lidar, se o destino indiferente, sem qualquer sombra de pré-aviso, te arranca da tua tenra, tentativa consciência in-fieri, não só a figura  - que para a criança-infante é mais do que presença protetora e evolvente, mas também mítico, instintivo repositório de carinho, apoio e fortaleza, como o sentira no átimo em que se perdera na multidão anônima da rua central e atravessara por breves, lancinantes segundos de funda angústia e súbito abandono, a temporária perda da mão rija e carinhosa que lhe viria não tão rápido quanto desejara, no abraço forte do pai que para seu alívio tornara a ser presente, de pronto apagando lágrimas de inominada ansiedade - que a criança que deixou de ser de colo sente mas não sabe exprimir.
               Entrei sozinho na casa avoenga da Fernandes Vieira, 93, palco de tantos jogos, travessuras e brincadeiras, e de incontáveis encontros com os tios e a minha prima Cris, que me seguia em anos, em mais desenvoltura, e igual companheirismo.
               Vinha de longe - e o que sói nessas horas acontecer que o futuro não explica - iria prefigurar-se diante da criança indecisa que sem saber ao certo já sentia, e que avançava pelo chão pedregoso da alameda do jardim do avô Romualdo estranhamente sozinha, sem adulto a acompanhá-la. Mas, lesto subiu os poucos  pétreos degraus da entrada externa.
                     Pelo acúmulo de pessoas - e não discerniu ninguém que conhecesse - adentrou o hall interno, empurrando a pesada porta da mansão.
                     Em meio à gente estranha que ali se reunira, separado da sala de entrada por painel divisório de madeira escura e trabalhada, sem que soubesse por que o seu olhar se voltara à esquerda, por trás da sala de visitas - que, consoante o costume antigo, tão raro se abria para pessoas de cerimônia  e a tantos mais que nunca antes vira.
                     Sem que se desse conta, o menino de seis anos  afasta o olhar da aglomeração ao redor, e o afunda, sem saber bem porquê, no   estranhíssimo espetáculo, que se aprontara na residência de vô Romualdo e vó Lucinda, naquela sala toda envidraçada, dita de visitas.
                      Os olhos de crianças pairam ignaros no que lá existe. Sobre estrado de madeira,  um caixão cerrado. Mais do que o féretro, o espanta a quantidade de flores que sobre ele se estendem. O branco dos lírios e o verde da amontoada folhagem mal deixam entrever o esquife mortuário.
                       Deveras, excluída a imagem que o agride de forma que não entende a princípio, mas já com a suspeita, que confirma os gritos de sua mãe no avião, com as passagens arranjadas quase por milagre naqueles anos de guerra na Europa, e tendo de aguentar os vôos lotados e lentos, malgrado os quatro barulhentos motores à hélice.
                        Até então não sabia - ou relutava em saber - da razão dos gritos de mamãe, que, nas presas do desespero, queria sem querer que o tal avião caísse.
                         A partir do instante, em que me deparo com aquela estranha armação,  principio a intuir de o que se trata. Em quarto anexo está minha mãe, entregue ao sofrimento da brutal e final separação de um casal que com meus olhos infantis sempre vira feliz, risonho e brincalhão .            
                          Era junho de 1944. Depois, nos perguntaríamos se não teria sido melhor que o tenente do CPOR José Raphael de Azeredo houvesse partido com a FEB para a Europa.  Até o vira de longe, na casa paterna, com o uniforme de tenente.
                          Seria apenas a visão de um pai que me faltaria em breve para sempre.



 ( Fonte: Bernardim Ribeiro )

sábado, 28 de maio de 2016

Ameaçadas as Olimpíadas no Rio ?

                         

