Quando em Roma, visitei o que
hoje resta da quinta de Horácio, poeta do século de Augusto, que viveu de 8.12.65
a 27.11.8 a.C. Na época, impressionou-me o pouco que sobrara de sua residência
campestre, nos arredores da cidade eterna. Alguns canos e uns poucos alicerces,
se tanto.
Há muitas
expressões que dele ficaram, além de suas odes, mas de toda maneira choca o
quão pouco reste da passagem dos séculos. Contudo, se nos detivermos um
instante, veremos que aquilo que o distante passado nos guarda constitui
capricho do destino, em que a deusa Fortuna nos mostra a sua pétrea
indiferença.
De todo
modo, Horácio, com o patrocínio de Mecenas, está entre os grandes da literatura
do ápice romano, sob Augusto imperador. Filho de escravo liberto, é comparado a
Virgílio na poesia, se bem que os gêneros difiram.
Dentre as
frases - ou pepitas - que dele restam está auream
mediocritatem. Significa não o que parece à primeira vista, mas o áureo meio-termo.
Horácio,
com sua figura bonachona, nos transmite a lição do bom-senso, e de manter - no
conselho de seu distante sucessor Drummond - a boca
presa, se figuras de autoridade estejam por perto.
Pois o
também poeta Ovídio (Publius Ovidius Naso)
e seu contemporâneo, foi banido da glória da sociedade romana para o fim de
mundo de Tomi, no Mar Negro, por ter escrito algo que desagradou ao Imperador
Augusto. De nada serviram para os moucos ouvidos imperiais, os seus lancinantes
apelos.
A
diferença na sorte costuma ser ponto a lamentar-se a posteriori, desgraçadamente demasiado tarde para pender na
balança.
Com o
drama do impeachment a desenrolar-se
diante de nossos olhos, não faltarão
ocasiões a Dilma Rousseff para lamentar-se da sorte madrasta, embora, dados os
degraus que galgou, parecerá sempre questão controversa se se deve no caso mais
deplorar da fortuna e do bom senso, pela circunstância de acaso ter afrontado
por demais a deusa Tuxé.
Nesta
altura, a sorte de quem se intitulava a Presidenta semelha estar mais para
Ovídio do que para Horácio.
Mas em
toda estória inacabada se reserva um largo espaço para dona Esperança. Enquanto
as portas não se fecham, as urnas não se cerram, haverá sempre a pausa da esperança, que é esse lenitivo
indisponível nas farmácias, mas sempre à mão, com o seu sorriso indecifrável e os
seus cuidadosos, maneirosos gestos. Esses, é verdade, mais enganam do que
acariciam.
Diz o
Povo que ela é a última que morre, eis que vai enlanguescendo e até definhando
aos poucos.
Mas o
pior do Fim é que não o anunciam de antemão. Chega de sopetão, como a notícia
ruim e madrasta dos infernos, dizem, bem no meio da Noite.
Engraçado, é que pouco antes, por artes sabe-se lá de quem, se instalara
um estranho, pressago silêncio. E dona Solidão estará sempre de plantão nessa
hora azíaga para muitos.
( Fontes: Horácio, Ovídio e Drummond )
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