segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Risco à Democracia?


                                      

         Comoventes os escrúpulos de dona Dilma, na sua entrevista para a CNN! Não  é que agora, ela lembra dos riscos para a democracia ao discutir-se o impeachment ?   

          Preocupações estas que sequer lhe passaram pela cabeça quando mergulhou em propaganda fora da realidade, apresentando economia e país como se tudo estivesse no melhor dos mundos, e com a desfaçatez e a petulância dos embusteiros iludindo com a enganosa publicidade de João Santana e  pétreo cinismo zombando de quem ousasse negar vivermos então no melhor dos mundos.

          É possível enganar o povo brasileiro, ainda mais envergando a máscara da segurança, que a detenção do poder parece validar. O erro de dona Dilma está em pensar que os eleitores esqueceriam as promessas e a falsa segurança de quem se tinha a acima da verdade. Suas mentiras, a arrogância na falsidade, e sobretudo o próprio cinismo chocariam quem julgara toda aquela petulante segurança como se arrimada na verdade. Mas a mentira tem pernas curtas e a reação que provoca é de raiva e indignação, raiva pelo engano sofrido, indignação porque, pela própria desfaçatez, ei-la de volta no poleiro do mando, como se risse às bandeiras despregadas pelas estórias da carochinha que fez passar por verdade.

           É interessante esse vale-tudo do poder que acredita ter condições de mentir e atochar cinicamente para o eleitorado esses pavilhões do Conde Poniatowski[1], e, mais tarde, com a reação do Povo soberano, vestir-se com preocupações com a 'adolescente' democracia brasileira, e arrotar, subitamente impregnada de cuidados cívicos, conselhos de suposta prudência na discussão do 'impeachment' pelos alegados riscos que traz consigo!

           O PT, em treze anos de poder, não se pejou de passar do Mensalão para o Petrolão.  Aquele partido aguerrido, jacobino, que chegara a expulsar de suas fileiras deputados que decidiam sufragar pelo voto indireto quem era o portador das esperanças do Brasil democrático, mostra agora que tudo não passara de farsa e embuste, para torcer o nariz para Tancredo Neves, chegando até a não assinar a Constituição, por desagradar-lhe este ou aquele artigo! A farsa em Pindorama é factível[2], pois enquanto persistirmos nesse jeitinho de remendar e de perdoar, todos esses arreganhos de falsos democratas dos tartufos da república serão possíveis.

            Viramos a terra das pesadas penas no papel, que, mal entradas nas prisões, se deformam em reduções mil, como se tudo fosse de mentirinha. Temos de tirar o medievo de nossos cárceres, mas infundir em nosso direito penal não a ficção das chamadas progressões de pena, mas a realidade de o que sociedade exige pelo crime praticado. Tomemos cuidado com a ficção, porque logo surgem os que dela vivem, pensando poder praticar o crime, e depois gritar viva a democracia!

             Esta senhora que hoje se diz tão preocupada com a adolescente democracia brasileira, onde estava quando geriu o Conselho de Administração da Petrobrás, que fora invadida pela corrupção descarada, e por isso dessangrada sem piedade. Onde  estivava ela, que diz nada ter ouvido, nem visto ? Será que o PT julga possível safar-se da tempestade que semeou e provocou, quando ainda hoje, através de discípulos de Orestes Quércia sequer tem pejo de assinar relatórios em que não se indicia ninguém e, sobretudo, não se aponta nenhum culpado na farra das propinas?

              Agora esta senhora - imitando o seu preceptor (não se esqueçam que todos têm o guia e exemplo que fazem por merecer) - chora lágrimas de crocodilo, temente aos males da sempre jovem democracia brasileira.  Embarcou sem pestanejar na jangada de seu preceptor e comandante - Lula da Silva - que ora se diz preocupado com a democracia brasileira, e com a injustiças que pairam sobre o seu partido. Enquanto isso, diminuem os seus prefeitos, vão para a cadeia os favorecidos do Mensalão e esperamos do Petrolão.

              Gritam os céus que ela perdeu a confiança do Povo brasileiro - por haver ousado enganá-lo - e não serão vãs alianças  com gente de quem se esvai o poder, nem ameaças e temores com alegados perigos à democracia - riscos esses que não lhe modificaram em nada a propaganda mentirosa e arrogante que,em grande parte, a elegeu - que lhe serão de alguma valia nessa hora extrema,  em que o velho Povão manifesta renovada confiança na provada democracia, que tem a guiá-la o exemplo e a palavra de Hélio Bicudo  um varão de Plutarco. Provada já, a democracia brasileira dispensa esses falsos conselhos de quem tem muito a perder pela barca que escolheu e as mentiras que pregou.

 

(  Fonte: O Globo )  




[1] No seu passeio pelo interior do Império russo, mostrando à Soberana Catarina a Grande os pavilhões de 'felizes camponeses' preparados adrede para convencer a Tzarina das benesses gozadas por seus súditos.
[2] O pernicioso 'jeitinho' permitiu a quem não assinara, rever depois a própria decisão, passando como se houvesse subscrito o documento desde a primeira hora. Devemos ter a coragem de nossos atos, e não permitir que partidos políticos se valham de fáceis perdões, como se a tivessem apoiado desde a primeira hora.

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