Entrevistando Paul
Krugman, Prêmio-Nobel de Economia, a Folha marca um tento. Trazer o colunista do New York Times à Entrevista
da 2ª é um achado. Menos, por vezes, pelas ideias que apresenta, mas também
pela própria diversidade e seu implícito convite para ler mais.
O importante no
caso é que o intelectual americano, sendo natural debatedor de ideias, dá por
vezes mais importância à oportunidade de discuti-las e, dessarte, difundi-las e
provocar ulteriores discussões.
Quanto ao
Brasil, por exemplo, o problema de Krugman não é tanto que a análise seja superficial,
mas em alguns contra-exemplos, nos quais o articulista da New York Review dá a
impressão de problemas de localização geográfica: "A situação fiscal não é
desesperadora e o país está longe de um momento em que precisaria imprimir
dinheiro para pagar suas contas."
Falta na entrevista
a visão pró-ativa: " Houve, sim, impacto da queda dos preços das commodities, e isso é
significativo. Mas o Brasil de 2015 não
é a Indonésia em 1998, nem a Argentina em 2001. É um problema, é desagradável e
um pouco humilhante se ver nesta situação de novo. Mas as pessoas estão
exagerando."
Apesar de
construir aviões, o Brasil continua a ser o país das matérias primas. Começou
com a madeira e o pau-brasil (corante), e, nos séculos seguintes, açúcar e
café. Descobre o pré-sal na antecâmara em que essa exploração se vê ameaçada -
pelo menos temporalmente - pelo alto custo da explotação do petróleo em tais
profundidades, o que veio dissipar muito oba-oba
no Congresso e no que oferece mais combustível fóssil em mundo ameaçado pela
crise do meio ambiente.
Não é tanto a queda nos recursos hidrícos
e na energia barata das grandes usinas do século XX, quanto à falta de política
de estado para valer na tecnologia solar, eólica, e orgânica como saídas para o
grande desafio, e o consequente barateamento da empresa Brasil. A inépcia do
governo petista que constrói portos magníficos em Mariel, Cuba (para o qual
enxameou todo o ávido chavismo) e nada tem a apresentar nesse setor no Brasil,
onde seria bom que diversificássemos.
O Brasil se tem
notabilizado em passado recente pelos enormes ministérios semelhantes à caverna de Ali Babá, e com o
mesmo propósito. O PT construiu máquina estatal que tira toda a
flexibilidade do Governo e se caracteriza apenas pelo aparelhamento do Estado.
Aqui não se pensa - ou não se pensava, na versão otimista - em servir-se de
idéias modernas para ativar a economia. Aqui o PT pensa nos gastos correntes, e julga que pelo seu
peso e falta de manejabilidade (além de seus altos custos) ele poderá garantir-nos
a respectiva presença no mando. O PT, ora
em processo de decomposição,
nunca pensou em crescimento econômico do Brasil em termos de resposta para a
crise do país e a continuada dependência no agro-negócio e nas economias que
são mais suscetíveis às condições secundárias da matéria prima.
Nenhum país enfrenta impunemente a magna
empresa de segunda década voltada para o assistencialismo. Nesse contexto, não surpreende que a corrupção se espraie. O
próprio rudimentarismo do Petrolão é forte indício de fase
econômica que se limita ao mercantilismo.
Falta grandeza à sua liderança pela razão simples de que ninguém pode
dar o que não tem. Na sua falta de imaginação, a chamada elite petista apenas arremeda
o projeto que foi mexicano, que se baseia na sagrada união do sindicalismo (tanto político, quanto obreiro) com
a corrupção.
Essa
cultura nefasta que se distingue pelo superficialismo, artificialismo e
descarado oportunismo, o que pode nos oferecer senão o panorama alentador da desertificação (à conta do agro-negócio,
que tem toda razão em considerar-se herdeiro secular do Brasil, dadas as suas
contribuições para o desmatamento e a chamada vanguarda do atraso)?!
Falando em
corrupção, a contribuição petista tem sido
comovente, abrindo inclusive novas avenidas em África e até nas Europas. Pelo menos não mais se fala na Europa curvando-se
outra vez diante da cultura brasileira. Esta entrementes floresce na anti-sucessão
de Premios Nobel, e em literatos como
Paulo Coelho... No lado supostamente positivo, a nossa industriosa habilidade
em trazer grandes eventos para o Brasil. Por enquanto, essa divulgação tem
mostrado o alcance do trabalho dos governos e elites brasileiras. Ainda na verdade não conseguimos avançar contra
a poluição do meio-ambiente, dada a manifesta insalubridade da Baía de
Guanabara, que vai transformando a essa antiga maravilha em grande depósito de
lixo aquático e sobretudo sub-aquático.
Éramos o
país do futebol e do carnaval, mas pelo menos
nesses grandes fenômenos populares compareciam a simplicidade e a
originalidade. Já em 40 e adjacências, Carmen Miranda com o seu turbante de
frutas naturais soube exportar para Hollywood a funda naturalidade do artista
brasileiro. Por felicidade, o quadro se completou com Zé Carioca, o brejeiro
periquito e mortal obra de Walt Disney...
No
entanto, depois que as Olimpíadas passarem, e o seu organizador for alçado aos
palácios de Brasília, para ali iniciar nova carreira, gostaria de saber qual
será o produto dos seminários que se convocarão para discutir os diversos
aspectos da aventura olímpica, que há de terminar, esperemos, com o ingresso
triunfal de Pindorama no turismo universal.
E com os
meus agradecimentos a Mr Paul Krugman, pelo aparte
concedido... despeço-me hoje do amigo leitor.
( Fonte: Folha de S. Paulo )
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