        Contra as Olimpíadas no Rio persiste  ameaça difusa, cujos desdobramentos são adiamento ou transferência para outra sede.
        De início, a contestação partira de  Cidade que pleiteara a sede e fora vencida pelo Rio de Janeiro. Recordo-me de manifestações mais violentas que motivaram protesto de jornal de Chicago que punha num poster  manifestante exaltado, com o comentário de que tal  era de esperar...
        A medida que o certame se aproxima, e muita vez com o respaldo do não atendimento dos compromissos assumidos em Copenhague pela Delegação brasileira, se amiudam de parte de atletas e de abaixo-assinados por médicos, as tentativas para a transferência da sede ou o adiamento dos jogos.
        As três maiores ameaças estão na situação social do Rio de Janeiro, com o avanço da criminalidade; o cínico descumprimento das promessas assumidas; e a temida epidemia do zika virus.
        Esta última motivou Carta à Organização Mundial da Saúde, endossada por 150 especialistas de todo o mundo (médicos e cientistas de Harvard, Yale, nos EUA e Oxford, no Reino Unido. - há uma brasileira signatária, Débora Diniz, especialista em bioética e professora na UNB).
         Os subscritores pedem que a OMS reveja com urgência recomendações sobre o Zika, que causa microcefalia em fetos de mulheres grávidas. Também já se determinou que o vírus  pode ser transmitido  por relação sexual.
         A par de citar o "fracasso" no programa da erradicação do mosquito vetor da moléstia e a fragilização do sistema de saúde no Rio, a carta menciona, outrossim, o risco desnecessário colocado quando 500 mil turistas estrangeiros  acompanharem os jogos, "potencialmente adquirem o vírus e voltam para casa, podendo torná-lo endêmico."
         O que não tem faltado no que concerne à Olimpíada, são cartas de atletas e abaixo-assinados, que encarecem transferência ou adiamento por motivos de poluição e de ameaça à saúde de atletas, notadamente nos desportos aquáticos.
          A nadadora americana Lynne Cox, em correspondência para o jornal The New York Times - ela  pretendia participar das prova aquática em Copacabana - alerta a sociedade para o perigo da poluição (vinda dos esgotos) na praia famosa. Reportei-me ao seu apelo, no  blog "As Águas Poluídas da Guanabara", datado  de 5 de maio corrente.  É importante assinalar que essa ameaça à saúde poderia ter sido evitada, eis que os representantes brasileiros se comprometeram em Copenhague a despoluir a baía da Guanabara, através da instalação dos necessários equipamentos.  É lamentável que nada tenha sido feito. Nem mesmo na Lagoa Rodrigo de Freitas - que se pretende despoluir das descargas ilegais de esgoto sanitário - alguma providência foi tomada,   ainda que por sua extensão seria obra de fácil realização e grande benefício social.
            Há decerto outra ameaça que é a da segurança (já houve  assaltos a atletas que vieram antecipadamente para os jogos).
             A resposta das autoridades responsáveis costuma ser a do silêncio, contando sem dúvida com a cercania dos jogos. A parte material recebe o noticiário previsível, e, sem trocadilho, as mesmas pessoas calam olimpicamente sobre as diversas advertências e abaixo-assinados.
             Ao invés de responder, ou - o que seria preferível - articular reação convincente, com as providências que cabem à vista da iminência dos Jogos,  vemos nos jornais, não um diálogo, mas incessante coro de protestos e inquietantes ameaças quanto à ameaça de não-realização das Olimpíadas no Rio de Janeiro.




( Fontes: Folha de S. Paulo,  O  Globo, The New York Times ).

sexta-feira, 27 de maio de 2016

Blog 3333

                                                

               Peço  licença aos meus dezoito leitores para tomar certa liberdade que tem a ver mais com o continente do que com o conteúdo, embora se trate de coisas que dependem entre si.
               Faz algum tempo que comecei o blog, e a primeira crônica data de 14 de junho de 2008. Dessa maneira, ele estará igualmente completando oito anos no próximo mês.
               Quando escrevi a crônica Os Cachorros de Atenas tomei por assunto o grande número de vira-latas que vagam pelas ruas daquela cidade, alguns carentes, como aquele de que mencionei a tentativa de estabelecer laço menos passageiro do que a eventual relação amistosa entre  caminhante humano e a canina criatura.
                Lá, os cães de rua são de porte médio, em geral bem alimentados, e não costumam ser agressivos, embora por vezes, quando em matilha e próximo da Acrópole, possam ser perigosos.
                Quando estive em posto nessa cidade, disseram-me que a prefeitura tomara nas Olimpíadas de 2004 a precaução de vacinar a todos esses animais rueiros, para evitar problemas com turistas…

                Em termos de problema que afetaram o Brasil, só me recordo da estranhíssima interrupção - que decerto custou ao nosso compatriota Vanderlei Cordeiro de Lima a medalha de ouro - por um ainda mais estranho padre de indeterminada religião, que se pôs à frente do brasileiro, logrando estorvá-lo por mais de precioso minuto  e lhe quebrando - o que talvez foi determinante - a concentração.  Por isso, ele iria ganhar, ao invés do ouro, o cobre do terceiro lugar. Nunca se esclareceu, que eu saiba, tal ocorrência, mas que terá havido maracutaia da grossa restam poucas dúvidas... 

Pílulas Amargas

                                   
Estupro coletivo


       Será que espanta mesmo, em uma cultura como a do presente, que uma jovem de dezesseis anos seja vítima (pois é esta a única palavra aplicável) de trinta e três machos boçais, em uma favela na Praça Seca, nesta cidade do Rio de Janeiro, outrora Cidade Maravilhosa, e antes ainda mui leal e heróica, patrocinada por santo flechado na cruz?
        Rivalizando em falta de sensibilidade e de um mínimo senso de respeito, um deles se permitiu  divulgar na internet  nessa, por vezes, fossa dos costumes e da desregras da atualidade, debochar da vítima, jogada na cama e sangrando.   '
Quando acordei, tinha 33 caras em cima de mim', disse a adolescente no hospital, onde tomou remédios contra HIV e a pílula do dia seguinte.
        A respeito, o jornal sentencia que para especialistas, o crime é resultado da impunidade e de uma cultura machista.
         Isto é transformar cada crime individual em esfregão bem enxovalhado pela fraqueza da legislação, e a hipocrisia da sociedade. Diluem-se os crimes - e aí temos um que é indescritível, pela baixa, ignóbil covardia de todos os responsáveis. Cada indivíduo que se cevou da jovem indefesa não pode ocultar-se em genéricos chavões como 'impunidade' e 'cultura machista', nem atribuir ao objeto de suas ignóbeis pulsões - que melhor estariam em matilha de bestas ferozes - a culpa, que soi caber nesses relatos a quem se tornou o espelho da baixeza e do mau-caratismo que, covardemente, se dissimula no coletivo.


