Um governo
em maus lençóis não está, em geral, em condições de influenciar o rumo dos
acontecimentos e menos ainda abrir caminho para a própria salvação.
A classe
política, seja por superstição, seja para não desperdiçar esforços à toa,
reluta em ajudar uma nave que esteja fazendo muita água.
Tampouco
há gratidão que se possa sacar em hora de perigo - como se fora caixa de banco
- de um barco que esteja muito sobrecarregado por sua culpa ou, o que dá no
mesmo, por pesada incompetência dos tripulantes.
Em que deu
toda a azáfama do gabinete Dilma em reverter situação que, em fim de contas,
ela própria criara?
Os seus
apelos não são ouvidos, nem as próprias jogadas políticas surtem efeito. Vejam,
senhores ilustres passageiros, o último episódio com relação à reforma
ministerial. Se nada há de seguro ou firme no subdesenvolvimento, como ouvi
calar há tempos um dorido reclamo de companheiro sul-americano, que
reivindicava maiores atenções fundadas e não na solidariedade dos países em
desenvolvimento, mas sim em direito lavrado quase em mármore ático, o que se há
de imaginar de transatlântico que água esteja fazendo e já não no primeiro porão?
Os
desesperados intentos em reverter situações como a de ontem, semelham
destinados ao fim que terão ao cabo provocado.
E se
repassarmos friamente os apelos e as manobras da vigésima-quinta hora, não há
de carecer muito para que, uma vez arrancado com a brutal realidade dos fatos o
encabulado véu que, ao parecer, só pairava diante dos olhos da autoridade
ameaçada, e de seus frenéticos e encurralados ajudantes de campo, tudo de
repente na hora ou até mesmo no dia
seguinte possa surgir como insuportavelmente escancarado, desses falsos enigmas
com que se animam os tolos nos circos e nas feiras.
E no final
de tudo, o resultado será nulo ou, o que é ainda pior, represente tão só a
antecâmara de outra sucessão, que, não contente de nada de bom acenar, apenas
se compraza em deixar entrever - em cruéis garatujas - o que, por sólida
incompetência ou provada ignorância, se tenha lançado de forma irresponsável a
provocar?
E o ruim da
véspera caminha para a sua piora. A autoridade desatinada não cessa de transmitir
ulteriores sinais de que está construindo o que os pósteros sóem chamar de
história, no caso o triste repositório de imenso investimento em erros a perder
de vista, muitos deles de autoria de quem terá decerto pensado estar a
conceder-lhe ricas oportunidade jamais antes vistas em Pindorama ou alhures.
E que não
se esqueça o gárrulo criador que a sua hora, se pode ainda tardar, chegará por
igual, com a paga que lhe é devida e as atenções que o porvir há de determinar,
na caprichosa e, por vezes até perversa realidade, que os deuses costumam
reservar para os que abusam de sua magnanimidade.
( Fontes: O Globo,
Folha de S. Paulo )
Nenhum comentário:
Postar um comentário