No
cambaleante governo petista de Dilma Rousseff, não foi exatamente em céu sereno
que caiu o raio da Agência Fitch,
rebaixando a nota do Brasil, e avisando da possibilidade de perda do grau de
investimento, e o consequente retorno àquele especulativo, em que Pindorama
estaria ao lado da Argentina. Talvez até, quem sabe?, possamos entrar como litisconsortes[1]
com a turma portenha, nas suas intermináveis lutas contra os chamados fundos
abutres...
O único aval
válido de que dispõe esse conglomerado que
atende pelo nome de ministério de Dilma, em termos de finanças e, em especial,
de que o Brasil continue a ser considerado um caso não de todo perdido, está
nesse nome que despontou nos alvores do Dilma II, em transe no qual ainda havia lugar para a esperança no que
concerne a fazenda pública.
Não creio
que Lula
& Cia, e mesmo a própria candidata de algibeira (antes das mutações
por que passou) se dêem conta da rematada burrice que cometeriam, se abatessem
o ministro Joaquim Levy.
Todos nós
sabemos que a leitura provoca azia em Lula da Silva. Teremos, portanto, de
descontar esse aporte, na inglória tarefa de uns pobres diabos, de tentar
persuadir o maior estadista do Ocidente da rematada loucura que estaria
cometendo.
Joaquim Levy,
como todo técnico jovem e com boa formação universitária, chegou otimista à
composição de que Dilma deveria ser a locomotiva. Terá imaginado que, com boa
fé e melhores intenções, trabalharia para recompor a esbodegada esquadra
brasileira.
Ledo engano!
E esse tipo de erro, fruto da boa fé e de melhores propósitos, custa a
enraizar-se na mente de quem pensa estar rodeado de gente que deseja o melhor
para o Brasil.
De minha parte, quero crer que a
primeira trinca nessa convicção bem-intencionada (e portanto ingênua, se alguém
tem presente onde a vítima se encontra) repontou com a pública humilhação do
Ministro do Planejamento, Nelson Barbosa,
por ter-se mostrado inclinado a não apoiar cálculo dos aumentos do salário
mínimo, que repisava a velha demagogia. Para inchar este cálculo, o governo
petista preparara menu que aumenta o
dito salário muito acima da inflação. Em tempos como este, incluir outros
multiplicadores na fórmula do incremento do salário mínimo equivale a garantir o
vôo do dragão, eis que o incremento será sempre maior, de o que seria devido,
em um país que tenha dois escopos: preservar o salário mínimo de perda com a
inflação, mas não transformá-lo, através de outros aumentos, em vetor
inflacionário.
Justamente
era este o caso, e a delicada e melíflua Dilma Rousseff não perdeu a ocasião de
ministrar carão público ao ministro do Planejamento. Este, como bom apparatchick petista, engoliu assustado
a lição, e nunca mais olhou primeiro para Joaquim Levy (o vexame do orçamento
deficitário é disto exemplo).
Depois de
muitos anos ao relento, o conhecido agitador e demagogo que atende pelo nome Lula da Silva repontou do nada, e veio
falando grosso, com discursos decerto sem sentido se nos ativermos à coerência
econômico-financeira .
Por que,
meus amigos, ouso dizer que o velho sindicalista, por muitos anos candidato derrotado em eleições presidenciais,
repontou como a estrela da manhã, no comecinho deste milênio, transformado em Lulinha Paz e Amor ? Não porque
estivesse disso convencido, mas sim pelo fato de que o homem da propaganda tenha mostrado que essa era a bola da vez.
Passara o tempo de ter de tomar em lúridos comícios, como se fora refrigerante,
a poção batizada que lhe daria forças. O Brasil agora o esperava e de braços
abertos!
Se o
seu governo foi marcado por escândalos, muitos deles melhor não mencionar, não
se deve esquecer que a semente do oportunismo sem princípios já estava lá na
ideia, por alguns reputada brilhante, do Mensalão.
Depois viriam outros, de que o sábio de plantão saberia escolher a designação,
para lograr defletir o golpe.
Sabe o
leitor atento desta modesta coluna que Lula não costuma desistir de seus
propósitos e eventuais negaças. No que puder, terá em alguns uma grande
qualidade (a perseverança) e noutros, uma obstinada teimosia (combinada
com a astúcia), embora , em fim de
contas, tais espertezas costumem ter as pernas curtas.
Vejam ilustres passageiros do bonde
Brasil, aonde fomos parar por causa desse espertíssimo condutor de homens (e
mulheres). Volto à vaca fria, na mãe de todos os erros, que foi o de propor
para eleitorado despreparado o poste denominado Dilma Rousseff. Ele pensava com
isso realizar jogada magistral. Vejam, meus caros passageiros involuntários do
bonde Brasil, o que deu de tanta esperteza burra, de tanta imitação (talvez
ignara) de Getúlio Vargas !
Ele
conseguiu eleger e, contra a vontade, como espectador forçado, a reeleger a
bomba de retardamento Dilma Rousseff. No primeiro quadriênio a sua meta foi
desenvolver o Brasil pela meta do consumo e das grandes desonerações fiscais!
Tinha até uma turminha, com Delfim à frente, que lhe dizia vá fundo,
presidenta!, que inflação não é problema...
A
bomba-relógio do mau governo já estava acionada, e os seus resultados seriam
previsíveis, não fora a intimidação, os jogos de cenas, a barração do direito
de resposta, e por aí afora. O que não
funcionou foi escamotear o sucessivo aumento da inflação, e o cordão dos
escândalos, que como aquele em tempos idos dos puxa-sacos, não parou de
crescer.
Então,
Dilma Rousseff veste roupa de penitente e manda chamar um jovem experto em
finanças públicas, e até diploma estadunidense. Ela é dos gestos, mas o seu
roçado não é o da competência, firmeza e habilidade política.
E deu no
que deu! A sua popularidade - que beira
os dez por cento - é patética, e um perpétuo convite às traições políticas e às
derrotas legislativas.
Então
ressurge o velho demagogo, com a sua voz roufenha, pregando não contra a
discipula, que, coitadinha não tem culpa, mas sim contra os emissários de Wall Street e adjacências, contra esse Joaquim
Levy, nele batendo com a força que não utilizou contra o hábil Antonio Palocci, que um caseiro pôs a
perder.
Substituído
Palocci, que tivera energia e competência,
o sucessor foi Guido Mantega.
O que veio
depois todos conhecem.
Na sua
coluna hodierna, Miriam Leitão alude aos ataques de Lula, investindo contra
Joaquim Levy. Se a velha estória dos insubstituíveis continua a ecoar nos
salões de Brasília, como irônico refrão, é triste que tarde na sua caminhada
Lula da Silva invista contra alguém que foi convocado e que tenta, em meio aos
energúmenos, demagogos e maus caráter (além dos com boas intenções) salvar
contra o querer de seus comandantes a nave-brasil, que faz muita água.
Lula como
todo tribuno tem a memória curta e a palavra fácil, demasiado fácil. Para quê?
Se examinarmos pensando no Brasil, para nada, pois o destino de tal governo não
carece de pobres cassandras para ser escrito.
Se for nessa
batida, não sei como serão os meios, mas o fim está aí, na volta do caminho.
( Fontes: O Globo, Coluna de Miriam Leitão, Drummond de
Andrade )
[1] O litisconsórcio é a
aliança em juizo de partes que têm a ver em causas jurídicas nas quais existem
interesses comuns para tais partes
(podem ser ou co-autores ou co-réus, dependendo da ação).
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