Cargos de confiança consomem 35% da Folha.



          Denunciado pelo jornal, tal deveria ser saudado por um Administrador correto e consciente de suas obrigações com o Erário, em um incentivo para desbastar essa mesma Folha do excesso desses cargos, que como parasitas em árvore, retiram muito da seiva que melhor serviria, se objeto de mais atenção e menos desperdício.
              É uma vergonha ,como dizia aquele locutor, faz tempo, que haja 346 mil ocupantes de cargos de confiança e comissionados.
               Sufocado por essa terceirização - que é muito mais danosa do que aquela consumida pelos anônimos e muita vez explorados terceirizados - o bom senso deveria entrar nessa floresta do privilégio e dos chamados aspones, que são os sucessores daqueles que, nas velhas repartições, penduravam no encosto das cadeiras os sovados casacos, e se mandavam para outros empregos, certos da conivência das chefias.



( Fonte:  O Globo )

quinta-feira, 26 de maio de 2016

Lembranças do meu tio Adolpho

                              

        Antes que comece a desfiá-las, me parece oportuno esclarecer alguns pontos.
        Se sou do tempo em que se chamava tio os irmãos de pai e mãe, também a apelação se estendia aos chamados tios políticos, a saber, os maridos das minhas tias.
        O que seria a minha primeira vinda ao Rio, foi truncada por tragédia familiar. Por isso, só o conheceria depois, na minha condição de órfão, que acompanhava a mãe viúva.
        Nesses primeiros contatos, me impressionou o seu modo livre de falar, que não enjeitava os palavrões, na época um tabu na linguagem nas famílias de classe média.
        De pronto se diga que Adolpho e Lucy já frequentavam a sociedade, mas ele e o seu linguajar - que hoje não despertaria mossa - chamou a atenção da criança pela sua naturalidade. A princípio, decerto, ainda o tentariam policiar com brandas advertências: "Bloch, olha o menino!", mas não tardaria que, com um piscar de olhos, ele me envolvesse em marota cumplicidade.
        Na verdade, tais palavras não eram expletivas na fala de tio Adolpho. Muito antes que eles se tornassem quase inócuos, ele já os empregava no próprio falar, a ponto de que se os extirpássemos de seu discurso, ele nos pareceria chocho ou até de pé quebrado.
         O outro tio político, Américo Laporta, casado com minha tia Marina, ele de certo modo o protegia, e o tratava bem, no que diferia do restante da família, que o olhava um pouco de cima, prevendo decerto a próxima separação. Este seria outro tipo que poderia virar personagem de Nelson Rodrigues, pois o seu truque preferido, no setor sentimental, era fazer-se de pintor para envolver os respectivos 'modelos' que respondessem ao maroto anúncio, e viessem ao próprio 'ateliê".
          Ainda pequeno, eu os contemplava de baixo para cima, com o ar intrigado de uma criança. Mas me lembro bem que os dois não hesitaram, em meio ao nervosismo familiar, quando, por travessura infantil, caí em cima de mesinha com tampo de vidro, e sofri as consequências de tal acidente.
          Levaram-me ao Pronto-Socorro que não distava muito da avenida Antonio Carlos, onde estava hospedado. Eram outros tempos, e o atendimento foi pronto - alguns pontos na barriga da perna e sei lá se alguma injeção preventiva. Não demorou muito voltava, escabreado, aonde me esperava minha mãe, com o terno olhar para o único filho, de que o sermão seria apenas outro expletivo, que desapareceria na memória.
           Na época, Adolpho não era muito conhecido, embora estivesse entre os viúvos da Praça Onze. Mas por sua interveniência, fui cuidado prontamente. Não havia filas, naquele tempo... Mais tarde, Adolpho Bloch deixaria de ser gráfico, para virar dono de revista - a Manchete, que lançaria no início dos anos cinquenta - mas nunca o abandonaria a fala livre, e os expletivos com que pontuava a expressão.

