quarta-feira, 21 de outubro de 2015

O Ditador Maduro


                                       

         Enganam-se os aprendizes de diplomacia e seus subordinados, sobre a linha ideológica do sucessor do caudilho Hugo Chávez, o Senhor Nicolás Maduro. Transformado em apêndice do governo petista de Dilma Rousseff, o Itamaraty desde muito se curva e se acomoda em papel formal e secundário, que vai contra toda a tradição de serviço de nosso Ministério de Relações Exteriores, desde o Império e, mesmo quando existia em forma embriônica, na Colônia, sob a experta guarda do moço de escrivaninha de el Rei D. João V, o grande precursor de nossa Diplomacia, o santista Alexandre de Gusmão, que conseguiu nada mais, nada menos, que através do Tratado de Madri traçar os limites do continente Brasil.

         Mesmo na fase pré-agônica do governo de Dilma Rousseff, quem trata das relações com os companheiros da América do Sul é o Senhor Marco Aurélio Garcia. Ao Itamaraty, ficam as superficialidades, transformado que foi esse ministério - que, nem no tempo do regime militar, fora afastado do controle das relações externas - em mero implementador das decisões alhures tomadas. O que o militar não ousou - por ser carreira de estado como o diplomata - trataria alegremente o governo petista e já sob Lula da Silva, de encarregar gente sua para cuidar do Itamaraty, mormente quanto às relações com a América Latina. E sem qualquer discussão, se descartou a diplomacia de estado - a bússola de nossa multissecular caminhada - pela de partido. Ah, se Rio Branco e seus prógonos houvessem deixado de lado as questões de estado, os velhos mapas, e se pautassem pelo temporário das questões partidárias, outro seria o risco de nossas lindes, e bem diverso o respeito entre nossos muitos vizinhos pela diplomacia brasileira.

          Mas não é tempo de chorar sobre o leite derramado.  A fraqueza da diplomacia na era petista explica muitas coisas, como o silêncio do Itamaraty diante do flagrante desrespeito da democracia pelos governos chavistas, e mais ainda por esse ditador Nicolás Maduro. É verdade que a Venezuela no passado se marcou por longas ditaduras. O próprio Hugo Chávez, apesar de luores democráticos, breve se enredaria em espécie de populismo -  ainda que recorrendo a eleições não-policiadas. Com a regra das sucessões nos regimes autoritários, o chefe vira caudillo menos por carisma do que por decreto, como é o caso presente.

        Maduro, apesar de ter sido ministro do exterior antes, não tem muita queda por protocolo nem requisitos da democracia. Aqui, pensou mesmo forçar a porta de uma reunião de Dilma com a outra parte (a Guiana),  pensando fosse coisa natural.

       O Itamaraty, sob a mordaça petista, não se tem manifestado pelas inúmeras tropelias e desrespeitos flagrantes à oposição na Venezuela. É silêncio que pesa, e mais do que isso, mancha todo um passado em que a Chancelaria brasileira poderia até provocar comentários airados de seus equivalentes na América Latina, mas nunca o desrespeito. O que se fez com a Missão Aécio Neves já se enquadra nesse quadro lamentável.   Tal acontece sobretudo quando se deixa de lado o respeito às normas diplomáticas e se resvala para o nível do interlocutor.

        Que Maduro se permita agir dessa forma com a indicação do grande jurista e antigo Presidente do Supremo Tribunal Federal Nelson Jobim corresponde àquela velha imagem de que fantasma sabe para quem aparece. Se a Presidente Dilma engoliu em seco que missão oficial brasileira fosse destratada e vilipendiada como o foi, o Ditador Nicolas Maduro - que caminha com passo estugado para a lata de lixo da história - se tenha permitido agir dessa forma, vetando a sua designação para a missão da Unasul, a par de tentar colocar limites à ação dos observadores brasileiros nas próximas eleições legislativas na Venezuela, se não surpreende, deve ser registrado com as seguintes observações.

         Pela Venezuela o Brasil de Dilma Rousseff encenou um quase-golpe em forçado acordo com o Uruguai, para suspender o Paraguai - país também fundador do Mercosul, cujo tratado tem a sua Capital como designação - e dessarte fazer entrar nesse Mercado Comum a Venezuela, então sob Chávez. Hoje, depois do vergonhoso silêncio com que acompanha as relações do Poder chavista com a oposição, e o  número de prisões políticas que ali se praticam, cabe ao regime petista de Dilma Rousseff curvar a cabeça e aceitar a grosseira recusa do nome de Nelson Jobin para a inspeção das eleições.

         Dadas as intenções de Maduro tais tropelias podiam ser até esperadas.

         O mais interessante nisso tudo é que talvez breve, talvez um pouco além, o governo ditatorial de Nicolás Maduro caia por conta da própria ineficiência e da condição calamitosa a que levou a pobre população venezuelana, sem falar de suas constantes medidas que lhe vincam o traço despótico.

        A permanência desse senhor no poder é um peso para a economia, uma calamidade para a população, e um acinte às fantasias de respeito à democracia dos organismos interamericanos.

 

(  Fontes:  O  Globo, Grande Enciclopédia Delta-Larousse )

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