O debate dos pré-candidatos
democratas na noite de terça-feira, 13 de outubro, em Las Vegas, traria
agradável surpresa para Hillary Clinton.
Voltava à
ribalta a conhecida e confiante Hillary, que demonstrava na aparência e na
disposição, a consciência de estar afinal deixando para trás, após a longa
noite de silêncios e meias respostas, a questão de sua utilização da conta
privada de e-mails quando no
Departamento de Estado.
Fora
inesperado favor para os democratas que Kevin McCarthy, o líder da maioria
republicana na Câmara de Representantes, reconhecesse, em entrevista
televisiva, que o espichamento da investigação sobre Benghazi se destinara
precipuamente a ensombrecer as perspectivas da candidata Hillary. Como se sabe, em Benghazi, na Líbia, fora
bárbara e covardemente assassinado um grande arabista, o embaixador
estadunidense Christopher Stevens e outros funcionários americanos.
Que a tragédia
de Benghazi seja utilizada como cínica oportunidade de ataque político à principal
candidata do campo democrata desnudou a tática do GOP, reconhecida pelo próprio
Kevin McCarthy a segunda figura em importância na Câmara Baixa, e por
conseguinte não deixaria de colocar em posição favorável a combativa e temida
Hillary.
Em Las Vegas
Hillary voltaria a mostrar a disposição da candidata de 2008, quando foi a
única concorrente de peso do então Senador Barack Obama. A atuação de Hillary,
firme, alegre e determinada, a distinguiria dos demais candidatos, inclusive do
Senador Bernie Sanders, populista de esquerda, que teve atuação
discreta no debate.
No entanto, o
maior perdedor daquela noite não estava em Las Vegas. O Vice-Presidente depois
de na prática renunciar à campanha, a ela meio que voltara, movido por
sentimentos menos nobres, eis que a sua estratégia se fundava na previsão de eventual
malogro da candidatura da ex-Senadora por New York.
Esse óbvio
oportunismo - Biden sabia que a sua
'porção' de votos ele só a colheria às custas do enfraquecimento de Hillary
- representou um trunfo discutível para o vice-presidente, eis que marca o
oportunista parasitismo da respectiva candidatura.
Por outro
lado, a famosa e demasiado batida questão dos e-mails particulares parece ter afinal encontrado o seu caminho
para o rio do Letes. Este 'issue' crescera - como já me referi no blog - por causa de certa
displicência da pré-candidata, que,
enquanto concerne à essa questão, preferia valer-se, a exemplo das touradas, de
banderilleros e outros ajudantes
leves nas corridas (de touros), pensando desmoralizar as imputações através de
ataques superficiais e até desse mais denegrido expediente - que se recomenda
em particular, mas nunca para um grande público, que é a escorregadia dubiedade
da ironia...
Somente
quando Hillary se decidiu a lançar-se com a espada contra o tenaz touro do 'servidor de e-mails particulares' para
patentear a inanidade da questão, é que a sua alegada importância aos olhos do
grande público principiaria a definhar.
Na noite de
Los Angeles, reapareceu a candidata de 2008, com as suas respostas breves e
cortantes, sempre acompanhadas do domínio da questão e da disposição alegre,
mas firme e segura da tarimbada candidata.
O próprio
Senador populista de esquerda Bernie
Sanders e seu até hoje mais aguerrido rival concedeu a Hillary uma
inesperada dádiva ao declarar que 'o povo americano está cansado e farto de
ouvir acerca de seus malditos e-mails'.
Além disso, Sanders concedeu à pré-candidata um meio de isolar
ulteriormente a Joe Biden, se este, no futuro, tentasse valer-se da questão
para atacar-lhe o caráter.
Nas suas
intervenções, a ex-Secretária de Estado nunca mencionou Joe Biden, mas com
inegável habilidade Hillary pôs a nu o fato de que ela foi uma das poucas altas
auxiliares de Barack Obama na sua decerto arriscada escolha em resolver de forma definitiva o
problema de Osama ben Laden.
No dia
seguinte, reporter mais imaginoso lhe perguntou se o seu companheiro de chapa
estava presente no debate de Las Vegas.
Com o seu
riso iluminado de sempre, ela não negou que gostara da pergunta, mas não seria
a candidata atilada e experiente se não respondesse que preferia respondê-la no futuro, explicando - se tal fosse necessário - que
carecia de mais pensar no assunto...
( Fonte:
The New York Times )
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