           Mas isso é outra estória, que escavarei mais tarde...

quarta-feira, 25 de maio de 2016

Os e-mails de Hillary

                                             


         Mais examine esse assunto, mais leia os artigos em The New York Times, e mais me convenço que estamos diante de red herring, um desvio deliberado, que acrescenta pouco às questões afrontadas pela candidata democrata, e que mais serve para ataques burocráticos, e ulteriores pretextos para incomodar a primeira mulher que está muito próxima de tornar-se the first Madam President of the United States.
          Dir-se-ía que o atraso experimentado pelo gênero feminino em concorrer para entrar na Casa Branca, não como parte de uma comitiva, para não dizer como cônjuge de um presidente, ainda tenha que ser purgado em superar obstáculos irrelevantes como o presente.
          Os leitores se surpreenderão se me encontrarem a concordar com challenger de Hillary Clinton - quem seria senão o temível Bernie Sanders? - mas creio pertinente recordar a observação do Senador por Vermont, que disse, em um dos tranqüilos, quase soporíferos debates do ano passado, que ele não aguentava mais menções ao servidor privado de e-mails da pré-candidata Hillary - e, por primeira vez, me vejo forçado a concordar com a pertinência da observação do pré-candidato democrata.
           E a despeito de tal constatação, volta-e-meia a questão reponta de novo, o que, a meu modesto parecer, tende a indicar duas coisas: a falta de assunto de seus críticos, que não se conformam com a não-obediência por Hillary da injunção burocrática, mesmo se tivermos presente que outros secretários de estado também recorreram a esse meio de comunicação...


( Fonte: The New York Times )

Kiev e Moscou trocam prisioneiros

                            


           Desde algum tempo fora do noticiário internacional, a guerra de Putin contra a Ucrânia reponta no New York Times, com a troca, nesta quarta-feira, 25 de maio, da piloto ucraniana Nadiya Savchenko por dois prisioneiros russos.
         Piloto de helicóptero, a Tenente Nadiya Savchenko, que já era celebridade ucraniana antes da guerra, como primeira mulher piloto de combate, havia sido aprisionada por rebeldes na área oriental conflagrada. Corte russa a sentenciara a 22 anos de prisão por assassínio (o pretexto foi que servia como sinalizadora de artilharia, e que direcionou o fogo para check-point rebelde, matando jornalista russo).
         Contra o que chamou de farsa, a Savchenko protestara com veemência contra tais acusações, indo até a greve de fome. E durante o cativeiro na Rússia, Nadiya Savchenko foi eleita 'in absentia' para o Parlamento ucraniano.
          A dita troca de prisioneiros tem relevância porque desmonta a lenda do Kremlin que sempre negou mandar soldados através da fronteira ucraniana, neste conflito bienal que tem sido o mais sangrento na Europa desde o dos Bálcãs há dez anos atrás.
           A despeito de o Ministério da Defesa da Federação Russa negar qualquer vinculação com os dois russos presos - Capitão Yevgeny Yerofeyev e o Sargento Aleksandr Aleksandrov - as autoridades ucranianas os colocaram atrás de jaula de vidro durante o julgamento em Kiev, como exemplos vivos dos 'pequenos homens de verde'  (soldados que não portam qualquer insígnia nos seus uniformes - com vestimenta idêntica àquela dos  destacamentos invasores da Criméia em 2014 ).
   
         A Tenente Savchenko, engajada, como voluntária, na infantaria na área de Luhansk na Ucrânia oriental, fora aí capturada pelos rebeldes.  Segundo Moscou, ela teria posteriormente escapado de seus captores, e tentado atravessar a fronteira como refugiada...          

            É difícil acreditar que essa negociação possa servir como prelúdio à paz entre os dois países. Não foi apenas por 'punição' ao povo ucraniano por derrubar o presidente filo-russo Viktor Yanukovytch,   que Vladimir Putin atacara a Ucrânia oriental.  Além da anexação ilegal da Crimeia - que a diplomacia brasileira da então presidente Dilma, em negra página de sua história, aceitou - gospodin Putin tem outros objetivos territoriais na Ucrânia oriental, de que dificilmente se resignará a renunciar.

            Sem embargo, como o ataque não-provocado a esse importante país  - talvez o maior dentre aqueles situados no espaço que Moscou designa ominosamente como "o próximo estrangeiro" -   causou várias sanções à Federação Russa, algumas delas bastante penosas, não se pode descartar que um real procedimento de paz possa ser do agrado do autocrata russo. 

                Não há negar, contudo, que eventual devolução da Crimeia representaria uma concessão assaz difícil, sobretudo se tivermos presente o atual ativismo russo, dentro de ótica, senão restauradora, pelo menos ambiciosa, do Kremlin de aproximar-se de linhas de ação militar, adotadas no passado pela União Soviética.
   
              Mas para solucionar problemas prima facie inabordáveis é que existe a diplomacia, e por isso não se poderia excluir que essa pílula amarga venha a ser adocicada pelo Ocidente, dentro de negociação global.


(Fonte: The New York Times).

Os novos raios de Júpiter

                              

        Os inimigos da Superpotência estão sujeitos a ter a própria sorte decidida através de anônimo operador de subreptício drone.
         Atrás das nuvens, pode esconder-se esse instrumento que substitui os focas da Marinha - a versão moderna dos comandos - com a vantagem de minimizar os riscos para a superpotência atacante.
          Assim, o líder dos Talibãs no Afeganistão - o Mulá Akhtar Muhammad Mansour  - que pensava estar seguro em terra paquistanesa, morre fulminado por relâmpago partido de anônimo drone, vale dizer por teleguiado vindo de um céu sereno na aparência. Foi substituído, segundo noticia o movimento, por Mawlawi Haibutullah Akhundzada, que era um dos seus segundos.




