Não é nada boa em termos de democracia e de
respeito ao Estado de Direito, a maneira com que o presidente da Câmara dos
Deputados, Eduardo Cunha (PMDB/RJ) está negociando com o PT e aliados o recurso
ao impeachment.
Pelo teor de
o que vazou das tratativas entre Cunha e o Governo Dilma, nos três principais
jornais (com as variações decorrentes das fontes acessadas, dadas as
características da matéria) são as seguintes as reivindicações do presidente da
Câmara, segundo O Globo: Em conversa
na última segunda, à noite, Eduardo Cunha pediu ao ministro da Casa Civil,
Jaques Wagner que: (a) o governo interfira nas investigações contra ele, sua
mulher e filha na Operação Lava-Jato; (b) que substitua o Ministro da Justiça,
José Eduardo Cardozo, pelo vice-presidente Michel Temer; e (c) que atrapalhe (sic) o andamento do processo contra ele
no Conselho de Ética da Câmara.
O que oferece
Cunha em troca? Acuado por investigação do Ministério Público suiço, ele
promete não iniciar processo de impeachment
contra a Presidente Dilma Rousseff.
Por sua vez,
a Folha afiança em nota de primeira
página (os termos referidos por O Globo, além de pequena nota indicativa em primeira
página, estão descritos em longa matéria na terceira página) que E. Cunha e o
Governo Dilma negociaram termos de acordo que (i) almeja salvar o mandato do
aludido deputado e (ii) evitar processo de impeachment
contra a Presidente Dilma.
Consoante
ainda a Folha, Cunha e Planalto avançaram nesta 4ª Feira catorze nas
negociações dos últimos dias. Nesse sentido, houve almoço de que participaram
Cunha e seus correligionários Michel Temer (também vice de Dilma) e o
Presidente do Senado, Renan Calheiros.
Definido
como 'armistício' pelo Governo, no final de contas fariam com que a
Administração Dilma e o PT evitem que chegue ao plenário da Câmara parecer que
pede a cassação de Cunha.
Esse
pedido, feito por PSOL e a Rede Sustentabilidade começaria a
tramitar no final de outubro no Conselho de Ética. Assinale-se que Governo Dilma, junto com o
PMDB, tem maioria para travar o processo entre os 21 membros do Conselho. É de
notar-se, portanto, que a tática do Governo é a de enterrar a questão, tática
essa a que recorrem em geral os culpados e o que vem um pouco a dar no mesmo, o
pessoal que se sente mais à vontade fora da lei.
O que
ganhará o Deputado Cunha? Ele deixaria
de tomar decisões, como lhe incumbe (máxime diante da magnitude da
questão) sobre pedidos de impeachment contra a petista presidenta,
inviabilizando a tramitação de processo que tenha o escopo de tirar a presidente Dilma
Rousseff do cargo.
Como êmulo do Cavaleiro da Triste Figura, só que a sua lança em riste batalha por objetivos
opostos aos do personagem da imortal criação de Miguel de Cervantes, dom Lula da Silva baixou em Brasília para tentar
articular a salvação de dois mandatos: o de Eduardo Cunha, do PMDB/RJ, no Conselho de Ética; e não por último, mas
sim como meta precípua a travação das aldravas que barrariam os maus desígnios
de noventa por cento do país, no que tange a essa figura que definha a olhos
vistos por conta da reação do Povo Soberano.
E não para
por aí. Lula da Silva quer que o PT se alie a outros partidos da
base, não para trazer luz ao processo político, mas para que o Conselho de
Ética barre qualquer intento de investigação contra Cunha.
Terá sido
por acaso que o presidente do Conselho de Ética, José Carlos Araújo (PSD-BA)
disse alto e claro que a votação do dito relatório deve ocorrer até o fim do ano
e que não haverá privilégios?
Não, caro
leitor, não errei nem quanto à data (que empurra para o fim do ano o exame da
matéria), nem quanto ao partido, que é reencarnação do antigo PSD dos tempos e
vividos da democracia da Constituição de 1946.
Que grande
homenagem a prestada pelo intemerato Kassab a esse novo partido. E vejam,
ilustres passageiros, que Lula e Kassab continuam empenhados na salvação desta
indizível contribuição à democracia brasileira - e verdadeiramente ao próprio
Brasil !
A continuar, caro Leitor, não só porque
a esperança é a última que morre, mas confiado em que não há mal que sempre
dure, nem desgraça que nunca se acabe. Fundado de que há limites na descida aos
infernos, e na indômita força do Povo
Brasileiro, reforcemos e apoiemos a gente do bem, que não tardará em manifestar o que lhe vai
n'alma, e que discrepa de postura tão distante da realidade.
Não é
possível que, diante de tamanho despudor, falta de qualquer vergonha e respeito
à ética, essa dança das trevas, em que a corrupção com o seu gesto impudente e
hediondo, possa continuar pensando e, o que é mais grave, agindo em
consequência, como se não houvesse barreiras para não só veicularem os seus
planos do mal, senão pensarem que continuarão a prevalecer nas suas mansões,
palácios e banquetes mil, onde a principal iguaria a ser servida pelos seus
lacaios é a carne da democracia e o próprio destino do Povo Soberano.
( Fontes: O Estado de S. Paulo, O Globo e Folha de S.
Paulo )
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