A maratona da audiência de Comitê
da Câmara de Representantes para interrogar Hillary Clinton sobre a tragédia de
Benghazi se estendeu por mais de oito horas, com duas sessões, pela manhã (com
início às dez horas) e tarde, alcançando a noite (cerca de vinte e uma horas)
de 22 de outubro corrente.
Presididos
pelo deputado da Carolina do Sul, Trey Gowdy, que não mostrou a tradicional
fidalguia sulina, os republicanos - nessa enésima convocação de Hillary -
mostraram claramente qual era o seu objetivo. O de instrumentalizar o mais
possível o drama da missão em Benghazi para tentar extrair o máximo de proveito
político com o eventual desgaste de
Hillary Clinton. Salta aos olhos que o exercício - como de resto o sublinhara
anteriormente Kevin McCarthy, líder da maioria na Câmara, um dos republicanos mais categorizados (considerado inclusive
para suceder ao atual Speaker) - é a instrumentalização do desejo do GOP de
valer-se desse incidente diplomático para prejudicar no que for possível a candidatura
de Hillary à presidência.
Durante todo
o exaustivo exercício, Hillary manteve a calma, a despeito de quesitos de
inusitada agressividade, dentro do espírito de visceral antagonismo que preside
às relações entre os dois partidos, e de forma ainda mais acirrada na Câmara.
O escopo dos
membros do GOP era o de tentar demonstrar que a então Secretária de Estado fora
omissa no cumprimento de seu dever de ofício. Dentro de visceral assunção do
espírito promotorial, tentavam sempre fazer com que ela perdesse a compostura.
As sete investigações anteriores não bastaram para que a fúria inquisitorial
dos promotorzinhos republicanos
chegasse mais composta a essa nova escala do interminável processo.
Eles
dispuseram de um dia inteiro para investir com perguntas capciosas e
agressivas, no esforço de fazê-la cair em contradição. Fruiram, inclusive,do bônus de suplementar da audiência ter sido
televisada para toda a Nação americana. Não contaram, todavia, com a
circunstância de que Hillary é uma
calejada parlamentar. Por isso, ela não perderia a oportunidade de responder
aos seus mais ferozes críticos, além de valer-se da tribuna congressual (o que
não fazia desde princípios de 2013) para dar detalhadas explicações dos seus
esforços diplomáticos nas principais esferas mundiais como Secretária de
Estado, assim como de sua ação específica no caso, antes e depois do ataque à
missão em Benghazi.
Os
republicanos voltaram ao ataque - a despeito de ser um tópico já demasiado
batido - no que tange à questão do uso por Hillary do servidor privado de e-mail. Em acalorada intervenção,
Hillary Clinton explicou pela enésima vez que tinha cometido um erro no uso dessa
conta de servidor privado de e-mail,
mas asseverou - confirmando observações anteriores - que ela nunca tinha
enviado ou recebido qualquer comunicação marcada como classificada
(confidencial). Para mostrar a sua boa fé na matéria não trepidou em pôr à
disposição do público todos os seus
e-mails transmitidos pelo dito servidor.
Também
foram rejeitadas por Hillary as acusações dos republicanos que ela houvesse
ignorado as necessidades de Benghazi em termos de segurança nos meses
anteriores ao ataque de Benghazi. Os deputados democratas no Comitê em suas
intervenções descreveram os republicanos como líderes de uma cruzada partidária
contra Hillary, enquanto esses últimos raivosamente inculpavam os democratas de
tentar bloquear o inquérito do GOP, máxime por causa de supostas falhas graves
na segurança.
Se a
facção republicana tentou comprometer Hillary com o fato de enviar e-mails para o amigo da família Sidney Blummental (de que Obama
bloqueara a nomeação para integrar o Departamento de Estado) e não haver e-mail seu para o embaixador Christopher
Stevens, dada a maldade da acusação,
Hillary disse que não ficaria sentada em silêncio, enquanto o presidente
do Comitê, Mr. Gowdy, tentava atacar-lhe a reputação. Foi um raro momento em
que Hillary perdeu a calma, e foi bem dosado, dado o exagero e a falta de
respeito em que incorrera o chefe do dito comitê. Na maior parte do tempo, porém, Hillary
conservou o perfil de autoridade e compostura. Já na sua declaração inicial, a
ex-Secretária de Estado apelara para o Comitê que mostrasse espírito de
estadista "num inquérito que já se
estende por muito tempo".
Alternando a atitude entre irônica e admirada, mas não deixando entrever
irritação ou raiva, ela recordou em várias ocasiões a coragem do embaixador
morto, J.Christopher Stevens e de
seus três colegas mortos na missão.
Como é
de esperar-se, de novo Hillary assumiu a própria responsabilidade pelos ataques
nos quais os quatro americanos morreram, mas reiterou por mais de uma vez que,
enquanto Secretária de Estado, ela não aprovara ou denegara solicitações de
segurança extra na missão de Benghazi. A esse propósito, ela asseverou para os
funcionários do inquérito na matéria que os Estados Unidos da América não deve
recuar diante de diplomacia afirmativa
(assertive) por causa do incidente de
Benghazi. Por isso, para ela, a retirada não é uma opção.
A
respeito da acusação de que teria contribuído para a morte do Senhor Stevens,
um amigo pessoal, ela a qualificava como 'pessoalmente dolorosa' e
'profundamente acabrunhante'.
Nesse contexto, a Senhora Clinton censurou o governo pelo malogro de não
realizar uma busca bipartidária da verdade. 'Isso foi o que aconteceu durante a
Administração Reagan, quando o Hezbollah
atacou a nossa embaixada'. No mesmo sentido, a Senhora Clinton aludiu a
inquéritos bipartidários conduzidos nas Administrações Clinton e George W.
Bush. Gostaria de voltar a esses tempos, disse ela.
O
Senhor Schiff acusou ao final os republicanos de adotarem uma espécie de
promotoria contra a Senhora Clinton, no intento de prejudicar-lhe a campanha
presidencial. Para ele, a teoria básica dos republicanos é que a Senhora
Clinton interferiu de modo deliberado em Benghazi
e tal resultou na morte de pessoas. Sem embargo do fato de que as muitas
investigações não hajam encontrado nenhum mérito nessa tese, é esta a impressão
que, apesar de tudo, eles querem deixar.
Ao
final, a senhora Clinton reiterou: (Stevens) não levantou o tópico da
segurança com os integrantes de meu
gabinete, pois ele tratou de segurança com o pessoal dela encarregado. Se ele o
tivesse levantado comigo, estaria dizendo para você que ele o havia feito.
( Fonte:
The New York Times )
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