(Fonte: The New York Times) 

Congresso Aprova Meta Fiscal

                             


       Durante votação que se estendeu pela noite de 24 a 25 do corrente, o Congresso acabou aprovando a meta governamental de déficit nas contas de R$ 170,5 bilhões para o corrente ano.
       Por iniciativa do Ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, se lançou pacote de medidas para equilibrar as contas públicas, com a fixação do teto, que inclui  limite para todas as despesas, incluídas saúde e educação.
       O que se procura inserir na ordenação das despesas, é a ordem fiscal, que sob Dilma Rousseff fora substituída pela confusão fiscal.
        À cata de recursos para saldar os débitos, o Governo venderá  R$ 2 bilhões do Fundo Soberano, assim como deseja antecipar o pagamento de R$ 100 bilhões do BNDES ao Tesouro.
        Nesse contexto, a 'mágica'  vem do próprio inventor de Dilma, a saber, Lula da Silva, que a folhas tantas, encantou-se com a suposta mágica de seu Ministro Guido Mantega, no que tange às chamadas capitalizações.
        Lula pensou que as ditas 'capitalizações' poderiam substituir a contento os déficits fiscais (falta de dinheiro de origem tributária), através do BNDES. Como não é possível, em contabilidade séria, substituir o  dinheiro recolhido pelo Erário através dos instrumentos fiscais por numerário que não tenha tal fonte, todos os recursos que não possuam origem tributária terão de ser, mais cedo ou mais tarde, repostos, como ora está ocorrendo ( V. exemplo da prevista devolução pelo BNDES ).
         Em termos de saúde e educação, assim como no que tange aos programas como bolsa-família, eles carecem de ser auditados e vistoriados regularmente, para que se evite a inchação de tais programas pela corrupção ou pelo seu substituto light, o notório jeitinho.
         Como os seus idealizadores (nada a ver com o PT, que gosta de enfeitar-se com a seda alheia) previram, a bolsa-família (que no passado se chamava bolsa-educação) deve ter entrada e saída. Sem as auditorias necessárias, o que ocorrerá é a inchação pela corrupção de programa que carece de ter finalidade social - incentivar a educação dos filhos - e por isso não deve ser modelo Maranhão, que é o campeão nacional dos beneficiários dessa bolsa (cerca de 91%!). Na prática, o atalho para a sua desvirtuação é engrossá-la com pessoal que nada tem a ver, seja pelos rendimentos, seja pela posição social, seja por carências na educação, com aqueles que façam jus a receber tal benefício.
          Bolsa família em democracia séria não é instrumento de poder eleitoral - como se verifica nos países da órbita demagógica, que, em geral, a exemplo de que se observa na Venezuela e alhures, têm pavio curto na esfera sócio-política, e destino certo no descalabro social - e sim meio de reintegrar as classes D e E na sociedade, e não como mendicantes sem prazo de saída.      


( Fonte:  O  Globo )        

terça-feira, 24 de maio de 2016

Primeira Crise de Temer

                    

       Temer enfrenta a sua primeira crise, com a saída de Romero Jucá. O Presidente confiou na capacidade e na liderança de Jucá, porém não teve presente, como devera, a condição do Ministro do Planejamento de investigado na Lava-Jato.
        Surgiu agora o grampo e só os Candide acreditarão no acaso. Por isso, todo o cuidado será pouco, pois o interesse das forças adversárias será  enfraquecer e, se possível, desmoralizar a nova Administração, para não tornar assim tão difícil uma reviravolta no processo do impeachment.
        Por isso, o Presidente interino não vacilou, e não tentou manter o correligionário, em cuja atuação confiara.
        Como assinala o colunista de  Globo, Merval Pereira, é necessário ter presente que a tarefa precípua à frente é a de restabelecer  a confiança da sociedade no governo e na política.
         Houve, decerto, episódios no novel governo Temer que vão na contramão desse sentir, como na tentativa de nomear  o advogado Antonio Mariz para Ministro da Justiça, o que desvelou insensibilidade para a possibilidade de eventual atuação que vá na contramão da grande maioria da sociedade.
          Como pensar neste seu amigo que assinou manifesto contra as delações premiadas, e que tinha críticas  à atuação da P.F. , do Ministério Público e da Lava-Jato?  O próprio Jucá, a sua conhecida eficiência e traquejo administrativo o terão feito esquecer a circunstância de ter problemas com a Lava-Jato?
            No mesmo contexto, provoca certa estranheza a indicação de Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). Nesse sentido, os próprios auxiliares de Temer  sentem que o próximo na lista a ser alvo de exposição é o político potiguar.  No caso de Alves, por uma "dívida de gratidão", ele foi o primeiro ministro de Dilma Rousseff a deixar o cargo para acompanhar a decisão do PMDB  de desembarcar do governo petista.
             Como noticia O Globo, o PGR Rodrigo Janot  pediu a inclusão do nome de Henrique Alves e outros políticos, entre eles o ex-Presidente Lula da Silva, no maior inquérito em curso na Lava-Jato. As evidências contra Alves apareceram em trocas de mensagens com dirigentes executivos da OAS. Há no entanto de parte de deputados do PMDB a posição de que o governo deva "ter paciência com Alves".
                Segundo o deputado Hugo Motta (PMDB-PB) "Os ministros são investigados, mas não estão condenados. No caso do Jucá teve o agravante do áudio, o que não tem com o Henrique".
                 O senhor Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro e homem de confiança de Renan Calheiros, acompanhado de audio flagrou o Ministro do Planejamento em conversa com Machado sobre um pacto contra a Lava-Jato.  Nessa gravação de março, Jucá  disse ao ex-senador  que era preciso"estancar a sangria"  causada pela operação, conforme estampa  O Globo em primeiríssima página.
                  Segundo consta, Machado também grampeou o Presidente do Senado, Renan Calheiros, e o ex-presidente  José Sarney - o que terá deixado a cúpula do PMDB alarmada.

