O editorial de hoje do New York Times, além de fornecer
novos e importantes dados sobre o conflito acirrado por Vladimir Putin, faz
pensar acerca dos propósitos e das pretensões de isolado clube de Liga Média,
em um teatro de guerra onde se acham jogadores associados a equipe da Liga
Superior, antes empenhados em partidas de pouco risco e sem maior oposição.
Não há negar
que gospodin Vladimir Vladimirovich Putin
não está satisfeito com a sua atual posição na política internacional. Não é
exatamente um nostálgico da Superpotência URSS, defunta desde 1992, mas não é
decerto por acaso que venha atuando dentro dos parâmetros do clube do eu sozinho. Quer desmentir tão pronto
quanto possível o apodo de Barack Obama de que a Federação Russa é um poder regional.
Tampouco não
há negar que o atual Senhor do Kremlin
é detentor de maquinária de guerra capaz de mandar o nosso mundo (incluindo a
própria Rússia) para o beleléu, como antigamente se dizia. Para tanto, tem
suficientes mísseis e ogivas nucleares, além de outros artefatos igualmente
temíveis. Dispõe, outrossim, de bom número de aviões militares. O seu exército,
se não tem, por óbvias limitações, as dimensões do soviético, está em
suficiente número para infernizar a vida dos infelizes condenados a viver na
sua cercania, no que o povo russo denomina um tanto ominosamente o Estrangeiro Próximo.
Putin não só relembra
Adolf Hitler pelo vezo de atacar de
surpresa (sempre, é claro, países militarmente despreparados, como v.g., a Ucrânia); mas também e talvez
mais a Benito Mussolini, com quem
Putin mostra notórias semelhanças no que tange à exibição do torso nu (o Duce na chamada batalha pelo trigo), assim como atitudes e práticas atléticas,
máxime em esportes mais arriscados sob o aspecto físico, de que pensa servir-se
para projetar imagem mais máscula (por vezes tais cometimentos lhe saem mal,
como quando teve de ser recolhido a hospital).
Essa preocupação corporal é compreensível, eis que Putin é pessoa de baixa
estatura.
Sem embargo,
a economia russa não é de molde a conferir ao Senhor do Kremlin o potencial da antiga URSS, que dispunha de base territorial muito mais ampla, além dos
países satélites da Europa oriental e de suas disponibilidades tecnológicas.
Entretanto,
as limitações desse suposto aliado na
campanha para reduzir a força do Exército Islâmico não tardaram em aparecer
desde o primeiro dia de operações. As missões de seus velhos bombardeios (outro
sinal dos limites do poder militar russo), ao invés de atacar o E.I., se tem
destinado aos combatentes da Liga Rebelde (que recebem módica ajuda americana).
Como o New York Times assinala - Obama não tem
uma verdadeira estratégia para a Síria (e isto desde que rejeitou, ao final de
seu primeiro mandato, o plano de seus chefes de Secretarias ligadas à defesa).
Se igualmente Putin não o tem, tal não o demoveu de querer impedir a força
aliada de utilizar o espaço aéreo sírio, cingindo-se àquele do ISIS. A recusa
do Ocidente não impede que sobrevenham problemas, diante da clara falta de
coordenação entre um agente disposto a pescar em águas turvas, e da outra parte
a estratégia de atacar sempre o E.I.
Não é só o
traço eu sozinho da atuação russa, mas também o seu escopo de
reforçar o principal fautor da desgraça síria, no caso Bashar al-Assad, que
torna potencialmente explosiva a interação da força aérea americana e dos
bombardeiros de Putin.
E não é
coisa de somenos importância. Uma ação supostamente conjunta em que uma das partes
persegue um alvo diverso e inconfesso, constitui mistura assaz perigosa, eis que pode produzir choques imprevistos e acidentes imprevisíveis. A falta de real
coordenação e da indispensável transparência entre aliados pode levar a alvos não-programados e a becos sem saída em
termos de eventual confrontação militar.
O fenômeno do
canhão solto (loose cannon)
representava nos velhos barcos de guerra algo aterrorizante. O aventureirismo
de Putin contém essa possibilidade.
( Fonte: editorial do New York Times )
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