 

( Fonte:  O  Globo  )

segunda-feira, 23 de maio de 2016

Problemas de Hillary

                                        


          Hillary Clinton  pode ver na gangorra um símbolo de sua campanha. Há poucas dúvidas de que o inefável Bernie Sanders represente o papel do principal suspeito nessas oscilações malucas que tem constituído a sina de Hillary nessa estranhíssima campanha primária para a eleição do Presidente dos Estados Unidos ao mandato de 2017-2021.
          Mas esse processo de wear and tear[i] - na prática, o que sofrem as perspectivas de sua pré-candidatura pela contínua oscilação nas votações das primárias - reflete, em verdade, a caprichosa disposição do eleitorado democrata diante de dois personagens diversos.
          Com efeito - e os resultados estão aí para justificar as supostas surpresas - o challenger (e nunca  adversário algum terá sido tão desafiador e surpreendente do que o peculiar velhinho Sanders) -  se Hillary tem mantido a liderança (e provavelmente, por mais surpresas com que tenha ainda de lidar, a sua vantagem persistirá até a Convenção de Filadelfia) essa campanha parece ser dirigida por um sádico diretor, que se compraz em alternar as perspectivas, seja de modo direto (ora criando dúvidas imediatas sobre a sorte da postulação de Hillary), seja de modo indireto (induzindo o adversário implacável a até acenar com o seu retiro, diante de imprevista reação de sua nêmesis).
           Excluída a magna prova da Califórnia - e mesmo assim é altamente dúbio que nesse estado Sanders logre vitória esmagadora - a campanha continuará numa guerra de atrito, em que a parte mais fraca - o independente do Vermont - colherá as vantagens que usualmente recáem sobre os desafiadores: aborrecer, importunar, até irritar, mas nunca abater a adversária. A única exceção a tal regra viria de erro improvável de Hillary - que é a óbvia meta de Bernie - e que não deverá ocorrer, porque a candidata terá o necessário discernimento de não dar um tiro no pé.
             Entre outras palavras, Hillary não pode perder o norte da própria candidatura. Em um exercício quase Zen, a candidata carece de prosseguir, mêmore sempre de que só ela, por desrazão ou extremo cansaço, pode dar tal contribuição às avessas, que é a razão precípua da persistência do seu adversário.
             Hillary não pode esquecer um momento sequer que o seu adversário nas primárias não tem condições materiais de destruir-lhe a candidatura (porque é disso que se trata). Somente de forma indireta, levando a que ela se dê um tiro no pé (v.g.,as célebres gafes de candidatos à presidência - e para simplificar dêem-se apenas as declarações dos Romney[1], para sepultar as respectivas candidaturas presidenciais), Bernie Sanders, o maverick (voluntarioso) do Vermont, que sequer democrata é, pode sonhar lograr o seu escopo.
                Os cometas no céu infinito faziam muita impressão na Antiguidade - havidos que eram como arautos de desgraças e calamidades - e a Humanidade na época, ainda presa às peias da ignorância e da superstição, surgia como o público ideal a um fenômeno que a pobre gente pensava lhe dissesse respeito.
                 Na verdade, a indiferença do fenômeno não poderia ser maior. O maligno cometa não podia ser objetivamente mais indiferente ao que se passasse no planeta Terra.
                 Também Sanders, a seu modo, é um cometa. Apesar de embevecer a muita gente, a distância entre os dois pré-candidatos democratas não pode ser afetada pelas emoções e ilusões que a sua passagem costuma provocar. E ao contrário da eternidade celeste, os tempos na presente campanha eleitoral tem datas firmes e locais bem sólidos e acessíveis.


( Fontes subsidiárias: The New York Times, O Estado de  S. Paulo, O Globo)


[1] O pai, mencionando a circunstância da lavagem cerebral (brainwashing), e o filho, declarando que quarenta e sete por cento dos eleitores democratas dependiam da munificência do Estado.



i. usar e rasgar

Pimentel: Ramificação mineira?

                              


         Ligado a Dilma, Fernando Pimentel teve postos de relevo no governo federal. Já as famosas 'consultorias' tinham aparecido no que lhe concerne em outro contexto, mas nunca lhe afetaram a relação com a Presidenta.
         Agora, a situação do governador mineiro (PT), que era delicada desde que fora denunciado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, se pode complicar ainda mais com os recentes desdobramentos da Operação Acrônimo, da Polícia Federal. 
          Desde o princípio, se sabia que o fulcro da investigação acerca dos  passos do governador Pimentel estava com Bené - Benedito Rodrigues de Oliveira Neto - amigo e suposto operador do governador.
          Por fim, o amigão do Governador mineiro fechou acordo  de delação premiada com a Procuradoria Geral da República, e acusou Pimentel de receber propina de empresas beneficiadas  com financiamentos do BNDES.
          Em um dos depoimentos da delação, Bené afirmou  que só da Caoa, representante da Hyundai  no Brasil, Pimentel teria sido destinatário de mais de R$ 10 milhões, segundo o Globo foi informado.
          Grosso modo, o empresário confirmou o conteúdo da denúncia formulada pela vice-procuradora-geral da República, Ela Wiecko contra Pimentel, Bené  e os dois principais executivos da Caoa, Carlos Alberto de Oliveira Andrade e Antônio dos Santos Maciel Neto, entre outros, no último dia seis, ao Superior Tribunal de Justiça.
          Mais irregularidades foram apontadas por Bené em negócios financiados pelo BNDES na Argentina e em Moçambique, e que teriam Pimentel entre os possíveis beneficiarios.
          Em denúncia apresentada ao STJ a partir de um relatório da PF, Ela Wiecko acusa o governador Pimentel  de receber R$ 2 milhões em propina de Andrade e Maciel.  O dinheiro teria chegado ao governador depois de passar pela Bridge e a Bro, duas empresas de Bené.  A transação teria sido camuflada num contrato fictício  de consultoria firmado entre Bené e os executivos da Caoa.
          Na denúncia, a Procuradora Ela Wiecko sustenta que, no mesmo período do pagamento da suposta propina, a Caoa recebeu cerca de R$ 600 milhões em benefícios fiscais do Programa de Incentivo à Inovação Tecnológica e Adensamento da Cadeia Produtiva  de Veículos Automotores (Inovar), do Ministério do Desenvolvimento. As vantagens tributárias estavam vinculadas a uma planta industrial da Caoa em Anápolis, Goiás. Confrontado com as acusações, Bené confirmou o conteúdo  da denúncia e acrescentou novos detalhes.
         Pelas contas do empresário, os desembolsos da Caoa em troca de benefícios fiscais foram superiores a dez milhões de reais.  A investigação deseja saber aonde foi parar esse dinheiro.  Bené também confirmou a acusação  da vice-Procuradora de que a consultoria que ele teria fornecido à Caoa  era "fajuta".

Perspectivas Jurídicas

            As revelações de Bené devem aumentar a pressão sobre o governador Pimentel.  Caberá ao Ministro Herman Benjamin, relator da Operação Acrônimo no STJ, decidir se acolhe ou não a denúncia.  Sobre esse ponto, há dois pontos de vista divergentes: segundo o Ministério Público Federal, o relator pode acolher a denúncia por conta própria. Já para o advogado defensor, Eugênio Pacelli, Benjamin precisaria da autorização prévia da Assembleia Legislativa de Minas Gerais.
             Além de criticar os métodos utilizados pelo MP para obter a delação de Bené, o advogado Pacelli nega que o governador tenha recebido dinheiro de empresas ou cometido qualquer irregularidade no período em que foi Ministro do Desenvolvimento.
             A par disso, o advogado Pacelli radicaliza quanto aos alegados métodos do Ministério Público para obter delação. Segundo ele, "pessoas presas são capazes de dizer qualquer coisa para recuperarem a liberdade".



( Fonte:  O  Globo )   

domingo, 22 de maio de 2016

Colcha de Retalhos D 22

                                       


Doações  partidárias a Trump


       Apesar das notícias veiculadas pela imprensa americana de que o eleitor republicano se está aproximando do candidato Donald Trump, e começa a reconhecê-lo como representante do partido, acolhendo assim a renúncia dos demais pré-candidatos, batidos nas diversas primárias, a mesma atitude não estaria sendo vista de parte dos grandes contribuintes do GOP.
       Com efeito, segundo noticia o New York Times, os principais sustentáculos do partido em termos de financiamento da campanha do candidato para Presidente, desta vez já único, do Partido Republicano, não vem até agora acorrendo com o número e a munificência  das vezes anteriores.
       Por enquanto, os grandes doadores têm pecado pela ausência, em uma postura que refletiria menosprezo pelas posições de Trump, além de iniludível frieza para quem deverá ser chancelado pela Convenção de Cleveland como o porta-bandeira do Grand Old Party em 2016.
        Embora a direção partidária já não mais ouse interpor-se e desmerecer dessa candidatura, a reticência dos grandes doadores refletiria a mesma posição anterior da nomenclatura republicana que, apesar dos sinais de composição, se recusaria a vê-lo como alguém que tenha condições de ser o máximo representante do GOP na próxima eleição presidencial.


O Caos na Venezuela de Maduro


       Nicolás Maduro, que foi indicado por Hugo Chávez para sucedê-lo, não tem mostrado condições de enfrentar a crise decorrente da baixa cotação do barril de petróleo (que é o principal produto de exportação da Venezuela) e a decorrente dramática queda nos rendimentos do país.
       Por conta disso, a situação interna se tem deteriorado bastante, a inflação já se transformou em hiperinflação, o desabastecimento vem atingindo níveis insuportáveis para a população, e as consequências políticas não poderiam ser mais pesadas.
       Maduro perdeu a maioria na Assembléia Legislativa. Com a revolta da população diante não só do desgoverno de Maduro, mas também na queda do abastecimento, o aumento da criminalidade, e a desordem generalizada, surge pergunta que não pode ser calada - por que Maduro ainda não caíu?
        A resposta de Maduro explica esse enigma. Sem maioria na Assembléia, Nicolas Maduro contornou a situação, de inicio fazendo com que a MUD, vale dizer a oposição, não dispusesse do número imprescindível para modificar a Carta Magna. E não foi por acaso. A Corte Suprema, com superlotação chavista, considerou que o exato número de deputados suficiente para tirar a maioria constitucional para proceder às emendas foi encontrado. Eureka! Nesse sentido, a oposição continua com a maioria, mas não tem mais o número necessário para emendar a Constituição, e assim Maduro se vê livre de reformas constitucionais que contribuíssem para resolver a situação, mas que também fariam com que o poder presidencial diminuísse.
         Por outro lado, a resposta de Maduro - sempre apoiado na Corte Suprema, que é hoje um Frankenstein chavista - para lidar com o novo problema da revocatória (o recall do presidente incompetente, que é facultado pela Constituição chavista, e a que se submeteu o Presidente Chávez).
         Para neutralizar tal ameaça - quem tem alguma dúvida de que numa atmosfera como a presente, de desgoverno e desabastecimento grave na Venezuela, Maduro não teria chance alguma de resistir a essa revocatória? - o quase-ditador recorreu a duas ações. Através de desordens organizadas - a antinomia não é por acaso - Maduro busca inviabilizar tal recurso, eis que, se implementado, ele não teria chance alguma de superá-lo. Por outro lado, junto da OEA, procura  saída jurídica para a sua crise, afirmando  que a própria situação ora vigente na Venezuela - e de que, ironicamente, ele é o principal responsável - serve já como biombo jurídico para que organismo interamericano aceite um regime forte para combater a crise.
           A Venezuela, por outro lado, perdeu diplomaticamente dois apoios de peso: a Argentina de Cristina Kirchner desapareceu e Macri apoiará a oposição e nunca o candidato a gorila Nicolas Maduro. Outro tropeço grave para Maduro foi a substituição de  Dilma por Temer.
            A saída mais óbvia será pela revocatória. Ela, no entanto, precisa ocorrer até o final do corrente ano, porque já em 2017 Maduro seria substituído por um vice-presidente, o que na prática seria trocar seis por meia dúzia.     
                 Para o lider moderado Henrique Capriles, governador de Estado, quanto mais o governo se opuser ao referendo, maior a chance de que exploda uma revolta popular. Para ele "a Venezuela é uma bomba que pode explodir a qualquer momento." 
                 Por ser moderado demais, dificilmente Capriles será visto à testa de um movimento como este. Por sua vez, Leopoldo López, condenado a treze anos de cadeia por uma juíza que segue a cartilha do chavismo, dificilmente terá condições de fazê-lo, a menos que seja liberto pela rebelião.
                  No caldeirão venezuelano - e qualquer semelhança com outros caldeirões será mera coincidência - estão presentes todas as condições para a revolta popular: insatisfação extrema diante da situação, tanto de abastecimento, quanto de segurança, extremamente precária; corrupção desenfreada dos neochavistas; repetidas afrontas contra o poder popular, com os cortes na Assembleia Nacional, dominada pela oposição, e o seu controle ilegal por Corte Suprema, cujo papel foi desvirtuado; inflação galopante e desabastecimento geral, com grandes sacrifícios para a população; provada incompetência do Presidente chavista, o caminhoneiro Nicolás Maduro, e, last but not least, fechamento na prática da única saída legal para o desgoverno reinante - a revocatória - o que é feito através de um sistema de exceção, que está apenas interessado em manter a corrupta  e incompetente ditadura atualmente vigente para desgraça do Povo Venezuelano, na pessoa de Nicolás Maduro.



(Fontes:  New York Times; artigo na Folha de S. Paulo - Confluência de crises; O Globo)